REZADEIRA DALILA, MINHA AVÓ,
por João Maria Ludugero.
Como me lembro da sua ternura, do seu carinho,
Do tempo que convivemos juntos.
A senhora tinha uma luz e uma presença tão forte
Que se assimilava a ser mesmo filha de Sansão!
Bastava te olhar para me sentir feliz,
Aquele Deus que existia dentro de ti,
Parecia ser único, e era diante
De tamanha fortaleza!
Eu não olhava para o céu,
Olhava para a Senhora e via Deus,
Sua voz calma e suave, a rezar,
A bendizer suas possantes ladainhas...
Chegava sim a me repreender,
Mas com carinho,
Nunca apanhei,
Mas levei muitos cafunés na nuca,
Sem me atrever a ter medo na cuca...
Até fazia coros santos,
Com jeitinho a Senhora me ensinava,
Seus longos silêncios me acalmavam,
Parecia adivinhar o que eu queria,
Era generosa, cheia de candura,
Lembro das caminhadas pelos trilhos
da Várzea até às casas dos sítios do Itapacurá
Quando a gente visitava o tio João Pequeno,
As estórias da carochinha que me contavas,
As quitandas num forno à brasa cheirando a alecrim,
O cafe “moidinho“ na hora no pilão ao alpendre,
Sem medo de bichos ou de grilos
A senhora se ajoelhava e vasculhava
por debaixo das camas todas noites,
De manhã levantava antes de todo mundo
e já ia para a luta diária, a correr dentro da lida
De jirau em jirau, a se ocupar na doméstica peleja.
As onze da manhã o almoço já tava pronto,
Às cinco da tarde o jantar também estava no ponto,
Juntinhos de noite à beira do fogão de lenha,
Ficávamos lembrando casos antigos
Dos que já tinham ido embora pro andar de cima...
Vovó Dalila quanto tempo passou,
Mas ainda me lembro tanto da Senhora,
Do seu sorriso doce,
Do seu olhar terno,
E procuro te imitar na sua sabedoria universal...
Ah! vó ! se eu conseguisse, ter só um pouquinho da sua astúcia,
Obrigado, pelos dias que pudemos ficar juntos,
Agradeço por ter a senhora existido,
E ter me feito tão feliz, muito feliz!
Ainda te amo muito, viu?
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