ALADA IDENTIDADE PLENA,
por João Maria Ludugero
A mãe Maria Dalva reparava que o menino
Gostava mais da vazante da Várzea das Acácias
Na época em que o rio Joca provocava enchente.
Falava que suas margens eram bem maiores
E até infinitas.
E manjava que na tarde amena nasciam beldroegas
Que fios crespos de ouro iam crescendo
No paredão do açude do Calango,
Que por entre esta luz a vista alaranjada repassava.
E se viam raios de ouro, enquanto bem-te-vizinhos
Encantavam almas que estavam no peito trespassando,
Assim como em cristal o sol trespassa aos solavancos.
João Ludugero era um menino tão arteiro e medonho,
Que só se tornou poeta para poder ver de perto e sentir
A alma dos outros entretida em acordes de sonhos.
Por viver muitos anos dentro do Várzea,
Aprendeu a voar feito passarinho,
O menino pegou um olhar de astúcia -
Contraiu visão esvoaçante, com ânimo
De tal sorte que ele enxergava as coisas
Por igual em diversas estripulias,
A correr dentro, e voar alto, pelo interior,
Só pra contemplar o que lhe completava
Numa palpitante lida feito o passaredo
Que, de amante, espiava o alarido viço.
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