UM PÉ DE CARAMBOLA
(Em memória do Tio João Pequeno),
por João Maria Ludugero.
Lá no Itapacurá da Várzea
De fronte a antiga casa
Que animava o menino
A luz do sol amar-elo
Tocava sua copa rasa;
Trazia no verde à salva;
Despertava bem-te-vizinhos,
Que saíam em revoada
Pra mais um alvorecido dia;
E o pé, de sombra e ar puro,
Fincava-se na lida ensolarada...
É verde a doce lembrança
Da planta cheia de vida
Frondosa e toda florida
No tempo da floração,
Era quase um pilotão
Repleto de soldadinhos;
Lá tudo que era passarinho
Repousando em segurança,
Onde nenhum alarido alcançava,
Afora as estripulias daqueles afoitos
Meninos todos levados da breca...
Era bem um arbusto encantado
Com flores em tom violeta
Que o voo da borboleta
Tornava mais vislumbrado;
Já o seu fruto estrelado,
Verde-amarelo em canção,
Formava a constelação em prosa
Em estrelas de carambola;
E adocicava à beça
A vista e o coração!
Mas de fronte a antiga casa
Onde se espairecia o menino
À beirada do seu destino
Hoje o sol o sítio abrasa
A vida tem outras asas,
As paredes o tempo limou,
E a saudade grita sem alerta
Feito uma verde-musguenta gaiola
Onde um pé de carambola,
Ali, nunca mais florou a contento,
Depois de aflorada a lida em adeus
Do inesquecível tio João Pequeno!
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