NATUREZA VIVA DA CASA DO MATO,
por João Maria Ludugero
Quero tecer um poema
Com jeito de mato,
Ter uma rede na varanda
Só pra me aninhar
No deitar do crepúsculo,
Espiando o pôr-de-sol,
Ouvindo o canto do bem-te-vi
E maravilhar-me
Com essas coisas simples,
Que só existem lá
Na minha casinha simples
De pau-a-pique,
Tão pobrezinha
Tão humilde,
Com seus jiraus,
Alguidares, bilhas e jarras,
Com suas panelas de barro
Assentadas no trempe,
Com seu forno à lenha.
Tão pequenina assim,
Mas quanto me faz bem estar
Na minha casinha do mato,
Fincada ali no meio da natureza.
E pra enriquecer ainda mais
Dá gosto ouvir o chuá
Do riacho do mel
Que brota do verde perto.
Sinto-me parte dele,
Ganhei jeito de mato,
Com cheiro de terra molhada.
Adoro ver a lua vespertina,
Que cedo desce ainda tímida
A fim de enamorar-me.
Não custa acrescer que a lua,
Vista da minha tapera,
É lua muito mais bela,
Toda na mira deste sonhador,
Brilha que brilha em frente do alpendre
Onde tem uma laranjeira em flor,
Ali no terreiro aonde ciscam
Galinhas poedeiras vigiadas de perto
Pelo possante e envaidecido galo,
Bem como assanhadas galinhas d'angola
Que fortemente cantam 'tô-fraco, tô-fraco',
Ao redor de onde pastam borregos e cabras.
A minha casinha tem paredes
Com reboco de taipa, é tão simplesinha!
Modéstia à parte, é ali que bem me atinge
Quase toda tarde, de pronto,
A tão sonhada felicidade,
Aquela que bonita desaba
Sobre minha cabeça, não nego,
Em forma de estrelas cadentes
Bem lançadas no firmamento,
Num céu que eu mesmo pinto.
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