CABEÇA DE BOI, por João Maria Ludugero
Como em turvas águas salobras
Na vazante da enchente do rio,
Eu sinto o boi ao meio submergido
Depois dos destroços do estio
Dividido e subdividido em ossos,
Onde rola à beça, enorme, a cabeça.
Boi destroncado, boi morto, boi desfeito.
Verdes juazeiros de paisagem calma,
Convosco – altas, tão marginais!-
Fica a alma, a esbaforida calma,
Atônita para jamais ser afoita na seca,
Pois o corpo, esse se esvai com a vaca desvalida,
Completamente atolada, sem alvoroço.
Boi morto, vaca morta, bezerro órfão.
Boi esfacelado, boi descomedido
Boi espantosamente destroçado
Morto, sem forma ou sentido tal
Ou significado. O que foi na lida,
Ninguém sabe. Agora é boi morto,
Boi desatinado, boi arrebatado, boi desvalido
Boi do adeus sem grito de alerta, despojado,
Insosso de ponta à cabeça, eiras e beiras...
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