ACORDES DE SONHOS,
por João Maria Ludugero.
Sob a mira do interior, os passarinhos cantam...
Longe os escuto, mas os trago aninhados no meu coração...
O horizonte azul só é o nicho de um novo porvir,
se o povoamos em acordes de sonhos.
Na penumbra da noite escura, estrelas cintilantes o guardam...
Nos dias de chuva, o esplendor de um arco-íris o revela...
Tecer sonhos é cavar na lida o alvorecer de um novo tempo...
É preciso sonhar... É preciso lutar...
Sonhar, lutando é navegar, a correr dentro e alto, sem medo da cuca.
Navegar é viver na loucura de ser e estar, na necessária peleja
buscando, dia-após-dia, um sorriso além...
Além do suor e das lágrimas salobras.
Além do tédio e do desalento... há um disparado sorrir,
Um sorriso tecido de palavras e silêncios... Rio a desaguar
de cantos e poesias... de travessuras, travesseiros e travessias...
Um sorriso levantado pela vida que é feito de alvoradas, de amanhãs
que desejam quebrar o relógio e renasceram no aqui e agora do nosso tempo...
Nosso tempo é frágil, volúvel e cruel...
Outros tempos teimam e almejam a poeira do mundo,
as pedras do caminho, pois, sonham com a vida transformada...
Outros tempos querem ser paridos...a contento.
Um tempo de ternura e não-violência...
Um tempo de solidariedade e justiça social...
Um tempo de trovas, serestas e cantigas; campinas floridas
e riachos cantantes no caminho onde água, terra, fogo e ar
perambulam para o mar abraçando e triscando
a incendiarem de sonhos o horizonte azul...
Viver é perigoso, canta o poeta João Ludugero...
A vida endureceu, petrificou-se e, demente, agoniza...
Disseram e acreditamos: no poder absoluto do agora...
Mas, ninguém vive alijado do canto das manhãs
que são profecias encantadas do amanhã que engravida a vida,
sendo, contudo, abortados pelas cinzas que eternizam as dores do presente,
excluindo do horizonte as estripulias da História...
Deixemos a vida seguir para o mar...
Abramos as cancelas do destino...
Sonhemos. Lutemos... Acordemos.
Naveguemos: navegar é preciso...
Embora, não baste navegar à deriva...
Naveguemos, cultivando no hoje os brotos do amanhã...
Assim, seguiremos... Seguiremos sabendo que sonhamos
e lutamos por um outro mundo possível...
Pois, já não conseguimos viver sem o cais da alegria geral...
Alegria que se achegue na primavera de todos
e para todos os acordes de sonhos inenarráveis...
Só, assim, a vida deixará de lastimar pelos sonhos
que lhe são diuturnamente furtados... Acorde e lute,
avante! Ainda há chance!!!
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