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sábado, 31 de março de 2012

O HOMEM POR INTEIRO

Hoje não tenho vergonha
De dizer que choro. E choro mesmo!
Não me importa o pensar torto
De outrem a dizer que é sensível 
O homem que gosta de flor.
Elas me fascinam, as flores.
Eu dou o braço a torcer,
Confesso: quando preciso, 
Debulho-me em lágrimas.
Quando sinto saudade, 
Marejo os olhos ao cair da tarde. 
Eu me assumo: sou poeta!
Eu gosto da vida. Eu sou de carne e osso.
Eu tenho um coração que sente. 
Nunca minto pra mim mesmo:
Se carecer, boto a boca no mundo
E choro, doido por um cafuné.
Choro por um dengo, por um beijo
Pra curar meu coração machucado.
E funciona: Acabo menino de bem com a vida
A cavalgar pelas calçadas da rua grande,
Querendo roubar um pingente de lua
Só pra enfeitar teu colar de prata 
Feito homem inteiro a correr
Num galope rasante a encostar
Minha vida na tua, sem medo
De que tudo venha desabar amanhã,
Ao desapear da tal burrinha da felicidade!

quarta-feira, 28 de março de 2012

AO DEUS DOS PAVÕES

Que maravilha
é poder estar cercado
por todos os lados 
de tamanha beleza 
Que Deus nos dá 
à vista, de presente
dia-após-dia, 
desde o alvorecer. 
Pena que muitos continuem 
a dormir na vida, 
e não percebam 
assim o esplendor
que se realiza 
fora da ilha,
além do teto 
a céu aberto,
a se levantar com o sol 
só pra enfeitar a trilha 
que se meneia 
em acordes! 
Há muita coisa bonita 
a enfatizar a obra-prima 
arquitetada pela Suprema Realeza.
Depois de tantos sóis e luas, na lida,
ainda assim 
não se pavoneia 
o Criador
diante do engenho 
das graças 
de Sua Alteza!

segunda-feira, 26 de março de 2012

ARAUTO

E de repente, 
Encontro-me nu
Diante da lida, descalço,
Poeta do dia a dia, crédulo,
Sem carecer de, 
Em hasta pública,
Levantar paredes de ilusão!
Mensageiro calçado 
De sonho e de poesia,
Vestido de letras, suor e peleja,
Não perde a graça de voar, 
Voar alto pelo chão de dentro 
Até se proclamar solene 
No que apregoa o coração!
Alma inquieta, despertai!
Alavanques o sorriso que meneias,
Pronuncies teu verbo arteiro em riste,
Tua postura  avassaladora.
Abrandas em mim 
O que escarna a pele,
Fazendo escorrer 
Bem em minhas veias 
O sangue azul da poesia
Que nasce em dores lentas 
E viscerais.

domingo, 25 de março de 2012

APASCENTARES

Estou em minhas mãos,
Linha por lida, 
A cada traço e anseios 
A minha sina vai-me revelando: 
Com versos devo andar por uma trilha; 
A poesia deve ser a minha meta e meio.
Estou com os pés no destino, a partir
Do que escrevo, ao espalhar apoteoses, 
Manifesto-me em verbo ávido aos ferozes 
Olhos desse menino metido a poeta, 
A cometer loucuras e outros devaneios.
Aliado às palavras latentes
Que tanto me apascentam
E não só me levam a seguir animado
Com o entretido brilho dos pulsares,
Mas me ajudam a tanger meu rebanho
A caminho das estrelas. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

NARCISO, A OLHO NU


Narciso seca os olhos
De tanto observar o espelho 
E o que vê não mais o completa.
Apenas se entristece, desajeita-se, 
Em face da miragem imposta
Que contempla a olho nu
A verdade dia após
Dia não é 
Aquela que se mostra,
A que ora se se apresenta, a feita 
Dentro da moldura, está por fora 
A que custa ser aceita, 
Mas não é a que o agrada. 
Posto que se acha quase sempre a fingir,
Quando se espia, reclama, rejeita-se, 
Entediado que só vendo.
Não quebra o espelho, a contento, 
Mas sai furioso em busca de outro ser, 
Além do desnortear da rosa dos ventos,
Ele só mergulha fundo na mentira
Como alimento pr'o seu passatempo.

PLÁGIO



Teus olhos azuis,
Ou que fossem castanhos,
De qualquer modo, de cor 
Eles me azulejam um horizonte
Que, cego, antes não enxergava
Na cadência fagueira dos meninos
Brincando de improvisar a tal felicidade
Correndo com os carneiros na tarde amena. 
Tua boca esperança a minha boca reverdece
Deixo-me levar por espirais de magia 
Quando me atiro na piscina dos olhos teus 
E são tantos sabores no céu do meu paladar...
E quando te acho, sou rio, riacho-me,
Perco o medo de me encaixar no mel
Dentro do teu sorriso de ver Deus
Que não sacia minha sede de nuvem diante do mar.
Como uma sombra no ar, avanço aos favos
Os aromas se dispersam em lumes incabíveis
Eu me disperso...vaporizo intenso, ávido.
E assim mergulho inteiro em tua boca arteira
Como tatuagem a rasgar a pele ao sal do suor
Te sinto ardente, e consentido te plageio!
Como louco, afoito e aceso candeeiro.

quinta-feira, 22 de março de 2012

ACORDES


Em claro esta noite 
Vou correr alto 
Dentro do coração.
Depois de tantas luas,
Quem sabe eu ainda agarre 
A manhã que já chega ao interior.
Disseram-me da cor do rio, dos musgos 
Que reverdecem nas ribanceiras.
Mas quero chegar ao mar, 
Quiçá numa manhã de março,
Orientado pela estrela D'alva. 
Meus acordes não são só um sonho infindo. 
Um dia vou acordar com o sabor 
Do mar dentro dos olhos.
Vou querer andar 
Com as estrelas do mar
Vou correr na crista da onda... espumante.
Vou correr até voar, voar 
Na cadência das estrelas. 

terça-feira, 20 de março de 2012

ADEUS-SE

No assovio do vento, 
o canto da cotovia.
Vai-e-vem, um lenço afoito,

borboleteia
cheio de lembranças partidas.
Um breve adeus,
não entardecido,
ainda rutila
guardado
de sentinela,
alerta
por dentro
do peito ávido,
feito promessa
ao céu aberta
a esperar efeito!

segunda-feira, 19 de março de 2012

KIRO EM FLOR

Não é segredo,
há algo de
sagrado
na poesia de Kiro.
Em cada pétala
de seu bem-querer
há néctares de orvalhos
deixados pelas estrelas
da manhã que se desatam
em águas de lua e dádivas,
em palavras serenas
a banhar a alma da gente
de todas as pratas.
Na poesia de Kiro
Há melodias e acordes
de sonhos e afagos
que colorem a vida
em tantos goles de amor,
em sabores de amoras
e outros bálsamos propícios
desses assim bem apanhados 
dentro do regar
para reverdecer.
Kiro é tal qual um pássaro
que traz a chuva
só pra não deixar
o estio queimar o viço 
das folhas da lida.

domingo, 18 de março de 2012

TRANÇA EM FLOR VERMELHO FERRARI

Impossível não notar, 
a varzeaninha a correr 
por entre pirilampos, grilos, 
emaranhada entre flores de maracujá, 
pés de goiabas encarnadas, juncos, 
mariposas, sapos a coaxar, 
flores de cactos 
e a noite que se refugia 
no breu de suas tranças
dentro da inquietude 
da Várzea das Acácias,
na magia que beira o açude do Calango, 
no desabrochar de desfile de acordes 
para sonhar advindos da beleza brejeira 
que sobressai do sorriso daquela moça faceira 
vestida de chita de flores miúdas, acesa,
a evolar suave perfume de alfazema,
contando com uma espetacular flor 
vermelho Ferrari frisada no cabelo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

SIMPLESMENTE NANUCA, UMA MULHER DE CIRCO

Dona Nanuca, 
Mulher do palhaço Palito,
Destemida senhora do circo,
Mãe do Bira e do Piaba, 
Dentre outros filhos e netos.
Grande amiga, mulher de fibra, de pulso.
Varzeana, guerreira de luz, convicta,
Gente-gente da gente muito bonita e decidida,
Dona de grande amor pela vida. 
Nanuca, com ela muito aprendi acerca de equilíbrio
Com seu exemplo de bondade, esperança e Fé. 
Nanuca, uma das pessoas mais ricas
Que já conheci. Rica, sim senhora!
Além de corajosa e batalhadora, sempre.
É verdade: A vida é mesmo um picadeiro, 
Uma caminhada repleta de malabarismos, 
De acrobacias, de altos e baixos, de surpresas,
Em que vão ser dados um sem fim de passos, 
Que quando se puder olhar e ver todos, 
Num toque de mágica, antes de fechar a lona, 
Que seja com um brilho na nuca, advindo dos olhos,  
Num sorriso de paz e de um amor construído e realizado.
Porque temos de passar a cena 
Fazendo o ato valer a pena.
E esta senhora é digna de aplausos,
Diante do espetáculo que foi e que é sua vida!
Meu carinhoso abraço, 
Nanuca guerreira!

quarta-feira, 14 de março de 2012

MÁSCARAS

Há máscara que impregna
de tanto ser usada, 
que acaba por se afixar, de jeito,
roubar a face, ser uma segunda pele.
É preciso coragem para não ser possuído,
dominado pelo olhar da mentira aderente
que está por trás de tal artefato.
Alguns escondem rugas, 
outros o medo da dor,  fingem fugas
do amor que não mais se sente, 
a agonia diante da solidão. 
Outrem encobre a paixão
que diz continuar sentindo, desesperado,
e ainda há os que se deixam cair com a máscara.
Há criaturas que vivem dependuradas
em aparências, agarradas ao 'já morreu'
do brilho que nunca viveram. 
O pior vem quando despencam essas máscaras,
e as caras ainda assim se empertigam na pose, 
sentadas na próxima boulangerie, 
tomando chá das cinco com biscoitos finos, 
pura massa podre.

terça-feira, 13 de março de 2012

MALEMOLÊNCIA

Com destreza,
desnude-se.
Mexa-se,
cante e dance.
Faça seus planos,
preencha seus vazios
empertigue-se,
levantes-se,
com maestria
sorria desperto 
entre seus lumes. 
Cresca, habilite-se
a partir de sua poesia.
Deixe seu tamanho horizontar-se, 
margeie o céu, dentro e alto.
E que o céu não seja seu limite.
Depois, não se arrependa,
pois tudo amanhã será só  
desmanche, podre e pó. 

segunda-feira, 12 de março de 2012

ÉDEN

Algo que me anima 
a tecer poesia,
que tanto me assanha
todas as manhãs
é acordar cedo 
já sentindo na boca
teu gosto de maçã,
teu cheiro e artimanhas
a me seduzir inteiro, 
tuas exóticas manhas
a exorcizar meus bichos,
a quebrar falsos espelhos
a me captar a alma oca,
a me mostrar a cor do pecado
mais dentro do que fora
do paraíso.

domingo, 11 de março de 2012

JUÍZO

Ser outra vez palavra 
deste mundo que finda
ser outra vez cera a colar as asas
desses Ícaros por cumprir pena ainda
ser outra vez do pecado 
a permissão que não veto
ser outra vez deste céu 
solta nuvem no azul
ser outra vez deste chão céu aberto  
ser outra vez da bateia 
a pepita de ouro, o diamante 
ser outra vez afinal 
quem nunca soube 
se achar em terra nua
ser da manada a corda 
que arrebenta o estouro
ser mais que ser do/ente 
antes do ter juízo 

sábado, 10 de março de 2012

LOUVA-A-DEUS

Como fugir de tuas patas 
Assim unidas a rezar
Eu sei que corro perigo
Vulnerável assim disposto
Posso perder a cabeça 
No tempo de te beijar.
Vais mastigar a esperança
Depois de no clima entrar,
Sou teu macho seduzido
Louco, lúcido, sem juízo,
No ponto de acasalar.
Valei-me Deus, eu imploro,
Com os olhos esbugalhados
- Se é pra morrer de amor,
Deixa-me ajoelhar, de súbito,
Estou pronto à devoção,  
Com as mãos viradas aos céus
Para a crença ganhar força
Na hora de a Deus louvar.
Estais aí de sentinela, 
Toda fagueira a se lamber;
E eu, a consentir o estrago,
Todo  fogoso e afoito
Pra que me devores inteiro,
Nas garras do bel-prazer!

sexta-feira, 9 de março de 2012

CHUVA



O tempo fecha o céu
A nuvem é toda tromba
A água cai, cheia do azul,
Torrencial...
O pensar borboleteia na chuva
Um peso da gota
Não o torna leve, mas penso.
Me debato em saudade
A alma embaça a vidraça.
Fico assim, troncho ao léu,
A marejar meus olhos de menino
Depois de muitas luas,
Depois de muitos sóis.
Mas, como chorar,
Se homem não chora?
Ledo engano! Choro, sim.
É para lavar meu peito.
Mas não espero
Que a chuva mate minha sede.
Vou bebendo o horizonte
Em goles humildes,
A tempo de a lágrima serena
Não me secar ao raio repentino.

quarta-feira, 7 de março de 2012

VOVÓ ONÉLIA


VOVÓ ONÉLIA 
(Poema que fiz para a inesquecível Vó dos Amigos 
Janilson Carvalho e Janilza Bertuleza)

E la vinha dona Onélia Rosa
com sua sombrinha a se guardar do sol,
com sua tiara a coroar a cabeça
e o cabelo arrumado, grisalho, 
trazia consigo o tempo da Várzea,
sempre renovado em esperanças.
No rosto, as marcas da experiência
de uma vida de beleza nata 
toda estampada pelos anos. 
E era tão bom ouvir seus 'boas tardes'.
Trocávamos poucas palavras, 
mas o silêncio da sua presença me bastava. 
Era algo sagrado de admirável doçura 
estar diante daquela Senhora tão modesta, tão rica. 
Lembro-me das vezes em que 
ia ao sítio visitar 'Vó' Onélia. 
De manhã eu tomava o leite quentinho, 
recém tirado da vaca, 
e comia os pães caseiros 
que só ela sabia fazer. 
Meu respeito por esta senhora era tão grande, 
que eu chegava a lhe pedir a 'bença', 
mesmo sabendo não ser seu neto, mas me sentia 
assim como se fosse da família 
de Seu Raimundo Rosa.
E era tão bom ouvir ela dizer: 
"Deus te abençoe, meu filho"!
Dona Onélia era aquela criatura tão encantadora
que faz você ter vontade de envelhecer igual.
Sem contar que ela com suas rezas fortes 
tanto benzia como desvendava objetos perdidos,
curava espinhelas caídas, ínguas e quebrantos.

PERFUME DE LUA

E assim, atento,
Depois de muitas luas,
Alvoreço, adentro sol amanhecido
Na certeza do dia que ressoa luz 

Em versos sem rima, oportuna travessia.
De mim outros tantos que se foram,
Em quantos hei de vir pelo vão da lida?
Com tesão escrevo alegria,
Uno versos que não traço,
Deixo-os soltos a buscar azo.
E num átimo, deleito-me em brincar
De ser íntimo da poesia em gozo a pulsar.
Exclusivamente por hora apenas peço à lua
Que se achegue mais perto,
Preciso domar meus dragões.
E ela me atende, vivaz, crescente e cheia,
A invadir capilares, veias e coração.
Dá até pra sentir seu perfume a me incendiar!

segunda-feira, 5 de março de 2012

PENAS



Se caiu uma pena do meu poema, que pena!
Ela se foi com o vento longe
Foi brincar de surfar noutras alturas.
Uma palavra aliada ao verso,
Uma aventura sem rima em cena, 
Uma estrofe ganhando horizontes.
Lá se foi minha dor, que pena!
Saiu de mim, descolou ao sol,
Mas deixou minhas asas mais leves, 
Foi brincar noutro azul de gangorra
E no vai-e-vem do balanço do céu.
Lá se foi minha pena, ao léu!
Saiu de mansinho faceira.
Desapeguei-me sem dó, de súbito,
Pois sei que ela não vai mais voltar.
Resignado, continuo na lida, atento, 
Ainda sou criança, quero tecer outros poemas.
Quero brincar, quero soletrar outras linhas 
E, nas entrelinhas, mudar minha sina.
De sorte, ganharei outras penas, 
outras cores, outros ânimos... búhhh!!! 
Que venham outras penas, afinal
Outras nascem no lugar,
Sem desesperança.

ASSOBIO



Minha cara ganhou lume novo
Quando o medo correu de mim.
Minha coragem anda contente,
Sigo reverdecido. 
Não mais careço
De intensivos cuidados.
Minha esperança chegou renovada:
Consigo lidar com a cuca, de pronto 
Até recuperei meu bom humor 
E  fujo da rotina das horas 
Ao voar junto num assobio.

sexta-feira, 2 de março de 2012

enCUCAdo



Meu amor é candeeiro
Que arde em labaredas,
Vive aceso em mim
Desde muito cedo arteiro.
E tarde é apenas uma palavra 
Que não escurece nada,
Porque quando chega a penumbra
Há vasto clarão no peito
Desses que bastam alumiar
Que ofuscam quaisquer medos,
Porque meu Amor encanta dores
E tece cantigas pra me ninar
Toda vez que a cuca pega.

quinta-feira, 1 de março de 2012

AMULETO DA SORTE

Atrevo-me a escrevinhar palavras 
que destravam a alma que escavo
além das linhas da minha mão
além das palmilhas da sorte 
que chega sem avisar na lida, 
quando me acho no quintal 
à cata de um trevo de quatro folhas.
E assim emanam verbos consentidos, 
letras foragidas depois de muitos sóis, 
lumes desertores das sombras dos dias de eclipse.
A desesperança desaba por fim, 
haja vista a eclosão da crisálida que desperta, 
que se abre à dor dentro do útero de um novo dia.
Agora sou mais eu, afoito colibri 
sobre a flor que me seduz 
a trilhar e a me conduzir desnudo.
Sou tal qual aquele inquieto sanhaço 
que cai de bico no maduro fruto exposto 
como quem busca o olimpo e o acha em néctares 
da maior valia, ao rutilar do bem, do bom e do belo.
Deixo-me estar de bem com a vida. E nela acredito,
porque em mim sobeja amor-próprio, o nome do amuleto.