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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

CENÁRIO


Pense bem, 
Gire com o sol a pino,
Ganhe ânimo 
Dentro do espaço cá fora,
Sinta firmeza 
No sonho em cores, 
Com os pés no chão rodopie, 
Se inteire ao contemplar 
O que te completa.
Não deserte do oásis,
Dê a volta nesse mundo de Deus.
Acorde, mexa-se, 
Dance ao vivo, 
Mesmo sem saber dançar
Surpreenda-se, 
Recrie-se, reinvente-se,
Pois no grande palco da vida,
Temos que ser bons atores,
Aprenda a ter sede na beleza.
Saiba que a dureza da lida
Não favorece amadores!

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

TIC-TAC


Do relógio que me deste 
Soltou-se um cavalo
Sem rédeas, ele ora passeia 
Pela loucura das horas acesas
Salta ponteiro meio dia a dia
Enquanto bate a pino 
Todo santo dia inteiro.
Até deu de acordar meus olhos mais cedo,
 No desespero de perder as horas e a ideia.
Num átimo de segundo, de pronto 
Temo que ele se queixe, se avexe
E, saudoso da sua toada de costume, dispare
Retardando a catraca do tempo em desatino.
Quiçá ele volte a ser um cavalo que se preste 
A tempo de se mostrar partido ao meio
Sem ficar prostrado na lida, a pastar 
Sem escoras nem eiras, sem esporas
Bem na beira da represa 
Das águas verdes-musgo
Do açude do Calango, 
A 'tictaquear' o destino 
Que lhe ponteia.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

SEMPITERNO, UM POEMA ÀS ESCÂNCARAS


O poema todo se esparrama,
Se esfarela, quebra a massa podre
Gasta saliva, fere a língua, enrosca
Leva cuspe, chute, tiro, tapa na cara,
O poema enverga e empena, transfigura
Mas escapa bem apanhado a tempo
Passado a ferro e a fogo em brasa
Se transforma, se amolda, se liberta
Do idiota que o prende 
e o tortura sem trégua
O poema não é bula nem placebo,
Apesar de vezes parecer remédio
Mas ante o culto do paliativo
Moribundo, cala-se em coma
Mas se cura por se achar antídoto.
Diante dos arremedos 
da lida não se entrega,
Em face de mostrar a cara a gosto
E, diante dos fatos, mostrar a língua
Escancarando às brochuras do medo
Arredando o tédio que mata à míngua,
O poema renasce após descer 
ao quinto dos infernos
Levando mil anjos e demônios na garupa
Mas, diante da impermanência das coisas,
Do desassossego ao desgoverno, 
brota, aflora e sobrevive,
O poema não se preocupa, desde logo
Passa a ser eterno.

O VALOR DAS PEQUENAS COISAS (VALHO MAIS QUE TODAS AS PÉROLAS DO MUNDO)


Eu gosto de viajar no tempo, 
recordar das coisas boas da vida 
e dos momentos vividos ali 
na minha Várzea das Acácias. 
Comecei minha vida escolar 
no Educandário Pe. João Maria 
– eu tinha pouco mais de sete anos. 
Minha mãe fez uma bermuda azul-marinho 
e uma camisa de volta-ao-mundo branca, 
nos pés meias brancas e o famoso Conga. 
Todos os dias era tempo de sonhar 
cheio dos afazeres escolares.
Que saudades da professorinha Maria Fernandes, 
a dona Marica de Seu Otávio, 
que me ensinou a ler, a escrever e a aprender a tabuada, 
enfim a fazer conta da lida, tirando os nove-foras!
Pintávamos a manhã inteira. 
Quando não escrevíamos ou pintávamos, desenhávamos; 
quando não desenhávamos, cantávamos; 
quando não cantávamos, brincávamos; 
quando não brincávamos, comíamos 
a mais deliciosa das merendas 
preparada por dona Benedita Rosa. 
Aprendi que o que conta 
é nossa postura defronte das situações. 
Talvez esse seja o maior ensinamento 
que a vida me deixou 
- Ora vivo o presente intensamente. 
Busco me contentar com o hoje 
e descobrir as coisas boas 
que estão à minha volta a cada momento. 
Procuro me contentar menos 
com um possível objetivo 
a alcançar e me contentar mais 
com o caminho pra chegar até ele. 
Realmente, minha viagem é 
muito mais interessante que meu destino. 
Como não sou capaz de prever com absoluta certeza 
o que ocorrerá no próximo minuto e as coisas são como são, 
só me resta viver o agora e fazer minha própria História. 
Todas as pérolas que eu valho não seriam suficientes 
para compensar tudo o que minha mãe Maria Dalva, 
muitas vezes sem se dar conta, me ensinou. 
Mas o principal ensinamento de todos 
o mais precioso talvez seja esse, 
que divido contigo agora: 
Eu sempre soube desde cedo, 
porque ela me dizia com imenso orgulho: 
- Joãozinho, meu filho, nunca se esqueça disso,
você vale muito mais 
que todas as pérolas do mundo!

domingo, 19 de agosto de 2012

A VELHA ALGAROBEIRA, por João Maria Ludugero



E a professora plantou uma árvore
Bem ali no recreio 
Da Dom Joaquim de Almeida. 
Perto do muro, a árvore cresceu, 
Ganhou altura e ficou frondosa. 
Mais tarde, demoliram o muro 
Para expandir as alas da escola. 
Quiseram derrubar a algarobeira em flor, 
Mas a sábia professora 
Zilda Roriz de Oliveira, 
Munida do seu espírito 
Ecologicamente correto, 
Discordou desse ato insensato, de fato 
Abraçou a árvore, ganhou a causa. 
E a árvore ficou pra enfeitar a praça 
Do encontro levantada no centro 
Da minha Várzea das Acácias. 
Ora a antiga algarobeira 
Verdejante se embalança 
A cantar sob a brisa 
Que chega amena, 
Tornando-se cantiga a me ninar 
Ao cair da tarde 
Quando o sol se deita!

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

SIRIGUELAS (UM POEMA DE DAR ÁGUA NA BOCA)


Plantei um pé de siriguela
Lá no quintal da minha modesta casa. 
Já vislumbro ele carregadinho de frutos
Começando a amadurecer, tão bonito,
Atraindo sanhaços pro meu jardim.
Mas que riqueza! 
Vou poder acordar cedo 
Pra adubar a terra, 
Cuidar da lida com avidez  
Só pra ver de perto brotar, reverdecer 
Meu pé de siriguela no maior carrego!
Só de pensar já fico com água na boca.
Quero me fartar, colhendo o dia com gosto 
Cheio de frutas verdes, amarelas
E vermelhas, vou me pendurar afoito
Nos galhos, alimentar minhas brincadeiras.
Já descobri que tenho alma de passarinho
E quero lá fincar uma vida inteira, de certo,
Escutando a vida a se morder com os olhos,
Livre e solto nas estripulias de menino
Encantado nessa cantiga regada 
Pela polpa amarela da siriguela,
Ao me derramar inteiro 
Em suprassumos e néctares
Pelas quatro bocas da minha Várzea!

POESIA: EU SOU DA TUA LAIA!

Eu faço poesia com a alma
Eu teço versos consentidos
Mesmo sem rima nenhuma. 
Sou poeta, já nasci assim 
Desde cedo que me reinvento, 
Crio, recrio o poema como quem reza, 
Baixinho eu grito dentro dos nichos 
Só pra dizer aos santos que nunca fui anjo. 
Escrevo palavras ao vento em desafio 
Só pra sentir o horizonte que bebo 
Só pra me achar assim oásis-meado, 
Sem matar a sede do que me excita a fio: 
Fazer poesia a torto e a direito, 
Sem a pretensão de ser cabotino! 
Bem sei que há muita gente nessa raia, 
Mentes conhecidas, 
Ou que querem ser conhecidas 
Como poetas, 
Talvez um bocado 
Seja genuíno 
E outro magote soe falso, 
Rondando o recinto sagrado da poesia, 
Tentando parecer autêntico. 
Nem preciso dizer 
Que sou verdadeiro, 
E que faço parte dessa laia, eira e beira, 
Que ainda acredita com toda força 
No verso solto que me liberta das algemas 
E que me faz viver de recomeçar, 
Reinventar-me a partir da poesia 
Que traço, a que me faz a cabeça pensar sério 
Mesmo que seja de brincadeira, 
Todo santo dia!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

VÁRZEA: LENDA DA PAIXÃO


Do Vapor observo 
O sol mergulhando no rio
E o Joca se lança 
Onde a vista alcança.
Vejo minha modesta casa 
Que fica lá em Várzea, 
Terra de Bita Mulato, anarriê! 
E das tisnas, espelhos, fitas e brilhos
De Mateus Joca Chico, ê boi da cara preta!
Seara de luz onde a liberdade me orienta,
Onde o horizonte beira o céu da paisagem 
De um eterno verão da poesia que invento 
Feita de andorinhas nunca sós a me levar,
Posto da lenda do carro encantado 
Ao luar do agreste
Donde pulsa a cantiga 
Que alavanca a paixão
Que aboia os anseios pelas quatro bocas
Que perambula pela rua das pedras
E ganha a rua grande de outrora, 
Sob as pegadas da mulher que chorava,
Mas agora sorri satisfeita, de flor no cabelo,
Faceira ronda a praça de encontro ao tempo
E encanta este amante poeta varzeano 
De pêlo nas ventas,
Que passa de relance 
A assanhar as tranças 
Das pastorinhas de Joaquim Rosendo,
Encarnando cordão da cor da alegria, 
Que tange a tristeza da vida dessa gente
Que ainda acredita na força da lida
Que canta seus versos infestados 
De amor e de esperança!

domingo, 5 de agosto de 2012

ALVARÁ DE SOLTURA (LIVRO-ME SOLTO)


Não careço 
de camisa-de-força
nem menosprezo 
a camisa-de-vênus,
mas preciso me vestir 
de uma poesia linda,
de uma poesia lida, 
de uma poesia advinda, 
vinda e vivida, passo a passo
feita da vida nua e crua,  
toda assim tecida na lucidez 
da minha loucura esplêndida.
Eu preciso de um alvará de soltura,
escrever e ler me solta a cuca,
livro meus bichos, sem algemas.