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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

POESIA COM FÉ E ÁGUA-BENTA
















POESIA COM FÉ E ÁGUA-BENTA

Autor: João Maria Ludugero

Sou poeta varzeano
Minha utopia é caminhar
Sou potiguar eu não nego
Sou filho da poesia
Versando eu faço rima
Rimando trago alegria
Por isso me denomino
Vendedor de fantasia,
Sem esquecer de lembrar
Que ali na minha Várzea
Vendi água-benta um dia

Em meus poemas
Com fé, canto
Eu não me canso
Eu con/verso dano a bulir
No sentimento de um povo
Versejo o velho e o novo,
A dor e a alegria eu canto

Canto e espanto os males
Canto e afasto ziquizira
Des/quebranteio
Com Credo, reza forte
E até ponho cisco
Em olho-grande
Faço criticas, construo,
Denuncio... encarno
E também peço socorro
Quando peno minha alma,
Quase abandona o corpo
Da minha terra bendita
De saudades quase morro!

ALQUIMIA

Autor: João Maria Ludugero

Faz tempo, ouço um bater
sempterno de cascos
a galopar, a calvagar
pelos teus caminhos sem cancelas
nesse viver incansável
Pela estrada de terra de Zé Canindé.
Intacto me revejo nos mil lados
Desse meu poema.
Na lâmina das águas,
Circulam as memórias
e a substância de palavras
que nunca ficarão esquecidas
no desvão da vargem invadida

Sei que há tempos
Te encontro nua a desabrochar...
Sei que nem toda flor desabrocha,
Nem tem endereço certo,
algumas o vento faz desabar
Feito rochas no despenhadeiro:
Livres, leves e soltas ao vento,
Seixos livres da posse
Esperando o ar por vir ex-ter-miná-las

No teu coração de fogo
Escorre um sangue de saudade,
Como se fosse alquimia
A colher o bálsamo
Pra toda a dor
que corre pelos meus versos!

No meu sangue corre um rio,
No teu Joca corre o amor...
Corre muito, em demasia;
Em versos soltos, sem rima,
No meu sangue existe água.
No minha Várzea... há poesia!

O ESTRELADO BEIJO DO CALANGO

















Léguas e léguas,
Na caminhada,
Já não acelero o passo
Não desisto
Não desespero

Piso satisfeito,
Embora descalço,
No sol a pino
Ainda pleno,
Molho meu rosto
No orvalho instantâneo
No mormaço
No Vapor que sobe
Da água parada
No fundo do poço

Eu calangueio no asfalto
Assim furto-me às dores
Enquanto o peito
Encontra seu destino
No cultivo de lembranças
No fim da tarde amena
Onde vem o vento soprar
Ressuscitar promessas
Que nos açoitam longe
Sem estribos nem rédeas
Muito além das margens
Do velho açude

E o pensamento voa longe
Se esvai com a tarde,
A vagar em fila
A andar pela Várzea
Até o sumidouro da luz
Que nos convida ao célere lusco-fusco,
Enquanto pirilampos fazem a festa
Na sombra que cai com as estrelas
Que brilham na cadência  da noite
Que se irradia incansável
No cérebro deste poeta,
Que ainda insiste em vadiar
A pegar carona,
Só pra se levantar
Com as estrelas
Que descem pra beijar o Calango

UMBILICAL

Meu caro amigo,
Não existe outra Várzea, 
Nem outro Calango,
Nem outro rio Joca,
Nem outro Vapor existe
Nem outros mesmos ares,
Apesar de haver olhares
a ver outros lugares

Porque a cidade irá atrás de ti;
As mesmas ruas te atravessarão o peito
Dando em becos que interceptam sem fim
As mesmas ruas, encruzilhadas,
Nos mesmos espaços do espírito
Que passam da juventude à velhice

E tu te perderás na utopia
De novos caminhos, desnudo,
Sem que outras falas te sirvam
Mesmo que outros dentes teimem
em esmaltar teu siso,
Outros sulcos se escavem na tua face;
A tua boca não verá outro gosto tão singular,
Porque os teus cabelos escanecerão
Dentro da mesma cor
Daquela casa caiada em que nasceste!

Ah! então não vês, amigo,
Que apesar de toda fuga,
Estais emaranhado nesse lugar
Onde enterraste o umbigo
Sem que a tua vida valha nada,
Sem que volvas às tuas raízes e ao sonho
Nem que vás procurá-los nos confins da terra?
 
De fato,
Pobre daquela infeliz criatura
Que não acorda a sonhar...
A sonhar acordado com os pés no chão,
No chão daquele lugar que existe
Em algum ponto do coração do mapa.
Só sei que a minha beleza existe e se chama Várzea!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA (NOSSO TEMPO, NOSSA GENTE)













NOSSO TEMPO,  NOSSA GENTE 
ARQUIVO BAÚLUD: UM ÁLBUM
DE RECORDAÇÕES PRESENTES

Além de divulgar as coisas bonitas e os costumes sócio-histórico-culturais da nossa terra, esta é uma saudosa página deste site, digo saudosa, não sudosista, e esta minha  ideia partiu do espírito de poder partilhar com todos aqueles que nasceram, vivem ou viveram em Várzea e que hoje podem se encontrar dispersos pelo Brasil afora, um conjunto de imagens e descrições conjugado com textos e poesias, que os faça recuar no espaço e no tempo e os leve a reviver a nossa amada terrinha, acontecimentos, a vivência da gente de hoje, bem assim  gente de um outro tempo, vivido no belo e singular lugar, nascido entre o rio Joca e o açude do Calango...Nossa Várzea!

Com as saudações do Poeta
João Maria Ludugero

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA












MINHA TERRA, MEU AMOR...

COMPARTILHAMENTO DE IMAGENS

Esclareço, desde já, que todas as fotos que aqui apresentarei nas "Memórias da Nossa Várzea, Minha Terra, Meu Amor..." integram o 'arquivo Baúlud', álbum que estou tentando «arrumar» tanto quanto possível de modo a dar uma ideia do real, e só será possível graças à compilação de fotos dispersas encontradas neste álbum pessoal, no álbum de parentes e amigos da nossa Várzea, isoladas a partir de filmes, publicações e recortes de jornais e revistas, e ainda de outras que encontrei publicadas nas minhas viagens pela Internet. Quanto a estas, expresso aqui os meus agradecimentos a todos varzeanos que estejam em foco nessas publicações, prontificando-me a retirá-las, se para tal vier a ser contactado, tendo em vista o devido respeito às imagens que não estiverem em domínio público ou à pessoa que permita o direito para uso dessas fotografias e imagens, nos termos da legislação que trata dos Direitos autorais.
Com os agradecimentos e cumprimentos
do Poeta João Maria Ludugero.
Forte abraço a todos!

MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA, MINHA TERRA, MEU AMOR...

CHEIROS QUE FALAM:

SABORES VARZEANOS

Autor: João Maria Ludugero

Tapioca, beiju
Farinha de mandioca
Piaba, cará, jacundá
Buchada de bode
Sarapatel, picadinho
Bolo preto, raiva,
Carrapicho,
Quebra-queixo
Grude de goma
em palhas de bananeira
Sequilho, solda, cocada
Queijo de coalho
Mateiga-de-garrafa
Carne de sol,
Feijão-verde
Farofa, jerimum
Galinha caipira
Caju, umbu, cajá
Siriguela, pitomba
Caldo-de-cana,
Mel, melado e garapa
Etc etc etc...

Para alguns pode soar estranho os nomes supraditos.
E para outros até serem palavras desconhecidas.
Mas todos são sabores varzeanos.
Quase tudo aí em cima se encontra na feira.

A segunda coisa que sempre faço nas vezes
em que apareço em Várzea é ir à feira aos domingos.
A primeira é cumprimentar os parentes e amigos.
Dá gosto andar pela feira. Sentir seus aromas,
escutar uma ruma de vozes com calorosos sotaques
de sons arrastados, que soam como cantigas aos ouvidos da gente,
e ver as fisionomias muitas vincadas pelo sol inclemente do agreste.

Vale a pena curtir essas coisas simples.
Vá à feira aos domingos. Converse com o povo.
Quando visito Várzea, costumo fazer isto.
E você faz isto sempre?
Lembrou de todos os sabores aí de cima?
E os cheiros? Sua memória olfativa ainda os têm presentes?
O que mais foi esquecido na lista acima?
Comente. Deixe o seu recado. Partilhe aqui suas lembranças.
Deixe esses aromas, esses cheiros falarem alto,
pois fazem tão bem ao corpo e à alma da gente!

sábado, 25 de setembro de 2010

VAPORIZADOR

Autor: João Maria Ludugero

Sou um pouco de tudo,
Não sei ser talvez nem acaso
Não sou mudo
Nem quando estou calado
Não peço aparte,
Abro o verbo inteiro
Sou um raso tão fundo,
Sou duradouro
Até quando pareço efêmero
Sou imenso e intenso,
Sou mais que um riacho
Com seixos imersos
polidos no centro

No coração carrego uma Várzea
Que não me deixa ser vazio
Nesse mundo de Deus,
Nem morno nem insosso

Eu sou salubre cacimba
No salobro rio Joca
Sou denso, sou o corpo
Do poema, sou ar e vapor
Sou de versos e reversos,
Tenho espaço de sobra
Só pra deixar a vida decidir
o ditame da festa,
Sou todo feito de amor!

Eu sei que estou aqui, de passagem,
Sou a luz que ainda resta,
Sou um pouco de vento,
Sou mormaço e relento,
Sou a chuva e a brisa,
Sou a sombra precisa...
Sou varzeano, sim senhor!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA


MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA,
MINHA TERRA, MEU AMOR...

Autor: João Maria Ludugero

OS JEGUES

Na década de setenta, muito antes da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern)  implantar o sistema que garante o fornecimento contínuo de água de boa qualidade a Várzea (a água encanada chegou em 1981), os jegues ou jumentos eram animais muito importantes em Várzea, principalmente pelo fato de serem os veículos condutores de água potável transportada dos açudes e fontes de águas dos ariscos para as residências, uma vez que a cidade, no que pese estar à beira do rio Joca, não dispunha de água tratada e encanada.

Quem quisesse dispor do líquido para atender às necessidades básicas tinha que possuir um jegue ou pagar a água aos proprietários de um desses animais.

Naquele tempo, os jegues eram encarregados de transportar os barris de madeira, cheios de água até às residências. Cada jegue transportava 4 barris, cada um com aproximadamente 20 litros d´água. Era conhecida como uma "carga d’água" e esses animais não tinham outra atividade a não ser passarem o dia todo indo e vindo das casas para as fontes d'água e vice-versa, sempre entregando água. No final do dia, eram recompensados com muita água e um bom feixe de capim.

Ao tratar aqui desse tema, recordo-me dos tempos de criança na cidade de Várzea, onde meu inesquecível irmão Dedé e o amigo Joaquim 'Quincas' Anacleto transportavam seus mansos jegues com cargas e mais cargas-d'água do Arisco, fonte de água mineral perto da cidade.

Nos dias atuais, por ocasião dos festejos varzeanos, seja durante os folguedos de São Pedro, seja nas manifestações culturais realizadas durante o mês de agosto, na famosa Semana da Cultura, promove-se a corrida de jegues, um ao lado do outro numa disputa de velocidade. Os animais monitorados pelos seus donos ficam emparelhados e, dada a partida, saem em desabalada carreira, em linha reta, até a vitória. E tudo acaba em festa. Digo acaba, como força de expressão, pois a alegria do povo varzeano, essa continua em disparada!

EXPLOSÃO DE CORES E AROMAS

Autor: João Maria Ludugero

Lá na minha Várzea,
Caminhando no mato,
Aprimorei bastante visão e olfato,
Se por vezes até espetei o pé, de fato
Se vi inseto, cobra e lagarto,
Numa explosão de cores e perfumes,
Foi pra melhor te conhecer, minha terra,
Pra mergulhar fundo no teu verde-mundo, bem farto,
A me banhar no açude do Calango,
Que me furta-cores dos tempos difíceis
fazendo-me lembrar e sonhar além
do verde-musgo das águas.

Nas macambiras, cactáceas e gravatás
Veem-se sapos, tatus e preás
Na mata agreste pintassilgos e sabiás.
Alguns espinhos espetam muito,
Enquanto passarinhos cantam demais!

Mas o que mais me dói no peito
É a saudade que em mim se expande
Por estar tão longe do meu lugar,
E não mais sentir o cheiro do mato
Dos marmeleiros em flor,
Perfume que guardarei pra sempre
Só pra te sentir a ver de perto,
Minha doce Várzea das Acácias!

MEDITAÇÃO
















Meu pensamento vai longe
Eu medito na fonte da paz
Centrado ali
Na minha Várzea,
Sentado no banco
Da praça ao encontro
da paz verdadeira
Sob a majestosa algarobeira
Na sombra mesclada
De um instante verdejante
Invocando melodias
Cantando sentimentos
Partilhando sonhos acordados
E outras novas esperanças
Em forma de cor e luz
Riscados pelo canto
Do bem-te-vi
Em notas de poesia
No corpo desse meu
Simples poema
Que me fez viajar
Sem tirar os pés do chão
Que me dá chão: minha Várzea!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

MENSAGEM DE AGRADECIMENTO DA PROFa. GABRIELA PONTES - IDEALIZADORA DA SEMANA DA CULTURA-VÁRZEA/RN.


VÁRZEA, 27 de agosto de 2010

Caro João Maria Ludugero,

Meu grande abraço!

Ao fazer uma leitura de mais uma mensagem sua dedicada a mim, senti o carinho e o respeito que me tem! Assim, possuída de tamanha emoção, com profundo reconhecimento, quero agradecer a esse "menino" que vi crescer e que hoje tenho a alegria da certeza de ser um grande homem que, mesmo fisicamente distante da sua terra, de cada um de nós, volve seu olhar amável para a sua terra, a nossa Várzea, e com a grandeza do seu espírito sempre presente, expressa um sentimento de amor a estes que distantes, mais sempre perto do seu grandioso coração, estabelecem também um vínculo afetivo, estreitando cada vez mais os laços dessa eterna e verdadeira amizade!

Aguarde. Estou apenas começando a expressar a admiração que tenho por pessoas que, assim como você, merecem o reconhecimento dos seus irmãos varzeanos!

Venha comemorar conosco os 30 (trinta) anos da "Semana da Cultura" em nossa Várzea, pois você faz parte dessa História!
Abraços.
Carinhosamente,
Gabriela Pontes

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Várzea - Rio Grande do Norte - Brasil

Várzea - Rio Grande do Norte - Brasil

Cidade da região Agreste Potiguar, microrregião do Agreste Potiguar. Foi desmembrada de Goianinha em 20/12/1959, está a 59m de altitude, 84 Km distante de Natal e em 2007 o IBGE estima sua população em 5.207 habitantes.

Mesorregião Agreste Potiguar
Microrregião Agreste Potiguar

Municípios limítrofes Ao norte: Jundiá. A leste: Espírito Santo. A oeste: Santo Antônio e Passagem. Ao sul: Nova Cruz

Distância até a capital 84 quilômetros

Características geográficas
Área 67,245 km²
População 5.207 hab. est. 2007
Densidade 77,43 hab./km²
Fuso horário UTC-3
Indicadores
IDH 0,695 PNUD/2001
PIB R$ 10.958.000,00 IBGE/2004
PIB per capita R$ 2.230,00 IBGE/2004

População

A população do município, segundo o Censo de 2007, realizado pelo Instituto Brasileiro de Estatística Geográfica – IBGE, é de 5.207 habitantes, depois da separação populacional resultante da criação (e instalação) do Município de Jundiá. Depois desse censo, não houve nenhuma outra contagem oficial da população no Município de Várzea. No entanto, vários órgãos públicos fazem estimativa da população atual, dentre eles, destacamos o próprio IBGE, que, nos anos seguintes, após o Censo, realizou estimativas oficiais. Isso aconteceu para que o Governo Federal desse direcionamento aos recursos reservados para os municípios. Ele estabeleceu critérios técnicos para implantação de programas voltados à população. Por exemplo: O PSF – Programa de Saúde da Família, que tem como critério, o número mínimo de 4500 habitantes para atendimento por equipes. Em Várzea, temos duas equipes do PSF, pois, como pôde-se ver, a nossa população é superior a 4500 habitantes.

O IBGE divulgou, em 8 de junho de 2007, estimativas populacionais de todo o Brasil. Esses dados, como bem ressalva o IBGE, devem ser usados somente em casos de extrema necessidade, apesar de serem divulgadas no Diário Oficial da União. Para o Município de Várzea, por exemplo, a população estimada foi de 5,207 habitantes, tomando como base o mês de maio/2007 em relação ao último Censo realizado em 2006. Tivemos, conseqüentemente, uma redução na população de aproximadamente 3,2%. Estes são os dados oficiais divulgados pelo referido instituto sobre o Nosso Município. Se é a realidade ou não, só a realização do próximo Censo irá esclarecer.

História

Em terras banhadas pelo Rio Jacu e pelo Riacho Várzea, começaram a surgir, no final do século XIX, os primeiros sinais de um povoamento. Agricultores motivados pelo crescimentos das atividades agrícolas e pecuárias no município-sede de Goianinha, decidiram buscar novas terras para o trabalho. Essa busca por novos territórios chegou à região situada nas proximidades do Riacho Várzea, no início do século XX, dando início à exploração da área com a instalação de sítios, fazendas e moradias.

Era o início da comunidade de Várzea, fundada por Ângelo Bezerra, nascendo forte, impulsionada pela prosperidade na agricultura e pelo bom desempenho na pecuária. Durante toda a primeira metade do presente século, o povoado, pertencente ao município de Goianinha, manteve um crescimento gradativo, baseado nas atividades do campo.

Em 20 de dezembro de 1959, pela Lei número 2.586, Várzea desmembrou-se de Goianinha, tornando-se município do Rio Grande do Norte.

O município de Várzea está localizado na Região Agreste do estado, a 84 quilômetros de distância da capital, com uma área de aproximadamente 67,3 km², onde nele residem 5.207 habitantes.

No aspecto cultural, Várzea dispõe do reforço da Biblioteca Pública Ângelo Bezerra, com um grande acervo de livros à disposição da comunidade. O artesanato local é voltado para a fabricação de bolsas e esteiras de agave.

As vaquejadas de Várzea são famosas em todo o estado, sempre congregando, no Parque Municipal São Pedro, uma vasta quantidade de praticantes vindos de vários estados do Brasil.

As manifestações populares de Bumba-meu-boi e Pastoril continuam presentes na vida da cidade, principalmente, no mês de agosto, quando é realizada a Semana da Cultura do município que, geralmente, ocorre na última semana do citado mês e reúne uma extensa programação cultural e esportiva. Convém ressaltar que tal festa dispõe de uma considerável estrutura montada (palco, som, luzes), na qual ocorrem diversas apresentações culturais, inclusive vindas de outros estados. Essa é uma das épocas em que a cidade mais recebe visitantes, o que a fez ser considerada, pela Fundação José Augusto, Capital da Cultura Potiguar.

No dia 29 de junho acontece a grande festa de São Pedro, padroeiro do município, com a realização de grandiosos eventos populares e uma intensa programação religiosa.

Lei de criação do município

No dia 29 de dezembro de 1959, o Diário Oficial do Estado do Rio Grande do Norte trazia em sua oitava página a Lei Nº 2.586. De acordo com a Lei, defendida pelos Dep. João Aureliano de Lima e José Vasconcelos da Rocha na Assembléia Legislativa do Estado, estava criado o município de Várzea, desmembrando-se politicamente do município de Goianinha. O Texto a seguir é a íntegra da Ata da Instalação do Município de Várzea (Transcrita do documento original arquivado na Prefeitura Municipal):

"Aos treze dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e sessenta, no edifício provisório da Prefeitura Municipal, foi realizada a sessão solene de instalação do município de Várzea, criado por decreto nº 2586 de 20 de dezembro de 1959, a qual contou com a presença do Deputado Estadual José Rocha, do Exmº Sr. Adauto Ferreira da Rocha – Prefeito de Arês, do Pe. Armando de Paiva, Vigário da Paróquia de Goianinha e grande número de pessoas da localidade. Às 16:30 horas, teve início a sessão, falando o Deputado José Rocha, parabenizando o povo do município recém-criado, pela grande vitória obtida. Vários oradores foram ouvidos compartilhando do (....) acontecimento. Logo após, foi empossado do cargo de Prefeito do Município de Várzea o Exmº Sr. Pasqualino Gomes Teixeira, nomeado pelo decreto do Exmº Sr. Governador do Estado, de 29 de Dezembro de 1959. E para constar, eu Pedro Marinho Bezerra, lavrei a presente ata que vai por mim, secretário ad-hoc, assinada, autoridades e demais pessoas presentes. Várzea-RN, 13 de janeiro de 1960."

Primeiros moradores
Apesar de ter passado a condição de município apenas em 1959, Várzea já existia desde o século passado na condição de vila, pertencente ao município de Goianinha. Seus primeiros moradores foram os Senhores Minervino Bezerra, Genésio Coelho, José Anacleto, Ângelo Bezerra entre outros. Aqui chegando, atraído pela boa qualidade da terra, deram início as primeiras edificações do município. Em 1886 ergueram a Capela de São Pedro, cuja imagem foi adquirida em Portugal e se encontra até hoje na atual Igreja de São Pedro. Em 1930, Várzea já possuía em sua sede mais de 200 casas e, aproximadamente 3.000 habitantes, no povoado e ao redor, que, a principio, surgiu às margens do rio de nome Joca, afluente do Rio Jacu.

Geografia

VÁRZEA: Terrenos baixos e planos que margeiam os cursos d’água.
Com estas características de localização, fazendo jus ao nome, encontramos a sede do município. Localizado na Microrregião do Agreste Potiguar, dista sua sede a 84 km da capital (BR-101 Sul até Goianinha e, depois, à direita pela RN-003). Predomina o clima tropical chuvoso com verão seco, onde apresenta anualmente uma média chuvosa de 700 mm, e temperatura média de 27º C. Sua altitude média é de 59 metros acima do nível do mar. Sua potencialidade em termo de vazante e irrigação são muito pequenas, no entanto, a área do município, em quase sua totalidade, é agricultável e pode ser explorada.

Economia

Fazendas e sítios constituem sua subdivisão geográfica. Além da agricultura, a pecuária é outra fonte de renda importante da economia municipal. Na agricultura são exploradas, principalmente, as culturas de mandioca, milho, feijão, batata doce, coco baía, cana-de-açúcar, manga, caju, entre outras fruteiras. Na pecuária, é predominante a criação de bovino misto. No entanto, existe uma boa criação de aves caipiras, suínos e eqüinos. Ambas as culturas são comercializadas na feira livre do município, que acontece aos domingos. O excedente é exportado para as feiras dos municípios circunvizinhos. O comércio do município ainda é pequeno, porém demonstra sinais de crescimento bastante significativos. Existem em sua sede, atualmente, loja de eletrodomésticos, lojas de roupas, de materiais de construção, vários mercadinhos e supermercados, diversas mercearias, bares e restaurantes, açougues, oficinas mecânicas, clubes recreativos, farmácias, entre outros. Muitos dos estabelecimentos comerciais citados se instalaram em Várzea na década de 90. A partir de 2006, foi instalado um link de Internet Wireless (a rádio; sem fio), consolidando a estrutura telecomunicativa do município, além de gerar um novo segmento de mercado com o advento das lan houses e laboratórios de informática: o de Serviços.

Educação

Observando do ponto de vista da educação municipal, especificamente os dados coletados no Censo Escolar, fica difícil fazer alguma analogia sobre o que está acontecendo com a população varzeana, pois, de acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacional - INEP, (através do seu site na internet), órgão oficial responsável pela coleta de dados do censo da educação em todo o país, e que passaram a ser divulgadas a totalização a partir do ano de 2001. Com base, inclusive, em 2001, houve um crescimento anual no número de inscrição até o ano de 2004. Já no ano de 2005, houve uma redução do número de alunos matriculados. Do ponto de vista da administração municipal, observamos também que o número de matriculas na rede municipal sofre muitas oscilações em virtude de atrair muitos estudantes residentes em outros municípios vizinhos. Fica realmente difícil fazer analogia com crescimento populacional. Além de atrair estudantes de fora dos limites municipais, também existe em Várzea uma grande clientela de estudantes que optam por estudar nas escolas particulares da própria cidade e das cidades vizinhas, inclusive na capital do estado. Para esses dados, nunca foi feito estatística quantitativa. Isso é fato, porque, no município, é visível esta realidade.

Outro fator que também merece atenção, na evolução do número de estudantes existente no município, é a própria migração interna que existe. Verifica-se uma mudança constante no número de alunos entre as escolas estabelecidas em Várzea. Esse comportamento faz com que as escolas particular e estadual apresentem uma evolução diferente das escolas municipais. A comparação evolutiva da rede municipal de ensino com a escola estadual e, também, com as escolas particulares existentes no município, tiveram resultados diferentes no número de estudantes. A escola estadual, de acordo com os números analisados, apresenta uma quantidade de matriculas regular. O número de alunos matriculados oscila entre 433 (em 2001) e 551 (em 2004). Diferente da rede estadual e municipal, a rede particular apresenta um crescimento constante. Saiu de 104 alunos em 2001 para 224. Um crescimento superior a 100%. Para melhor entender o que está acontecendo com a evolução dos números de alunos existentes em nosso município, totalizamos os números de matriculas existentes em todas as escolas e em todos os níveis. O que podemos observar é que houve um crescimento constante no número de alunos matriculados, no período de 2001 à 2004. Já em 2005, houve uma redução de aproximadamente 4,8 %.

Foi no final do século XIX, que surgiram os primeiros sinais de um povoamento, em terras banhadas pelo rio Jacu e pelo riacho Várzea. Assim teve início a comunidade de Várzea, fundada por Ângelo Bezerra, que já nascia forte, impulsionada pela prosperidade na agricultura e o bom desempenho na pecuária. Motivados pelo crescimento das atividades agrícolas e pecuárias no município sede de Goianinha, agricultores resolveram procurar novas terras para o trabalho.

A busca por novos territórios chegou à região situada nas proximidades do riacho Várzea no início do século XX, começando, assim, a exploração da área com instalação de sítios, fazendas e moradias.

O povoado pertenceu ao município de Goianinha durante a primeira metade deste século. Só em 20 de dezembro de 1959, através da Lei nº 2.586, Várzea desmembrou-se, tornando-se município do Rio Grande do Norte.

Fonte: Idema-RN
Artigo da Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Várzea_(Rio_Grande_do_Norte)
Categoria: city

domingo, 19 de setembro de 2010

VAI UMA MANGA AÍ?




























Autor: João Maria Ludugero

Várzea, minha Várzea,
sabias que não chegaste a ver
que só tu tens olhos pra ver
o vento soprando sulcos na minha face
soprando sulcos na pele
cavando sulcos, que sulcos?

As rugas andaram riscando meu rosto
não com faca afiada
não com navalha fina
ao fazer a barba
não com raiva nem rancor

Só sei que o tempo riscou meu rosto
com calma, e eu não revidei
parei de pelejar com a esperança,
de lutar contra o tempo.
Ora ando exercendo VarzeAmar.
Com isso, acho que ganhei mais presença,
acho até que a vida anda passando
a mão na minha cabeça,
mas não é apenas para me fazer cafuné
ele manga de mim, mas como não sou bobo
cravo os dentes na saborosa manga da vida
A vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a fila anda.
a vida anda, sim.
acho que ainda há muita vida em mim.
a vida em mim anda passando

Acho que a lida anda passando
a mão no meu tempo;
e por falar em passar tempo,
quem será, além de mim mesmo,
que anda passando a perna em mim?
Não boto culpa no tempo, isso não!

Eu que tenho que me ver no espelho,
antes que a vida me passe a mão em partes
e eu venha a deixar por isso mesmo.
Longe de mim deixar passar em branco,
bom varzeano que sou, podes crer,
nunca que vou deixar assim ou assado,
não vou ficar a corar no tempo
com a maior cara de bunda!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A CASA DO MATO















(Foto: Janilson na Casa do Mato ao amanhecer)

Autor: João Maria Ludugero
(Texto composto para o amigo Janilson Carvalho)

Só me acalmo com um abraço forte
do silêncio que ronda a casa do mato
só quebrado pelo chilrear dos passarinhos
que longe me levam em idas e vindas
que me chamam ao interior
num contato imediato, só pra curtir
o cheiro daquela paz permanente
que eu não acho em lugar nenhum

Confesso que sou fã
de bichos, de plantas
dos pores-do-sol
que se deitam ali no alpendre
da casa do mato.
Também sou dono de nada
e de madrugadas que me assediam
dia-após-dia, sob os acordes
dessa varanda alegrense
que tanto me encanta, aos montes,
que tanto me leva ao desprendimento,
que me faz pensar no milagre da vida.

E dali posso ver toda beleza
que verdeja meus olhos, a céu aberto,
a olho nu, sem alvará ou licença.
Eu sinto que há um signficativo
aumento da verdadeira paz
que só encontro ali na casa do mato
com seu cheiro verde
com seus temperos tirados da alma
que me fazem gostar de ser assim:
- fruto do mato;
- bicho do mato;
- homem feliz de bem com a vida.
E quando tudo é cinza, meu olhar é verde!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

ARAUTO DA VÁRZEA

Autor: João Ludugero

Bem sabias, varzeaninha,
que eu viria aqui pra te ver
entoar aquela doce cantiga
que outrora um sabiá me ensinou.
só pra encantar luas meninas
mergulhadas no verde-musgo
do açude do Calango

E a gente se esquecia das horas
quando ia lá roubar estrelas cadentes,
sem receio das verrugas
que porventura viessem a aflorar
se alastrando pelos braços,
rótulas e joelhos desse menino verde
de olhar e coração que não envelhecem nunca

Na ilusão de voar, desconsidero Ícaro,
na invenção de amar, de novo, de sonhar alto,
arauto de renovadas esperanças
decolo sobre a floração da roça de mel
que plantei na minha Várzea,
enquanto a roda do tempo
vai moendo meus bagaços
nesse engenho de lembranças

Eu, menino velho peregrino,
sigo no desvão do vento moleque,
agarro-me no teu olhar-querubim,
refaço o passo, sem pena de mim,
só pra ganhar um bocadinho
da sua garapa de colibri,
provar do néctar dos deuses,
criar asas e avoar afim de chegar lá
perto do teu bebedouro colorido, menina caiana,
só pra purgar minha estranha dor,
mergulhando no melaço quente
da tua boca de céu aberto

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

PELAS RUAS DA MINHA VÁRZEA



















Autor: João Maria Ludugero

Era beco de Antonio Duaca
um beco que se perdia em outro
beco que se achava em outra
boca que ia dar nas quatro
bocas que vão ao encontro do rio
Joca que vai desembocar
no meio do mar

Uma igreja azul com São Pedro
no topo, a olhar por todos
seja rico ou pobre
que habite a rua que for,
seja rua da pedra,
seja rua do arame ou nova,
hoje quase todas rebatizadas
têm nome próprio

Ruas que outrora tiveram nomes,
logradouros de costume,
a ocupação ali desenvolvida
dava nome à rua:
era rua da matança, do matadouro
rua do curtume, da cruz, rua do cruzeiro,
rua esta que um dia fazia a cidade parar
pra rezar, acender velas,
agradecer, ou fazer festa,
rua da escola que nos ensinou
a não largar a mão de ir adiante,
botar fé na vida, perseverar
e ainda acreditar nos acordes do sonho

E agora a gente segue na lida,
de cabeça erguida, sem medo,
com a cara, a vela e a coragem,
mesmo que seja pé no chão
correndo parado no sentido
de fazer a rua andar,
pisar seus paralelepípedos
além das quatro bocas,
porvir de sedentas esperanças
antigas ruas renovadas,
rua grande, chão da minha velha infância

domingo, 12 de setembro de 2010

MENINA VARZEANA À JANELA























Autor: João Maria Ludugero

Menina que estais à janela,
olhes o vento a soprar
olhes as duas palmeiras
com as suas palhas a dançar
como acenando um adeus,
ao badalar das horas
do relógio de São Pedro

E o tempo sem pressa
caçoa da gente a sorrir,
a desalinhar suas tranças
sob o dourado sol do agreste
da tarde amena da minha
pequena Várzea das acácias
que nina o Calango
que me nina acordado
que me inunda de saudades
que me ditou esse poema
só pra ti, menina varzeana,
que na tua caminhada de costume
prendes teu cabelo à lua
com uma tiara de prata

Enquanto eu ali sozinho, espero
na praça Kleberval Florêncio
na praça do encontro
procuro me achar, pois 
"é preciso amar as pessoas
como se não houvesse amanhã"...

Mas não me vou embora de lá,
sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
que com a sua trança à lua
varzeaninha, estais à janela
a me serenar, a me ninar,
a me banhar no rio Joca

Varzeaninha que não me deixa
envelhecer o olhar nem o coração
ao abrir na minha vida
quase todas as cancelas,
sem esperar que lhe seja atirada
alguma moeda como paga ou troca

POEMA PARA UMA PESSOA BONITA: DONA SULE













Autor: João Maria Ludugero

Dona Sule, dedicada esposa
do inesquecível Seu Nezinho Anacleto;
Dona Sule, mãe de Vilma,
do Joca, Silva, Lula, Tonho, Tinha
do Quincas e da D'arquinha,
um pouco mãe de todos aqueles
que se consideram seus afilhados
(Eu quero estar no meio deles),
queria lhe dizer alguma coisa
alguma coisa assim que nasce das palavras,
mas onde buscar aquelas palavras
se elas por muitas que sejam
não podem traduzir em linhas
a doçura desse ser, dessa criaturinha
gigante demais no coração da gente!

Como me expressar diante de tanta beleza, me diga?
Não me atrevo, direto, a fazer um verso longo,
nem precisa, pois pensando bem,
cadenciam as palavras, de súbito,
e apenas deixo o silêncio falar por mim.

E o silêncio inunda todo o ambiente;
e fico calado a contemplar, a admirar
essa pessoa mais linda que repassa pra gente
o que sugnifica ter um coração assim,
nascedouro da bondade humana,
que atravessa a linha do tempo,
que vai lém dos meus versos simples,
que não têm começo nem acabam
nessa pacata poesia, sem rima,
haja vista não ter medida o coração
dessa rica criaturinha linda,
dessa pessoa bonita de ser e de viver
a que chamam de dona Sule Anacleto!

Diante dessa mulher, seus filhos falam baixinho,
deitam a cabeça no seu colo de maternal carinho
e esquecem todas as dores do mundo.
Porque, com ela por perto, a mão da paz
faz cafuné nas nossas cabeças,
dando-nos leves abraços, apertados na alma,
dizendo coisas comuns da minha Várzea,
do tempo, do seu cabelo grisalho, da calma
da sua respeitada história de vida bem vivida.

Não me canso desse silêncio, e digo,
estou nos braços da paz, sem enfado,
a observar a paz que dela emana e fica,
quando me olha a abrir seu doce sorriso,
a dizer meu nome da forma mais amena
assim como quem canta uma canção
que não toca em nenhuma emissora de rádio,
nem precisa, porque essa singular cantiga
soa mais bonita na voz da mãe
do Joaquim 'Quincas' Anacleto, escapole
duma voz suave que advém direto do silêncio
do coração dessa pequena pessoa, tão magnífica,
a que chamam de 'Sule'.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

VÁRZEA, O HOMEM, A PRAÇA E O TEMPO...





















Autor: João Maria Ludugero

No centro de Várzea,
um homem descansa na sombra da paz
com o semblante de quem
é o dono da própria paz,
satisfeito de viver a vida bem vivida,
no cerne do solo sagrado
na carne que traz um coração realizado,
integrado ao cenário do bem-estar-bem

Que venha a mim esse anjo da guarda
visitar meu poema, sem pressa,
e que traga o lume e a lenha
para o incêndio do amor
que nunca me deixa passar frio,
esse amor que é chama perene
que nunca se apaga dentro da gente

Que me venha esse anjo da guarda
que me ensinou a não desistir da esperança
e a resistir diante das ilusões
que estampam esse mundo,
que me afaste das tormentas esse lume secreto
que nos queima vida a fora, a nos proteger,
e que, mesmo parecendo apagado ou dominado, teima

É o amor essa chama acesa, ardente,
que me impulsiona a fazer esse canto
de amor e de vertente beleza
dedicado ao meu pai Odilon,
diante da paisagem varzeana,
sob o sossego da praça do encontro
do homem com seu tempo,
do homem que se confunde
com a paz desse lugar chamado Várzea
que ele me ensinou a amar,
a gostar dessa boa terra, meu chão
sobre o qual se debruça o rio Joca,
sob as bênçãos do apóstolo Pedro,
sob o bafejo dos ventos que virão!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

AH, MINHA VÁRZEA, COMO GOSTO DE ESCREVER!



















Autor: João Maria Ludugero

Eu gosto de escrever, colocar as ideias no papel, alinhá-las. Dá gosto trazer as palavras à tona, ordená-las, fazer a composição, enquadrá-las, dando-lhes novos sentidos, sem delas tirar a razão, sem a intenção desesperada de dizer seu significado, se as palavras são frias ou meramente calculadas.

Gosto dessa coisa de descrever como quem pincela o que sente, de ver a alma que existe nas palavras, que dão vida às letras. Não escrevo por nada não. Gosto de mostrar meu lugar, com orgulho imenso. Gosto tanto de mostrar minha Várzea, minha terra amada, minha condição varzeana ou coisa que o valha. Exponho-me, sim, com enorme alegria de demonstar isso, não me preocupo em mostar minha cara, ou minha cabeça achatada de nordestino, cabeça de jerimum, que seja, como diria um amigo meu. Tenho orgulho dessa beleza que carrego comigo toda vida.

Gosto de descrever minha infância, sem síndrome de Peter Pan ou coisa assim. Gosto de buscar lá naqueles dias de casulo o sol que eu conseguia pegar com a mão, esse sol que jamais me abandonou. Juro, de dedos cruzados, que recorro sempre a ele, toda vez que o socorro me tarda chegar.

Gosto de tingir o papel com minhas palavras. Elas dão mais cor à primavera que invento, recheadas de contentamento, de pescarias de sonhos acordados em pleno rio Joca, de idas e vindas ao Vapor e seus ariscos caminhos que levam a novas esperanças, a maracujás, itapacurás, lagoas e outros riachos de mel e seixos.

É por demais gratificante pincelar essas coisas simples, que tanto bem me trazem ao espírito ao descrevê-las intensamente, digo, assim com toda força, pois sou assim mesmo intenso, até exagerado, confesso, mas não sei fazer diferente nem ser morno. Gosto de recordar dos pincéis folclóricos das cantigas do meu lugar, das cirandas que nos fizeram deitar e dormir com o sereno da lua, ali na rua coronel José Lúcio Ribeiro. Essa lua que me banha a alma de prata toda vez que me vejo a brincar lá no arisco da inesquecível madrinha Onélia de seu Raimundo Rosa, junto com os amigos Janilza e Janilson Carvalho. Dona Onélia, para mim, sempre foi sinônimo da doçura e da bondade humana. Como não guardar essa gente boa no cofre do coração e atirar a chave fora, sem recorrer ao santo chaveiro Simão Pedro, detentor das chaves desse paraíso?

Por isso, carrego comigo esse orgulho de ser varzeano, de escrever, de poder dizer isso com todas as palavras, sem nunca me cansar do tempo que dedico a escrevinhar acerca do meu lugar, abrindo todas as cancelas, sem desesperar nem achar que tudo isso é besteira. Enfim, minha esperança é metida a besta. Ora, ora escrevo e vou continuar a fazer isso por muito tempo ainda, assim ando mais leve, facilitando minha cabeça a pensar... não quero perder a cabeça tão cedo, não quero passar pela vida com a cabeça a vagar pelo chão das futilidades, tal qual um jenipapo maduro que se espatifou nesse chão, em obediência à lei da gravidade. Puft, plaft, zaspt!

Calma, oh, Seu Isaac Newton, ainda tenho muito a escrever... careço de saborear a deliciosa maçã da vida, sem ter medo de que ela venha a cair sobre a minha cabeça! Escrever me atrai, faz-me viajar no pensamento. Nada vai nos separar, de unir meus versos e con/versar como quem degusta um manjar de Deus. Eu gosto muito de escrever, de amar minha Várzea das Acácias, alguém se arrisca a duvidar disso?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GARIMPO


























Autor: João Maria Ludugero

Eu garimpo as palavras, eu lavro,
cavo e escavo versos na bateia
eu abro clarões na vargem
eu desembaraço
tua trança bem feita
ao fazer a minha cabeça
na dança das horas
no encarnado crepúsculo.

Devagar o dia se apaga
abrindo sonhos acordados
com outras pepitas douradas
devagar o vento sopra a dor
devagar desmancha as pedras,
transformando-as em seixos,
areia e pó...poeira.

Devagar anoitece
devagar a gente vaga, divaga
e aquece o peito no desvão da cama,
quando as ideias adormecem
a aguardar o novo alvorecer,
momento em que o sol
também se levanta, a raiar
de mansinho pelos arredores
dos ariscos de Seu Antonio Quilara.

sábado, 4 de setembro de 2010

VÁRZEA, SEU ANTONIO VENTINHA E OS PORCOS




















Autor: João Maria Ludugero

Era comum ao chegar a sexta-feira, nos fins de semana, em vista da proximidade da feirinha-livre aos domigos, ver Seu Antonio Ventinha atravessar o rio Joca com um apanhado de porcos enlaçados um por um com uma enorme corda de sisal, a tanger os suínos, que quase formavam uma vara. E, quase sempre, Seu Zé Baixinho o acompanhava na mesma lida.

A matança dos porcos já se tornara tradição, era de costume, uma vez que esses animais caíram no paladar da gente varzeana, nas diversas iguarias da família, o que se compreende na medida em que a carne de porco e a batata-doce eram a base essencial da nossa alimentação e a auto-suficiência permitia viver sem excessivos gastos, posto que cabiam de bom tamanho nas despesas e no que o bolso permitia, diante das condições financeiras da maioria da população, para evitar que a miséria pudesse ressonar à porta daquela gente boa e trabalhadeira.

Era de costume se cevar porcos até mesmo nos quintais. Estes eram criados e alimentados com refeições à base de mandioca, macaxeira, jerimum, batata, milho, legumes e o farelo, além das sobras recolhidas nas moradias de famílias, padarias e nas queijarias, lugares onde dona Fátima Belo recolhia aos baldes essas lavagens, a fim de cochinar e engordar seus porcos, que criavam formoso toucinho.

A matança tinha lugar em Várzea, ali na rua da pedra, no alpendre do quintal da casa de Seu Antonio Ventinha. Essa atividade acontecia com o cair da manhã, no alvorecer, quando a cidade ainda dormia e a temperatura amena permitia um trabalho menos suado, ainda sob o sereno da madrugada em que o orvalho era mais do gênero de molha tolos, ao nascer do sol que apontava tímido por cima dos cocurutos.

E, ao se aproximar, a hora da matança, eu acordava bem cedo, a pretexto de ver de perto aquele ritual que se tornara importante ao desempenhar, digamos, assim, uma função social relevante para a comunidade varzeana, uma vez que aquele produto se tornara mais acessível às mesas de uma cozinha fortemente estruturada em rica tradição culinária, que quase tudo aproveitava do referido bicho.  

Seu Antonio Ventinha, um perito de reconhecida fama na arte de bem matar, sangrar e destrinçar o porco, conduzia o bicho para a operação, e com um golpe certeiro e profundo em sua cabeça derrubava-o, levando-o a nocaute,  e no pescoço consumava-se a morte pelo sangramento, que era amparado nos alguidares com a precisa ajuda de dona Rosa.

Em seguida era chamuscado o porco, seguindo-se a lavagem para o que se usava afiada faca para a raspagem, água e por vezes sabão. Concluída esta, começava a abertura, sendo pendurado com a cabeça para baixo, para se tirar o couracho, as mantas de toucinho, o subventre, o fígado, os rins, o coração, a buchada, as tripas, tudo no tempo de uma baforada no cachimbo de dona Rosa, ávida para preparar o que a tradição impunha: uma refeição de dar água na boca do varzeano: o sarapatel, picadinho constituído pelo sangue, fígado, pulmões, coração etc, capaz de saciar os paladares mais exigentes,  sem comentar dos tachos no fogão-de-lenha, repletos de torresmos crocantes de atiçar o apetite e a alma da gente.

Não é demais cingir que a matança dos porcos faz parte da nossa riqueza patrimonial e cultural, coisa que herdamos dos antepassados, através dos anos andados na seara varzeana. Recuo no tempo, procurando abordar esse assunto da forma mais clara e genuína, mais propriamente à infância bem vivida na minha Várzea. Guardo com saudade as lembranças daquele tempo em que fui feliz porque observei de perto essas emoções!

Por derradeiro, eu sei bem o que perco sempre que o tempo não me deixa visitá-lo e o tanto que ganho de cada vez que, com o tempo merecido, saboreio as palavras que escrevo, porque sei o que faço, o que sinto de verdade. Podem até surgir críticas, tal como aparecer alguém a dizer: - Virgem, Nossa, o poeta acha bonito a matança de porcos? Coitadinhos dos porquinhos, tão bonitinhos!... Mas isso me importa pouco, por que dessas pessoas "sensíveis" ando farto até à medula, pois na hora da garfada elas não deixam sobrar nem os ossos. E ainda palitam os dentes!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

VÁRZEA, EU SOU DA TUA LAIA!











Autor: João Maria Ludugero


Sou da terra do milho
da pipoca, do estouro
da boiada, do curral
do cheiro da farinhada
do coalho, do queijo
da manteiga de garrafa
da melhor carne-de-sol
estendida no jirau

Sou da terra do xerém
do feijão verde de corda,
da fava, do mungunzá,
da macaxeira enxuta
da massa da mandioca
da urupema, da goma
do pilão de dona Sinhá
do grude assado na palha
da bananeira, do babau
da batata-doce de paul
da ramada do maxixe
da melancia e do jerimum

Sou do riacho do mel
da manga, do umbu-cajá
da cana-caiana do brejo
da garapa do caju
das macambiras, do trapiá,
do anum, do inhambu,
do tejuaçu e do preá,
do vaqueiro destemido
do gado pegado à unha
dos acordes da sanfona
da terra de Cícero Cego

Eu sou conterrâneo
de dona Ana do Rego,
sou varzeano de estirpe
minha origem não nego
sou da pele morena,
dos olhos castanhos
do vale fértil do meu Itapacurá
de dona Rosa Cunha.
Levo minha vida nessa sina
com muito orgulho eu carrego
a alegria de pertencer à laia de lá!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

LAVADEIRAS













Autor: João Maria Ludugero

Falando de lavadeiras, me vem a lembrança de Dona Zidora Paulino, corajosa senhora que não tinha tempo para lamento nem lamúrias, engenhosa dona de casa, doceira e quituteira de mão cheia, ela acreditava na força do braço, ia à luta, sem reclamar da sorte. Se a vida mal lhe queria. Bem lhe queria. Muito. Pouco. Nada. Continuava a girar a roda da vida, sem dispensar nenhuma destas variantes.

Ela acordava cedo, antes do galo cantar, junto com a estrela da madrugada, ainda escuro, mas o breu não lhe metia medo algum. Seguia, de cabeça erguida, destemida, com a trouxa de roupa na cabeça, rumo ao Arisco. E não marchava sozinha, mas seguida de perto por outras mulheres que lavavam a roupa caseira, sua ou alheia, em poços, ariscos, riachos, rios, timbós e retiros, perto ou circunvizinhos, desde a Ramada ao rio da Una.

Sou testemunha ocular desse ofício. Antes de chegar a água encanada em Várzea, era frequente, muito comum ver as lavadeiras se dirigirem em busca de lavadouros, e geralmente andavam com grandes trouxas na cabeça, muitas vezes, por léguas e léguas, de lua a sol a pino, daqueles de rachar o quengo.

Por vezes, fui aos lavadouros, que podiam ser uma laje inclinada, uma pedra lisa num chão de seixos e lodo. Ali as lavadeiras ensaboavam e esfregavam com os punhos fechados, peça a peça de roupa, usando-se sabão em barra, pó e anis. E elas ainda arranjavam tempo para suas cantigas.

No instante em que as roupas eram estendidas no quaradouro, que podia ser o chão ou na areia, com o sabão e ainda molhadas, sob o sol, as lavadeiras partiam para a hora do rancho, tudo preparado ali numa trempe, espécie de arranjo com três pedras sobre as quais se apoiava a panela quando levada ao fogo de lenha ou gravetas secos.

Depois do almoço, quarada a roupa, lavava-se suavemente, tirava-se-lhes o sabão, enxaguava-se e torcia-se no ar, com as duas mãos; sendo peças grandes, era preciso duas pessoas, uma de cada lado. Colocava-se a secar em cordas, arames, etc. Depois de seca, a roupa limpa e cheirosa voltava a ser uma nova grande trouxa. E assim, as lavadeiras voltavam para casa, vestidas de satisfação pelo dever cumprido, deveras com a alma lavada e enxaguada, quando entoavam a cantiga da alegria de voltar, sem cansaço da lida, sem reclamar da sorte, porque tinham o prazer de fazer bem feito o ofício, dia-após-dia.