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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ConVersando no Quintal


Na casinha da minha avó Dalila
que ficava lá no vale da Várzea das Acácias,
eu gostava de visitar o quintal 
só pra vê-la cultivar sua horta
como quem cuidava de um tesouro.
Ela conversava com tomates, sorria às cebolas,
Acenava um bom dia às pimentas e aos cravos,
puxava um papo de chegar ali a babar 
com as ervas-doces, camomilas e louros. 
cumprimentava até os mamoeiros, as fêmeas
e os machos;  e via que os machos só davam flores.
Junto do verde perto havia jarras bojudas 
cheias a sobejar água fresca
E uma tina de argila queimada 
remendada de cimento nas bordas 
mas que nunca ficava estanque de água potável.
Era ali onde minha avó Dalila 
lavava as roupas e tomava banho de cuia
beirando a bica d'água 
que vinha do açude do Calango.
Nunca me esqueço de lembrar
quando chegava à altura  
de umas e outras plantas se acasalarem, 
dava para beber o cheiro 
das flores dos mamoeiros 
que tomava conta do ar da polinização.
E era tanto o aroma de fecundação 
que dava gosto tocar na terra fertilizada.
E eu me embebia desses cheiros de brisa 
que vinha até à cama de junco da minha avó, 
atravessava as frestas das janelas 
e entrava insidiosamente no meu nariz.
Que ares mais puros!,
que cheiro bom!, que cheiro forte!, 
que cheiro único!, 
magníficos cheiros de húmus e mato
que continuo a guardar no olfato,
que nunca saíram de mim
mesmo depois da despedida  
daquela senhora franzina tão poderosa,
que tinha coragem nas veias
e me fez entranhar no espírito
esses benditos cheiros e ruídos da terra!
Dá até pra senti-los ainda agora!
Veja como é que pode uma coisa dessas!
Tanto assim que me concentro nessa poesia,
que me enleva alto, longe e dentro, consentido,
inebriado, atrevo-me a evolar em perfumes 
junto à brisa da tarde amena 
que fica suavemente a me ninar.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

OLHOS DE GATO

Nos meus olhos de gato
Sete vidas tenho porvir a ver, 
Sete pecados em gula capital
Sete juízos sem final
Há imagens que esperam se carregar...
Há sonhos que não desvendo,
Há milagre e magia a despertar
Em amores que não entendo,
Encantos tantos, 
Fosforescentes,
Quantos!
Nos meus olhos de gato
Há atalhos, fios e novelos 
De mistério que não tem fim,
Tem solidão no meio da gente
Tem agonia, saudade renovada
A me fazer portar o lápis da Poesia, 
Meu escapulário, 
Meada da alegria, enfim...
Nos meus olhos de gato  
O sonho se separa, acorda horizontes
A fantasia grita, arrebenta 
Ao passo em que escaldada
A vida se agita, afoita, incandescente
Para que o mundo não estanque...
Nos meus olhos de gato,
A olho nu, descubro-me alerta
A exorcizar meus bichos
De sete cabeças. 
Eu vi esse filme antes,
Eu vejo os flashes disparados.
Só eu vejo os ofuscantes lampejos 
Da sorte que me seduz à lida
Pelos meus olhos de gato!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

ARTIMANHAS ESSENCIAIS


É por demais consabido, 
Nunca mais me desvencilho 
desse singular aroma 
que me persegue em vasos, 
percorre veias e capilares...
Impregnado eu vou por aí, 
em pele e poros, etéreo.
Encarno em pelo, em ossos, 
quem sabe  pego carona  
no orvalho ameno dessas aragens.
De passagem, deixo-me evolar. 
Consumado, de súbito, 
só pra desopilar, 
bebo o horizonte num único gole.
Ainda enfeitiçado, sedento 
e devassado pela essência do alecrim 
e pelo solene toque arteiro
desse amor-manjerona! 
Estarei, pois salvo, a tempo 
ou não consigo me conter.
Bem-me-quero perdido, 
sujeito-me a isso.  
mal-me-quero, sem ti!, 
só divago lançado
em baratos perfumes. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

GOSTO DE MAÇÃ

 
E lá vamos nós,
Voando, voando.
Eu colibri voo para ti,
Pouso na mais linda flor.
Me alimento de pétalas.
Frutifico encontros.
Floresço a girar sóis,

Arranjos encarnados de mim.
Desabrocho a
sas

Eu voo assim pleno
A beber a manhã
Que se levanta nua ao céu aberto
Em tua boca ávida, 
Bem-me-querendo ser caça
A me perder por aí...
E vice-versando, de passagem,
Consentindo-me a ficar à-toa na vida.
Ao léu, ser assim maçã
Só pra sentir a doçura
Dos teus lábios carmim,
Apreendendo-me ao dente,
Ensinando-me a falar tua língua
Eu, Adão,
E tu, Eva!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

ARRIMO

E sempre te achegas, de mansinho,
naquelas horas mais precisas,
aquecendo-me as mãos cansadas
como indefesos filhotes de passarinhos.
Então, sinto o teu encosto doce,
as tuas asas de lã de carneiros,
feitas de nuvens branquinhas
e de brilhos de manhã orvalhada.
E do alto vislumbo firmeza ao máximo
quando chegas, sutilmente, a me arribar o espírito
feito um anjo trazendo encostos de plumas,
portador de tanta calma à alma minha, de súbito,
antes mesmo que ela venha do/ente a se curvar ao frio da dor
repousando nas horas em que satisfeito me aprumo.
Assim como um raio de sol na tarde amena
Só tu vens me arcoirizar a retina sob a chuva,
Reverdecendo flor/esta adentro em ânimos.
Nenhuma paisagem afora,
nenhuma escultura em talha,
nenhuma escrita, rabisco ou engenho 
nenhuma pintura íntima ou rascunho...
Nenhuma poesia represada em pauta
terá sido em vão,
só por causa do calor
que emana de tuas asas,
que dissipa sombras e tédios
que não me deixa fraquejar nem esmorecer,
embalado de novo por um sorriso,
compartilhado por todos
os tempos
desde a ventania ao tornado,
alertando-me acerca das pessoas e dos alentos
que achas urgente e que devo abraçar!
Assim, a ti logo me recosto, meu porto seguro,
sei que posso em ti me arrimar!

domingo, 18 de setembro de 2011

PROEZAS AO LUSCO-FUSCO

Rosa menina faceira
Da cor do juízo que me leva ao pecado,
Diva morena que me queima
E me espeta a pele, de súbito.
Comparando boca e flor
Há tanta vermelhidão, constato,
Que chega a formar outra cor de encanto.
Dominado, entro em êxtase
No terreno da imensidão me curvo
A esse estranho amor encarnado. 
 Teus lábios, ainda que semicerrados,
São um convite infinito à liberdade.
Dou-te cartaz, teu olhar me algema,
E tens o condão de me prender numa cela aberta
Numa camisa-de-força, louco e lúcido, ávido
Coração a dentro, veias, vasos e capilares,
Nem tento fugir, desvencilhar-me
Ou profundo mergulhar 
Nas águas verdes-musgo
No açude do Calango, nem pudera,
Pois num beijo mais que ardente
Me levas a molhar a alma incandescente
No açude nascente de tuas proezas.
E logo o sol poente vem se deitar no teu colo desnudo,
E ao lusco-fusco laranja adormeço pagão feito um anjo
Nesse solene e divino crepúsculo estelar,
Mergulhado pleno no carmim da tua boca de Vênus.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

CANTIGUEIRO


No parapeito da ponte,
    No alto do abismo,
Eu me apassarinho,
Esvoaçante me arribo.
Pego a direção dos ventos
Numa pétala roubada
Da rosa dos ventos.
Dou espaço ao tempo
Que não me cerca
Com esperanças novas.
Não lamento a sorte
Nem o ermo roteiro, de certo
Nem a asa baleada me dói.
Eu consigo alar-me a céu aberto.
Eu sigo nas asas de um cantar mavioso
A buscar meu norte.
Ao me achar bonito, não me furto a cores,
Apenas afugento a dor por encanto.
E o canto me revigora por dentro,
Desde a hora em que a aurora
Me abre os olhos
Cedo eu madrugo a sonhar,
Cuido de ganhar o mundo
Sem medo dos choques ou atritos
Quando pouso nos fios dos postes,
Atento nas luzes postiças, de sorte,
Acendo meu canto a me orientar,

Por mais que haja sombras,
Estufo o peito de contente.
E o amor me escuta de longe.
E o amor me abre um clarão,
Apesar do escuro da mata,
O amor não se expira nunca,

O amor me restaura as penas,
Porque o amor me rapta
Para um ninho seguro.
E a flor/esta não me fecha sozinho,
Pois me dispara afetos e avenças
A inserir-me em coro
De outros passarinhos
De bicos afinados
Em airosa cantiga,
Rumo a outros paradeiros.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MEUS OLHOS DE GATO

Nos meus olhos de gato
Sete vidas tenho porvir a ver, 
Sete pecados em gula capital
Sete juízos sem final
Há imagens que esperam...
Há sonhos que não desvendo,
Amores que não entendo,
Encantos tantos,
Quantos!
Nos olhos de meu gato 
Há mistério que não tem fim,
Tem solidão no meio da gente
Agonia, poesia, saudade
Alegria enfim...
Nos olhos de meu gato
O sonho se separa, acorda
A fantasia grita, arrebenta
A vida se agita, afoita, incandescente
Para que o mundo não se estanque...
Nos olhos de meu gato
Eu vi esse filme antes
Eu vejo os flashes disparados
Só eu vejo os lampejos
Da sorte que me conduz
Pelos meus olhos de meu gato!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

UM CERTO JOÃO MADURO

Para amadurecer careço 
De muito pouco:
 Deitado à sombra sagrada
Do meu pé de graviola, 
Dê-me uma enlaçada todo dia,
Que eu cerco o mundo 
Num instante, ligeiro,
Só pra os bichos não se perderem
Lá da minha terra prometida.
João Ludugero
Para reverdecer careço 
De muito pouco:
Quero apenas a sombra do umbuzeiro,
Quero cercar-me de flor e colibris
Quero um cajueiro em flor, 
Flor-essência em poesia.
Quero maturi,
Ou seja, o começo
Do caju ainda novo, 
Ou, propriamente, 
A castanha verde, grande e mole 
Do caju antes do desenvolvimento 
Do pedúnculo, 
Antes da maturidade.
Quero colher e ser colhido,
Tal qual manga madura no pé,
Ser apanhado feito caju e castanha
De manhãzinha, enchendo bacias. 
Quer ver eu dar rasteira no banzo,
Basta me dar uma tigela de leite azedo, 
Um prato de coalhada com mel e sequilhos. 
Na verdade, peço muito pouco. 
Rapadura, feijão e farinha 
E uma hora de rede na tarde amena
Preciso de nada mais não!
Deitado à sombra sagrada
Do meu pé de graviola, 
Dê-me uma enlaçada todo dia,
Que eu cerco o mundo 
Num instante, ligeiro,
Só pra os bichos não se perderem
Lá da minha terra prometida
A que chamo com galhardia
De minha Várzea das Acácias!

domingo, 11 de setembro de 2011

NUNCA FUI SANTO!

Movediça, buliçosa e
Até mesmo quando 
Mal-ajambrada,
Minha língua corre solta
A chafurdar os céus abertos
A se entranhar pela poesia solta
Pelas quatro bocas ansiosas
A ganhar o mundo,
Longe de mim querer ser cabotino.
Lúcido e desatinado, prossigo,
Ensimesmado nessa impermanência
Que me atém por todos os lados 
Acaranguejado, de banda desando.
A penetrar tua alma  ao meio, de volta,
A queimar pelo avesso os tédios, de súbito,
Discorro em teus lábios de ardente cometa. 
Perdido me acho, sem pudor  
A desbravar umbigos e rasgar versos
Achados nos meandros animados
Dos verbos blindados, cautelosos, 
reinventados à toda prova
Na sisudez das palavras-balas 
Que o coração lapida em frente e verso,
Quando insiste em me atirar aos ombros
O peso da cruz do ego 
Que carrego toda vez
Que me pego a caminhar sem prumo
Pelo vão minado da tua boca pagã,
Justo eu que nunca fui santo, me entrego afoito, 
Corro o risco de virar estátua, fico cego e surdo,
Pareço ter olhos de vidro, divago pecador 
Ao mirar tua retina metamórfica,
Ao passo que acabo por me achar atado 
Numa potente camisa-de-força, 
Seduzido que sou pela promessa 
Que emana desse teu olhar de vênus,
Ou seria de medusa? 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CASA DE FARINHA

Velho Vapor de Zuquinha, 
Sempre me fazes voltar ao passado,
Lá na minha Várzea das Acácias:
Os caçuás se esvaziando,
Gamelas se repletando, 
Carne de sol nas forquilhas,
Bacias de pipoca, cajás e umbus 
Enxutas macaxeiras, queijos, 
Cuscuz, coalhada e broas,
Contínuo bule de café 
Em ebulição no fogão de lenha, 
Babau de batata doce, munguzás
Jerimuns e arroz de leite, 
Beijus, tapiocas de coco, inhames e carás,
Amendoim, melado de cana e rapadura,
Milho e mandioca dando farinhas,
Feijão de corda e maxixes aos balaios;
Vejo-te velho Vapor de Zuquinha
Repleto de cheiros e ruídos da terra,
Um bom bocado de doces lembranças,   
Manipueiras, casa de farinha que me leva
Em pensamento, e me evolo ao deleite
Na vida que outrora tinhas.
Logo, o interior me chama...
Ai que saudades da minha Várzea!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

HÁ BRAÇOS

Mesmo que a jornada
Seja repleta de obstáculos,
Sendo difícil desviar
Do caminho das ervas daninhas.
E se te achares
Lá no fundo do poço,
Páre, olhe, escute, chore
Reflita muito ou pouco...
Se há corda no fosso,
Aprenda a usá-la,
Evite cortar os nós,  
Se podem ser desatados.
Há utopia na luz do túnel... 
Há outras bermas, antes do fim.
Há braços, há credos à vista. 
Então, roldane-se atento,
Dê espaço aos pés para o sobressalto,
Escale os tijolos, as paredes
Use seus laços,
Use suas asas!
Sem cera, sinceras.
Acredite no voo, dê-se ao firmamento 
De dentro para o alto, salte!
Sem medo do sol, realce,
Sem dar uma de Ícaro.
Ainda há uma via de sair do abismo
Chegar ao topo, galgar o sonho.
Ainda há tempo,
Tempo de vir à tona,
Antes de entornar o balde...
Nada de pensar na besteira
De cortar os impulsos, de súbito,
Nem armar a forca ao pescoço,
Mas usar a força plena, inteira mente
A partir do coração municiado de Poesia,
Mesmo que a corda arrebente do outro lado,
Ainda assim aguente-se, pois é possível.
Ainda assim, se há braços não apenas músculos,
Se resta coragem dentro da sua cabeça, concentre-se.
É cedo demais para se partir!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

TETO SOLAR


TETO SOLAR
(Poema dedicado ao meu filho Igor Gabriel Ludugero
que aniversaria amanhã, dia 02/09 - 15 anos)
 Igor,
tua presença
tanto me agrada
que é tal qual música
que nunca toca em nenhuma rádio,
que me traz a alegria de estar vivo,
simplesmente
de bem estar bem
em sintonia como a ouvir
o som de um violoncelo
que me leva a um mundo mágico,
que me leva para longe do mundo trágico,
que me leva direto para o mundo belo.
Nem se demora o eclipse
a esconder sol e lua, pois perto de ti
não há receio de escuridão.
Sou alvo de tua estrela, noite e dia.
Não há distância que me afaste da tua luz,
quando estou a segurar tua mão, que me guia.
Para ser salvo
só preciso do mínimo:
do teu sorriso,
da tua ternura,
não muito mais que isso.
É tudo de que necessito
para salvar o mundo, sem armas.
Certa feita, não me esqueço
de lembrar que te indaguei:
- Igor, meu filho,
qual o tamanho do Amor que sentes por mim?
De pronto, foste muito mais que direto
ao teu coraçãozinho gigante
e respondeste:
- Pai, sei não, mas acho que te amo até o teto!
Isso me bastou. Não é o máximo?
Calaste-me o espírito.
Fiquei quieto, sem palavras.
Senti-me o homem mais rico do mundo,
o mais importante, de fato.