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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

ENCANTADO

Que príncipe que nada!
Prefiro ser sapo-rei
ao alcance da tua mão!
Já que beijar não convém,
fico de sapinho a coaxar 
grudado em tua boca ávida
mais perto da festa no céu.
Estou dentro do alto,
e, mesmo sem asas,
tu me carregas sempre
na bagagem do voo.
Eu me contento, persisto,
bem-estou bem cuidado.
Não reclamo, estou bem nutrido.
Longe dos olhos grandes dos curiosos,
a gente bem que goza da vida.
Sou mais que um bichinho
de estimação e, atento,
aceito ser teu anfíbio,
até que a lida venha
e com seu inesperado condão
nos quebre o encanto!

domingo, 29 de janeiro de 2012

DESABROCHAR




E não é que de repente, 
deparei-me a caminhar 
num campo de flores
com todas se abrindo
só pra mim, vermelhas.
Interessante é que elas
sempre estiveram ali,
mas nunca tive olhos
para percebê-las 
assim tão belas.
tão naturalmente,
senti novos ares
tudo a exalar perfume
à flor da pele.
E não resisti, a céu aberto,
desnudei-me por completo.
Aliado à beleza exposta,
não pensei duas vezes,
de súbito, me consenti
a entregar-me inteiro
ao bem-me-quer.
Peguei-me disposto 
bem apanhado 
a colher o dia
feito pássaro exótico
a beijar todo aquele encanto 
que desabrochou
em mim a natureza 
só pra adornar
minha alma nua!

sábado, 28 de janeiro de 2012

ALUCINAÇÃO

E quando tudo girar à tua volta,
quando o mundo girar ao teu redor,
quando 
ensimesmado 
na rotina
procurares dar sentido à orbita, 
e não estando de ressaca, acordares 
não como uma pessoa egocêntrica, 
arrotando para o mundo parar, 
não arredes o pé da lida, 
não surtes ainda 
nem peças 
para 
descer,
entres no embalo 
alucinante
da vertigem 
a curtir o barato 
que é a vida. 
Ou ainda, se optares, em êxtase, 
podes girar ao contrário, de súbito,
de qualquer lado ou banda, de verso
só para ver a coisa desandar,
contanto que segures a cabeça!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

'BRABULETA EM FULÔ'


A mais bela fulô
não fenece nunca
todo santo dia se abre ao sol
do agreste, toda brejeira,
só pra adornar meu templo
em novos botões e sorrisos
entre afiados cardos,
nos xique-xiques,
nas coroas-de-frade,
nas macambiras.
Mas não há fragrância
que me embriague mais 
que a da sua essência.
Nada solicita tanto meus olhos
que essa moça vestida de chita
que mais parece uma santa,
bonita que só vendo, 
toda florada
toda florida
fora do andor,  faceira,
com a saia rodada ao vento,
brabuleta de plástico no cabelo,
Ela dança segurando as tranças
Ai, meu Deus quem me segura,
Ai, quem me dera, entregar-me ao deleite,
de ficar prestes a cair
de vez no céu daquela doçura,
seria como me lambuzar de mel 
na primavera!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

NUDEZ POÉTICA

Aprendi a desnudar as palavras
ou revesti-las de nudez poética.
E assim me expresso 
a tirar a roupa 
bem apanhado,
sem aquela vergonha
de expor minha língua 
a múltiplos orgasmos.
Posso fecundo tocar 
com firmeza e bem estar
na beleza que posso criar,
ao consentir me despir, sem pressa
mostrar meus atributos na lida,
de todos os lados
de frente e verso, 
sem ultraje, uma vez que 
a linguagem bem me dota, 

pega-me em cheio, reveste, 
veste, deveste, apronta, 
desnuda e me esfrega
a partir do eu escondido 
em face do que reflete o espelho.
De tal sorte, sinto na pele 
toda nudez nua e crua,
dentro das formas da carne
que a poesia insinua.
Sem preconceito,
penetro no cerne 
das palavras lidas,
Capto a olho nu, a rigor 
e com a mente aberta,
o que a vida vem me dizer,
o que dela se aflora naturalmente,
que até me esqueço de ver 
que o mundo lá fora fica desprevenido,
quando tenho muito ainda a dizer 
não com palavras desprovidas de sentimento, 
não com palavras desnudas de emoção,
mas bem ditas com o tesão buscado
bem lá no fundo da poesia 
que ora me agasalha 
sem roupa, com palavras.

SURTO

Hoje tive um surto,
sem carecer de quebrar nada,
cortar impulsos nem os pulsos
ou desafiar camisas-de-força à exaustão,
um desses que vão fundo ao extremo da alma,
dão choque e ficam evidentes à flor da pele,
que dão comichão desde o couro cabeludo,
que viram poesia pelos poros, pele, carne e osso,
que viram do avesso, inspiram ideias
piram e transpiram de senso a suores,
numa vontade danada de cometer versos,
vicejar ou enlouquecer de vez
até atingir o ápice da lucidez
que insiste sem delongas ou tréguas
a me fazer ter/ser poemas.
Ciente me consinto a curtir esse surto,
onde me deparo sem me estranhar, de pronto,
boquiaberto, a mostrar os dentes,
de cara com tudo que pulsa na alma
em transe diante do espelho,
não me enlevo a mais turbar a mente
em face do impermanente estado
que só me retrata num curto espaço
 entre o eu moldado e a massa.
E de tal modo, acabo a rutilar
por me achar bonito poeta,
sem a pecha de cabotino,
arteiro ou traquina,
de cabeça feita
num surto de repente,
munido de eiras e beiras,
sem precisar de rimas.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

OVELHA NEGRA? NÃO, SENHOR!


Não me perco 
na esperança,
renovo-me 
com a alma dentro
da semente,
reverdeço, germino e 
tomo gosto pelo sol.
Sei que a terra precisa de sal,
que a gota de suor é ópio 
ao corpo hostilizado.
O remédio é paliativo.
A ladainha acho mesmice.
São tantos credos à mesa, 
água,  pão e placebo. 
Cadê o vinho
e a manteiga?
Firmeza não há 
no porta-voz-do povo
que reza pela mesma cartilha,
ranço de tanto pensar torto
que não ultrapassa o ego. 
Sim, fujo do cordão dos tolos, 
da laia das marias-matracas 
que vão com as outras.
No rebanho 
de ovelhinhas brancas
não sou a negra, 
graças aos deuses,
cansei-me de repisar o sim, senhor!
Sim, senhor!?... Não, senhor!
Agora eu sou o lobo!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

PARANOIA A2



Não tenho medo do túnel
Vou fundo no poço
Arregaço as mangas
Enlaço o bicho-papão,
Dou nó até em pingo d'água
E abro o alçapão
Só pra criar o bicho solto.
Se quebro a asa na lida,
Me alio ao voo fora da asa
E refaço das tripas o coração.
Assim, não me poupo das penas
Com elas teço, com esmero, 
Meus travesseiros e travessia.
E arteiro, persigo meu destino,
Sem tréguas nem trincheiras,
Vou me achando destemido
Dentro da força do braço,
Eira e beira, sem esmorecer
Assim vou pelejando 
Até o dia 'd' 
De perder o juízo
E chegar de vez ao céu
Ao me atirar exausto 
Em tua boca de tarântula, 
Até perder a cabeça,
Até bater o pino,
Na hora 'h' do fim.

BORRACHAS E APONTAMENTOS


Se com palavras em lápis
os alunos se prendem às travas 
dos olhos tristes da penumbra,
se no branco do olhar se fecham
na ciliar cortina imposta,  
se há vergonha na fuga em desenho
do que estava escrito em rascunhos, 
se se escondem na mente sóbria
dentre as entrelinhas 
das novas ideias em riste
com medo de abrir mão 
das velhas bulas e dos catálogos,
como então mudar o quadro-negro 
do que hão de buscar no futuro que ora lateja
e se aflora além da retina a olhos vistos?
Eu só não quero me esquecer do ensinamento  
de que não vim ao mundo a recreio
e eu mesmo traço meus acordados croquis
e sinto que as palavras têm a potestade 
de mover a tela de ponta à cabeça,  
podendo tomar o lugar-comum 
das borrachas cretinas de ocasião 
que mais borram que apagam as tintas.
Apesar delas, não me desaponto, 
eu as encaro, creio, invento e crio. 

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ALGAZARRA

E são tantas as palavras
que me sondam o juízo
palavras ao vento
palavras de dentro
de algum livro 
de páginas encardidas
pela tintas de alguma pena
de um passatempo
de algum diário 
esquecido na estante
ou num escaninho de confessionário
palavras em letras garrafais
manuscritas até em papéis de pão,
que se propagam em amassados papéis de bala,
nas entrelinhas ou à margem de algum caderno,
bulas manuais, revistas, recortes de jornais.
em cartas que mais turbam a mente, frases
escritas em muros, pichadas na lida
de algum transeunte a perambular
pela obscura solidão ao largo da vida.
Palavras incontidas, tábuas de salvação
 palavras gravadas no concreto, 
nos pesares, ou na solidez que jaz 
junto ao pó das letras mortas  
Palavras ao relento, renovadas,
dispersas pelo vento de outrora
Palavras jogadas madrugada afora
farras verbais, néons de prazeres
conversas, flertes e namoros
Algazarra de palavras
farpas orais, segredos, desejos e rezas  
Palavras de passagem 
noutras que ficam em promessas
Palavras tônicas que edificam 
que se tornam prosa e poesia
em fragmentos, em teses e tesões 
Palavras carentes de sentido
que buscam outros agasalhos
para conquistar o signo,
proliferando razões 
ao que dita o coração da gente,
engenho de palavras,
palavras em arranjo, rimas.
Palavras que fazem a minha cabeça 
Eu cortejo as palavras
E as seduzo em versos.
Eu sou poeta, escrevo,
dou minha palavra, escavo,
creio, crio, reinvento-me nelas
E assim me vou pelo vão das palavras
que não me ninam só pra ver estrelas.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

CASCA GROSSA


Abertamente confesso:
quando me desnudo
eu sou eu mesmo
sem alarde,
descasco o verbo,
arranco as folhas 
do que seja imposto,
com a barba de molho,
não me ocupo em dar a outra face,
dispo-me de pensares alheios
Observo meu eu, atento,
à torta e à direita,
de todos os lados
de frente e verso
de banda e de bunda
revelo para o mundo inteiro,
reviro a página, de súbito,
da vergonha que não tenho
de ficar nu, exposto
de cabo a rabo,
despido de medos e tédios,
e me enxergo assim arteiro
em momento cabotino, sim,
e até que me vejo bonito, em pelo,
confiante no meu próprio espelho
eu faço minha história, de fato, 
e hoje digo sem titubear
aos bobos da corte, de plantão:
Há tempos guardei 
minha timidez na sacola.
E a poesia que ora me arde em ávida chama
é que me pega assim bem apanhado,
a coragem que aprendi na escola da lida,
a que me instiga a cuspir na cara 
de quem queira só me ver pelas costas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

CRISÁLIDA


Minha Várzea das Acácias, 
das flores, jardins 
arbustos
Vapor
um quintal, um terreiro, 
uma Vargem, um lajedo 
de quina para o rio Joca 
um verdejante coqueiral, 
mulungus, muçambês, fedegosos, maracujás, 
marmeleiros, macambiras e juazeiros... 
E sob um galho dependurada, numa tarde amena 
uma lagarta solta a pele e produz um invólucro, 
uma almofada de seda 
presa por um gancho 
e, dentro da casca, 
uma crisálida a se contorcer.
Um momento lúdico eclodiu, 
movimento perfeito, 
lentamente a crisálida latente 
rompe a casca, abandona sua antiga casa 
e a borboleta sai, voa fora da casca, 
pairando no ar se apresenta, 
faz seu show ao vivo e em cores
para exibir a beleza 
que esbanja ao 
borboletear 
majestosas 
asas!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A CÓPIA, DE FRENTE E VERSO

Quem é essa estranha
que se olha no espelho
e não se acha, de pronto,
senão noutra pessoa em tela
que não se aceita,
que não permite
ser ela mesma
e quer porque quer
ser a outra de qualquer jeito
em face, pele, coxas,
nádegas, peitos, cabelo
Quem é essa mulher
que alheia desfila na esteira
esticada numa beleza efêmera
qual moça que se transfigura,
que encera a cara de pintura
tentando se esconder na cela
por trás de outra miragem
quem é essa criatura
que rejeita sinais de nascença
que anda em cada falso passo,
vestindo a moda imposta assim
num molde que não lhe cabe
tal qual maria-vai-com-as-outras,
rezando a mesma ladainha,
tentando se equilibrar sem prumo
num salto que não sabe usar
e acaba uma pilha de nervos,
querendo abotoar-se em rosa
quando nasceu jasmim?

domingo, 15 de janeiro de 2012

À FLOR DA TERRA




Eu cá com meus botões
Despetalei tua roupa
Arei tua pele, 
Com afinco
Atirei sementes ao solo,
Aguei tua boca até o céu
Sentei à sombra 
Da terra nua
Em transe, 
Fiquei ali, 
Esperando 
O sol nascer 
Radiante
Só pra meu amor em ti
Fecundar
Germinar 
Reverdecer
E florir

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

FRENESI

'Apeixonado',
vez por outra me avexo
me achego assim
a te ver de perto
inquieto
te enxoto, me excedo
causo rebuliço
no teu habitat,
depois me arrependo,
imploro, suplico, choro
frenesi todo aceso, 
excitação e desejo
reviro-me do avesso
faço das tripas, coração
desmuniciado menino,
persisto na lida, ávido
seco a te lamber
com meus olhos rasos
vidrados em ti, 
fazer o quê
se quando te miro
só te quero inteiro
me (m)olho, eira e beira 
me espio por dentro
disposto, não me contento 
com migalhas,
atravesso o espelho
mergulhando fundo,
regalado a rigor
em êxtase e delírio
nos teus olhos d'água?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

DE GATO, SAPATO E GUIZO

Faça-me de gato e sapato,
Abuse de manhas e artimanhas,
me afague, me atire na parede,
bole seu jogo favorito, sua alegoria.
Não me acanho em rolar
deitado, ser sua bola oito,
ser lançado da cama ao infinito.
Careço gastar minhas vidas
em algaravia, de súbito,
voraz deleitar-me 
no teu peito sem atrito
ao cair de pé, de quatro,
ego desarmado e tal,
de pires na mão, suplico,
só pra chegar ao prato do dia.
Acabo gato escaldado
de barriga cheia, miando por mais,
bem apanhado a agitar meu guizo,
emaranhado em teus novelos,
alcanço o telhado, o teto a céu aberto
ou lá aonde judas perdeu as botas
e, zás! estou pronto de novo,
amoldado à passagem do escuro,
tenho as chaves do instante 
só pra queimar outra vida,
que se me abre em sóis
depois de muitas luas,  fôlegos  
e a porta luminosa do porvir - 
afinal tenho sete, 
até perder o soneto e o juízo!

domingo, 8 de janeiro de 2012

CABOTINO? NÃO.

Não me acho um ser qualquer.  
Se sou normal? a quem interessa,
o que teria a ver o ser com as calças? 
Nunca o quis ser nem colecionar 
o que me vem dos achismos alheios.
Se pareço esquizo, e daí?
Não preciso de punhal nas costas
nem careço que me espies  de soslaio.
Se sou assim ousado ou assado, bonito ou feio,
isso é  comigo, cá com meus botões,
sei que vou morrer torto,  penso.
Não adianta me passar a régua
nem me cabe a pecha de cabotino.
Eu tenho em casa meus espelhos
e o que me faz refletir e quebrar devaneios,
o que me apraz lúcido de pedra
é mesmo essa  dependência inquieta, não inútil,
de querer me achar nas letras e até nas entrelinhas
insistindo na terapia de escrever, com gosto, 
vou tangendo meus bichos sem cabrestos,
sem me preocupar qual bicho que me deu
essa vontade louca de fazer soar o grito das palavras,
fazendo poemas, dando crédito às boas lorotas da lida,
vou riscando a planta no papel, renovando escaninhos
traçando meus croquis, forçando o pensamento,
no engenho de tocar meus versos sem carecer de rimas,
digerindo o que eu invento, conquistando metáforas,
acertando e errando o ponto, 
mando pra longe todos os cadinhos, 
sim, brinco de médico e não espero cura, ora bolas!
Assim eu faço meus poemas, com articulado tesão, 
arrebento cordas e cordões impostos, de súbito,
dou força ao meu querer consentido e me liberto nu!