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segunda-feira, 30 de abril de 2012

INSPIRAÇÃO


O poema nasceu
antes de chegar ao papel.
Tinha corpo, alma
e asas próprias pra voar.
Poderia vir a ser
um lindo pássaro, 
talvez um bem-te-vi.
No entanto, escapou
ganhou o azul do céu, 
livre da moldura do alçapão
o poema ganhou o mundo,
levado pelas tintas feitas 
dentro da minha cabeça.
E o poeta segue contente
que só vendo, ao ouvir de pronto 
a cantiga, o som advindo dos versos
partidos do coração radiante
que pulsa em compasso a rutilar
na solene dança das horas, 
trazendo o mundo a girar, a girar
na evolução dos girassóis!

sábado, 28 de abril de 2012

A CIRANDA DE DEUS


Quando poetizo na lida
solto as mãos, coço as barbas de Deus
afrouxo os nós, abro as cancelas
Acendo o peito num sorriso,
portas e janelas se escancaram,
sem ferrolhos nem tramelas
eu giro a andar de carrossel
feito um menino às gargalhadas
deixo-me levar à-toa pela roda-gigante
pela alegria que se desata 
e voa colorida dentro do céu da boca
onde se gruda algodão doce
onde me besunto todo de propósito  
com teu mel de fruta madura,
com o cheiro da tua pele em flor
feito um colibri que paira no ar
só pra roubar o néctar do teu beijo
e aí, corro dentro do bailinho
ninguém segura meus pés de moleque
e haja rojão, haja estripulias
e aí, que aja o coração
diante de tamanha magia
quando me concedes essa dança,
quando Deus entra na ciranda
e tudo o mais vira festa!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

TINTAS DE POEMA PARA UM CORPO EM TRANSE


Comecei a pintar este poema
que compus em pensamento
e que tento, esboçar, consentido
estampando a nudez da rosa,
atraiçoado pela tinta encarnada
que me sangra entre os dedos.

Lembro-me do teu corpo bonito
e do desejo de te desnudar com arte,
de te moldar ao bronze, 
tecer silabas maleáveis,
inventar contornos, contorcido 
para abraçar teu corpo distante.
Não ouso em cortar os impulsos,
e as mãos primam à obra:
escolho teu perfil nunca inerte 
só pra me desencalhar o vão da memória inquieta
sublinhando a potestade que me inteira
de toda maneira assim te vejo escrita em êxito
dentro da minha cabeça feita de poesia.

Sob a luz baça do candeeiro em labaredas
desenho tua imagem em tisnas, 
aquecido em suspiros de silabas e rumores
tonifico o silêncio que soa fundo aos pincéis
na eclosão das cores de uma tela ardente,
feito uma maré que de súbito extravasa e seca 
deixando a descoberto no areal teu busto,
em alto relevo, revelo insinuosas curvas 
que aceleram o poema que acabo de criar
enfocado nas formas do teu molde livre,
encubado na descontração 
que me veste solto de alegria só de manjar,
envolto de uma nudez que nunca será castigada:
Aquela que não só me aparta da agonia
de estar possuído por um sentir assim
tão indizível em palavras de bendita magia,
mas por um Amor que me conduz maiúsculo, 
seduzido aos cântaros sob a mira 
do olhar encantado de uma criatura arteira 
alinhando-me traços, trópicos e equadores!

segunda-feira, 23 de abril de 2012

UM MEIO DE CONTEMPLAR O AMBIENTE QUE NOS COMPLETA

Depois de muitos sóis, depois de tantas luas,
parei na beira da estrada e passei a observar ao redor,
só aí foi que vi que meu caminho era árido.
Sobre a terra nua as pedras, os saibros, os espinhos,
os tocos e e as achas sem vida me feriam...
e dificultavam minha caminhada. 
Percebi que eu não cuidava direito
dos lugares por onde passava.
Então, decidi que precisava plantar um gramado
para que o chão ficasse mais macio ao toque dos pés,
árvores me dariam sombra e flores enfeitariam o meio-ambiente. 
Aos poucos o meu chão foi mudando os cinzas,
ganhando outras cores, até que as árvores começaram a florir
e suas flores cobriram o chão,
caindo dos galhos altos ao sabor do vento...
nem me lembro mais da terra nua de outrora. 
Ora piso sobre a grama, as folhas secas e flores caídas.
Hoje, percebo que as flores são como os poetas,
que mesmo depois de mortos ainda são capazes
de despertar nossa sensibilidade com a beleza
que deixam espalhada pelo caminho.
Os cardos, os espinhos continuam em seus lugares,
assim como as pedras, mas já não me machucam como antes;
as flores e o capim suavizam seu contato com minha pele,
amenizam o passo descalço, evitando os calos secos
e a rachadura dos calcanhares.
Encho o peito, renovo o ar nos pulmões e agradeço sempre.
Bendita foi a hora em que resolvi semear...
e como valeu a pena! Fiz a minha parte,
e ora tiro proveito do que semeei.
Sou tal qual aquele beija-flor solitário encantado
com o néctar das cores de cada estação...
Não me sinto um sanhaço só
a cantar bicando os frutos maduros,
mas feliz por espalhar sementes detre outros verões.
A natureza agradecida me completa,
e eu agraciado com tanta riqueza,
agradeço a beleza de cada lugar onde passo,
por onde deixo sementes e perfumes das flores
que ali nascerão, carregadinhas de botões
e de outros brotos a desabotoar 
em renovadas esperanças do amor 
que sustenta a nossa terra de cada dia.

domingo, 22 de abril de 2012

VARZEANO

Sou filho de Várzea
Nasci nas terras 
Banhadas pelo Joca, 
Rio de água salobra 
De areia clara, 
De cacimbas azuis,
De ariscos de água-doce,
De um verde coqueiral catolé 
Que se estende do riacho da Cruz
Até as encostas do riachão. 
Descendo da terra dourada 
Do Vapor de Zuquinha
Que se alinha entre roçados 
De milho, batata-doce, jerimum, 
Maxixe, feijão e macaxeira
Quando São Pedro apóstolo 
Ouve as nossas súplicas a cada ano
E abre as comportas do céu
E faz minha gente se encher 
De esperanças renovadas 
No horizonte varzeano toda tarde. 
Daí me vem essa inspiração precisa 
Que se arriba além do riacho do mel
E me levar a compor estes simples versos 
Só pra dizer o que todo mundo já sabe:
Várzea, 
Minha Várzea das Acácias, 
Eu te amo!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

SOLAVANCOS


Eu vejo arte por toda parte
Eiras, trancos 
Platibandas, solavancos...
Beiras, barrancos e asas, 
Sobreiras nunca estanques 
Letras em ânimo e a forma
De palavras acesas,  janelas
Que ainda florescem em casas,
Crescem em vasos à flor da pele
Sem esmorecer ao vento,
Eu prevaleço esquecendo a hora
Do fechar as abas do livro 
E a voz da poesia que me valha,
Eu não terei arrependimentos
Eu vi tantos viverem tão mal, de sobejo,  
E outros tantos morrerem tão bem ao ranço,
Sem jamais saber alcançar a beleza nata
Que sempre esteve dentro
Do amor que não é longe 
Para quem não desiste afoito
De exorcizar seus medos sem data,
De soltar seus bichos e alar desejos, 
Ao ensejo de ser inteiro e não migalhas.
Chega de mofar junto ao último biscoito da lata! 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

"Quid pro quo"



À beira de um ataque
De nervos à flor da pele,
Um copo de cólera, fúria incontida 
Ambos de caras trombudas, 
Retrato desmedido, insensível. 
Quem diria que dali nasceria 
Uma incrível atração, de súbito, 
Onde nem se cogitava paixão 
A vontade veio e trouxe o desejo. 
Mãos à palmatória, tréguas ao ódio, 
Acabaram se deixando levar juntos 
Pelo abraço que pulsa do coração batendo. 
E adeus às desavenças e aos placebos, 
Era genérico, básico o remédio 
E com sintomas de loucos e lúcidos 
Desprezaram qualquer diagnóstico. 
Nada mais de trancos, barrancos ou desafetos, 
O amor chegou amor por todos os lados. 
Chegou recíproco, sem quiprocó, 
Quebrando códigos de honra, barras e bulas,
Perseverante e respeitoso se agigantou 
Um amor prodígio que começou feito de ódio!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O PÁSSARO QUE TRAZ A CHUVA


Ao correr dentro das letras,
aprendo manhas que me dão alento,
numa forma de dizer o que penso.
... Sou médium da beleza 
do que não está prescrito,
sou lida que encosta dando alma às palavras,
corpo aberto ao movimento do poema 
mesmo quando tudo parece quieto.
Escrever é ser muitos, é ser único.
É esquecer que sou um só, louco ou lúcido,
é falar para o mundo o que a boca não deixa,
é chegar ao êxtase sem carecer se decompor.
é uma loucura insana dessas que chegam de repente
fazendo a gente mergulhar bem fundo 
a divagar no vão das coisas, consentido.
É sentir perfume na rosa dos ventos
e ao mesmo tempo se evolar na magia 
de beber cada gota do horizonte
feito um pássaro que traz a chuva.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

SANTO? NEM DO PAU-OCO!


Eu sempre ando com Fé, e voo

Eu ponho a mão de Deus 
Em tudo que faço
Mas confesso:
Não me amordace, 
Não me faça comer o pão 
que o diabo amassou,
Pois não tenho vocação 
para ser santo!
Eu gosto das coisas de Deus, aprecio
Mas não quero ser anjo nem tanto
Não nasci para beato nem monge
Longe de mim esse negócio 
De ser João-vai-com-os-outros.
Estou mais para ser 
Da vogal consoante
Talvez consentido 
A voz não emudeça 
Ao ser mais que uma farpa
Do pau-oco da lírica anarquia amante!

quarta-feira, 11 de abril de 2012

MACAMBIRA EM FLOR


Flor da macambira,
Bela e encantadora
Que cresce e floresce na Várzea
Como guardiã desafiadora dos caminhos
Do solo nativo de essências sutis
A se evolar com a brisa
Que sopra toda tarde amena,
Repartindo-se em formas coloridas
Fascinação em porte e esplendor,
Quero-te sempre assim bonita e formosa
Como um livro escrito em verso e prosa
Como páginas da lida 'varzeamar'
Que me ensinou a conjugar o amor,
Apesar da aridez dos espinhos.

terça-feira, 10 de abril de 2012

HOMEM DE TINTAS

Para não passar em branco
o homem vai pintando o sete
entre linhas
entre tido
entre telas
entre traços
entre o belo e o infinito
a olho nu
vai tecendo, a pintar seus fios
a desafiar seus labirintos,
vai deslizando pincéis
com artimanha
com engenho
dando forma e tom
à moldura da lida,
só pra vida não passar
em brancas nuvens
vai abrindo cores
sob o sol amar-elo
que escorre em dádivas
na magia do tempo a passar
num alvorecer às têmperas
do seu coração de tintas!

domingo, 8 de abril de 2012

FAZENDO A CORTE

Dizem os mal amados de plantão
que dois bicudos não se beijam.
Ledo engano:
- Acha-se um jeito pra tudo,

até pra emendar os bicos.
E haja quereres e beijos,
e haja 'tudos' multiplicados
de todos os lados, de frente,
de banda, de tromba
de cabo a rabo,
eiras e beiras...
E ajam as dádivas,
desejos que abundam
a incendiar a paixão,
até debaixo d'água,
por que não?

quinta-feira, 5 de abril de 2012

NEGATIVO


De repente, 
Aquele alvoroço
Todos correm, 
De súbito, 
Ao se aglutinar 
Fazendo pose 
Para a fotografia. 
-Olha o passarinho! 
Saiu todo mundo, 
Caras e bocas escarnadas, 
Sorrisos em flashes, 
Dentes clareados no "giz" 
Olhos puxados ao vermelho, 
Mas ninguém quis se revelar.

MARESIA

Meus olhos d'água
inundam de poesia a lua
de pingente, o coração
dança no vão tangente. 
Toca a pele rio adentro
até chegar dia a marejar.
Vendaval, barco no mar, 
enchente no peito aberto
à deriva, saudade nua,
alaranjado sol descamba 
e rebola no poente, estrela.
Até parece que minha alma
carece de encostar na tua. 
E acaba adormecida 
no teu colo
na paz do teu cafuné, 
sem contas,
no aconchego 
de um veleiro em flor,
após dobrar 
o cabo das tormentas.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

PUTA.COM


A gente nasce pra ser o que é;
Uns nascem virados pra lua,
Outros de quina pra rua,
E não carecem de piedade.
Portanto, chega de insistir
Em achar que a vida é fácil
Pra puta da esquina. Não é.
Deixa a puta viver sua lida.
Ela não carece de sua lástima.
Ela gosta mesmo é de abundância,
Quem foi que disse
Que ela quer largar essa tara? 
Ela gosta de fazer bem feito o que apraz,
Ela é puta sim, graças a Deus,
E adora fazer a fila andar,
Nem que seja debaixo de vara.
Eu conheço uma criatura
Que atura bem essa sina, de peito,
Até ganhou notoriedade 
às quatro bocas
Como "a puta do banheiro"!
E como se orgulha da vida que leva... 
Por isso, guarde sua dó pra quem precisa.
Ser puta, com todo respeito,
Pode ser uma questão de escolha!

terça-feira, 3 de abril de 2012

COAXARES


Ao cair da noite
na Várzea das Acácias,
O cão vira-lata
late que late
doido a uivar pra lua
de quina pra rua nova.
A lua baixa se emaranha
na rua do arame
onde se acha a alegria
em algazarra
que salta aos olhos
de um magote de crianças
numa rica ciranda
de marré de si.
Entre ramas de maracujá,
eu pergunto ao sapo afoito
por que ele insiste em coaxar?
Ele simplesmente nem dá trela.
E tchibum! mergulha no rio Joca
a nadar com as jias e caçotes.
E eu? eu fico a contar estrelas
na esperança de efetivar
meus três pedidos
na cadência luminosa
de alguma delas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

INTERIOR

Eu gosto da Várzea
Que me dá chão,
Gosto das casas,
Do simples gesto
Das coisas singelas
Do chão de dentro.
Eu gosto da chama acesa
Que me atiça de cor o interior.
Eu corro dentro da Fé
Que me inflama
De Esperança nova
A reverdecer o porvir
E tudo o mais ao meu redor.
O que vem por fora,
A casca, esta muda 
A cada estação,
Mas a seiva, o cerne
E a essência, não!