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quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

COM AS TINTAS DO MEU INTERIOR: NATUREZA VIVA DA CASA DO MATO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COM AS TINTAS DO MEU INTERIOR: 
NATUREZA VIVA DA CASA DO MATO,
por João Maria Ludugero

Quero tecer um poema 
Com jeito de mato,
Ter uma rede na varanda 
Só pra me aninhar 
No deitar do crepúsculo, 
Espiando o pôr-de-sol,
Ouvindo o canto do bem-te-vi
E maravilhar-me 
Com essas coisas simples, 
Que só existem lá 
Na minha casinha simples
De pau-a-pique,
Tão pobrezinha 
Tão humilde, 
Com seus jiraus,
Alguidares, bilhas e jarras,
Com suas panelas de barro
Assentadas no trempe,
Com seu forno à lenha.
Tão pequenina assim, 
Mas quanto me faz bem estar
Na minha casinha do mato,
Fincada ali no meio da natureza.
E pra enriquecer ainda mais 
Dá gosto ouvir o chuá 
Do riacho do mel 
Que brota do verde perto.
Sinto-me parte dele,
Ganhei jeito de mato,
Com cheiro de terra molhada.
Adoro ver a lua vespertina,
Que cedo desce ainda tímida
A fim de enamorar-me.
Não custa acrescer que a lua, 
Vista da minha tapera,
É lua muito mais bela,
Toda na mira deste sonhador,
Brilha que brilha em frente do alpendre
Onde tem uma laranjeira em flor,
Ali no terreiro aonde ciscam 
Galinhas poedeiras vigiadas de perto
Pelo possante e envaidecido galo, 
Bem como assanhadas galinhas d'angola
Que fortemente cantam 'tô-fraco, tô-fraco',
Ao redor de onde pastam borregos e cabras.
A minha casinha tem paredes 
Com reboco de taipa, é tão simplesinha! 
Modéstia à parte, é ali que bem me atinge
Quase toda tarde, de pronto,
A tão sonhada felicidade,
Aquela que bonita desaba
Sobre minha cabeça, não nego,
Em forma de estrelas cadentes
Bem lançadas no firmamento,
Num céu que eu mesmo pinto.

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