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terça-feira, 30 de outubro de 2012

UM VESTIDO PARA KIRO

Menina de Nova Canaã,

anjo de carne e osso,
da tua poesia brota o norte
que adocica o mel da terra,
quando trazes na boca 
o néctar da flor.
Da tua pele rescende pólen e cor,
criatura abençoada 
pela maciez dos dedos de DEUS.
És toda candura, suor e sal, 
és favo de sublime toque 
da alma em flor.
Bem te vejo a reinar
livre, leve e solta,
pés descalços 
tocando as nuvens de algodão,
sem arredar os pés do chão.
Diva menina, mulher, 
moça vestida de sonhos,
és canto, canário da terra,
és cena, palco e cenário...
És paisagem 
que descansa o olhar,
cabeça feita de AMAR, apenas 
sem promessas nem juras, 
um se deixar por si só
e SER 
bonita 
de verdade!

domingo, 28 de outubro de 2012

DANADICES E BRABULETAS



Que tal passarmos sebo nas canelas
Sairmos pela Várzea a dentro 
Seguirmos juntos quais crianças peraltas
Fazendo pelo mundo danadice,
E tudo que se diz que é medonho...
Eu bem apanhado de calças curtas, 
Já de pelo nas ventas, 
Tu de cabeça feita a pensar 
fazendo bichos nas nuvens esfiapadas 
Com brabuleta azul de plástico
No cabelo açoitado pelo vento afoito. 
Que tal acendermos juntos vaga-lumes,
E voar com as brabuletas lindas, cintilantes,
Com suas asas leves, coloridas,
Correndo soltos pela tarde agreste...
Poder correr, amar, chorar, 
E até berrar com as cabras e cabritos,
Sem se importar se é certo ou loucura...
Furtar lá do vizinho belas e rosadas romãs!
Fazer cantigas de improviso, enamorados
Perder-se entre as frutas bicadas do pomar
Sentir-se um magote de pássaros 
a gorjear na tarde amena,
Achar-se na mágica de brincar, 
Sem quebrar a fantasia e o encanto
Tais quais moleques cheios de algaravias,
Levando a sério esse brincar incansável 
que nunca envelhece  a alma da gente, como agora!

sábado, 27 de outubro de 2012

O POETA NU



E por falar em nudez, 
sabe-se que em gemidos singulares 
de nudez fomos feitos, 
sem nenhuma vergonha. 
Num marejar de lágrimas de nudez partiremos 
de cabeça feita, afoitos.
Entretanto, o corpo hiberna sentenciado
na condenação ao pudor desejado. 
Fecha-se como um juízo de páginas censuradas. 
Como um jardim de ninfas amaldiçoadas, castra-se. 
Como o medo que se acabrunha insone
num cálice de fogo glacial.
Escrevo-me despido de composturas,
tal como este poema livre de vestes ou rimas, 
sou princípio de lágrima presa na garganta. 
O poema, esse, desconhece a nudez das fênix.
Adentro-me, leio-me 
como palavra nunca pudica, indiscreto,
Disposto a me despir 
da efêmera beleza 
de ser apenas do/ente.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

POEMA DO FIM DO MUNDO


Antes do fim do mundo,
eu só queria dizer
que 'o amor é importante, porra!'
Que 'tamos de ovários cheios de violência,
que meu jardim ficou mudo,
murcharam os girassóis amar-elos,
as folhas cessaram de balançar
e o derradeiro Sol abre buracos imensos
na crista da terra nua, S.O.S.
Ainda não vou me afobar
com o tempo que resta pra estourar
os miolos da cuca desvairada...
Sento à mesa a devorar meus medos
com as tripas a sair pela boca,
tomo um café amargo e aguardo,
quem quiser que se deprima...
Quando a tempestade chegar,
pego uma onda até a esquina
e de carona no caos vou a nadar,
atravessando a (des)humanidade
que há tempos só afunda o mundo,
ainda de olho a esperar pelo segundo sol.
Até quando ficar de braços cruzados
esperando que o mundo desabe
sobre as nossas velhas cabeças?

sábado, 20 de outubro de 2012

TÁBUA DE SALVAÇÃO


Rimas? Para que tantos reversos,
Tantas palavras a vicejar em alegria e raiva.
As palavras por vezes salientes, consentidas,
Outras vezes esvaindo-se 
Em sangue e seiva, em carne viva
Erram-me a veia, a sangrar entretidos desafios
Ao me morderem a vida com os dentes.
Poesia minha de todo santo dia, 
Pé na tábua, a que me salva, lúcida 
És minha irmã na lida a ganhar o mundo
Com exuberantes seios de palavras complacentes.
Poesia que outras vezes prolifera súbita,
Grita, uiva, engravida mulheres e homens,
És capaz de fecundar sementes escondidas.
Poesia minha amiga minha irmã diuturna em dádivas,
Diva pagã da vida 
Que inventei só pra não ser doente 
Quando destemida me ensina 
A passar o tempo fazendo filhos na coragem.
Poesia minha potência, 
Meu juízo sem cabrestos,
Meu incesto tão puro 
Que nem sei dizer ao certo
Se é na loucura ou lucidez 
Que faço amor contigo!

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

GERMINAÇÃO


Nenhum verso vira pó
Todo verso vira pólen
Toda poesia desabrocha 
Extravasa à flor da pele 
Molha o bico da gente 
Adocica o mel do riacho 
De lumes e perfumes ao vapor 
Toda poesia é semente 
Que germina ou vira pão 
Toda poesia é tempero 
Desde a flor da pimenta 
Ao refresco da brisa à mesa 
Que cheira a maracujá 
Nesse chão que nos dá chão.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O ALVO




Depois de beber 
no céu da tua boca, 
estou a salvo inteiro, 
meando-me ao fio do labirinto, 
saciando meus olhos ao ensejo 
de me achar preso ao universo 
do peito movido por um amor 
que me livra solto, 
embalado assim na torre 
seguro em tuas tranças, 
andarilho anoiteço teimoso 
a divagar pensamentos arteiros 
no impulso de descansar no teu colo, 
deitar no teu seio, 
deleitarmo-nos 
enamorados da lua... 
E eu a recomeçar nos teus olhos 
meus maiores almejos

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

PRIMAVERA


Entre o pólen e o néctar,
Eu bem-te-vejo cedo se avizinhar
Dividindo espaço com as borboletas
Verdes, amarelas e azuis...
Descubro ovos, larvas, ninhos. 
As borboletas parecem eternas
Até quando etéreas se lançam
Pelo vão das horas primaveris,
Além do pó, poeira, pólen, 
Poemas em flor-essência.
Entre meus pés de moleque 
A se afoitar pelo horizonte,
Há a estrada dos acordes  
Que me leva da noite à esperança,
Onde meu eu beija-flor 
Passa a adejar, 
Acontece,
Floresce,
Amanhece 
Nas adjacências
Num teimoso recomeçar...

domingo, 14 de outubro de 2012

CONFISSÃO


Deixa-me solto
Desmuniciado 
Pássaro a cantar 
No teu ouvido, 
A beijar a flor que adorna o dia 
Bem-te-vejo a acordar o céu 
Com o sol disposto 
A girar o mundo desvendado 
Em reflexos de aventura 
Que jaz no teu rosto 
Num rutilar de acaso que me faz 
Inspirar renovadas ideias 
A defender meu chão 
Feito um tetéu no cio 
Horas são 
Horas vão 
Na oração de um poeta 
Que brinca de pega-pega 
Ao te confessar segredos
Ao pé do ouvido.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ENTRE AMORES E AMORAS, por João Maria Ludugero


Eu careço 
sentir a  flor 
da pele desabrochar,
achar na tua boca o céu
ao lambuzar-me inteiro
no mel da tua boca;
preciso agradecer a Deus
por ter guardado em ti,
límpida e pura, cristalina,
aquela promessa antiga
de comermos juntos 
aquelas amoras futuras. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

ENCONTRO


A cada encontro
Sou um homem do tempo,
Tenho lá meus fardos.
Mas apesar dos pesares,
Ainda encaracolo 
Teus cachos dourados
De acácias.
Faça sol ou chuva,
Caiam as folhas
No terno cinza
Do outono,
Outros me verão hibernar,
Íntimo, intruso assim,
Emaranhado de paixão
A me levantar
E bater palmas só para ti,
Brava vida!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

TERNA 'BRABULETA' AZUL, por João Maria Ludugero

Vou dando espaço aos ares
só pra o tempo ventar sem eiras
até criar pelos nas ventas,
até a menina vir a pintar
de acaju sua trança castanha
presa na liberdade azul
de uma 'brabuleta' de plástico
dessas compradas quase de graça 
na feirinha-livre de domingo.
Eu quero o poder de plantar,
colher o dia, estocar sementes,
amassar o pão com esmero,
na mesa da minha Várzea, 
sorrir estrelado com fartura,
abençoando o chão que me dá chão.
Eu quero o poder de ter todos os dias 
livros para ler, ser poeta nato
e viajar nas palavras benditas,
emaranhado assim, de amores. 
Quero mais é despentear teu cabelo,
voar colorido, sem medo da cuca pegar, 
segurando um terno laço perfeito, 
sem precisar de cortar nós da fita!

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

MARIA DO CARITÓ


A moça se debruça
no parapeito da janela,
fita o horizonte escarlate 
e se embevece de sonhos,
destramela promessas e anéis,
guarda sedas, meias e traças,
se veste e se enfeita de tranças,
sem uso, esquecida no caritó,
coleciona riscos imaginários
e ainda mais se tranca em frascos 
de perfumes guardados intactos, invicta,
rente à visão da velha ponte
que emenda a solidão da rua,
procurando chegar a lugar nenhum,
escrevendo cartas sem destinatário,
afastando indizíveis desejos.
refazendo promessas a Santo Antônio,
que permanece de cabeça pra baixo
enfiado num pote de água benta... 
E a moça se ajeita na janela às escâncaras, 
balançando bruscamente os brincos
na esperança de ser vista bela
usando um pingente de lua
com seu nome gravado
como que a reluzir o vazio
da multidão que anda só,
orando pelas quatro bocas,
cortando impulsos aos punhos,
mais turbando dissabores
onde nuvens carneirinhos se esfiapam
num vai-e-vem de acordes,
num vapor de fim de tarde
e no lampejo-norma habitual
onde sobeja a solidão dos nichos.