EU-DESNUDO,
por João Maria Ludugero
Desnudo,
eu ficava inteiro na janela.
Não havia nenhuma vergonha
a cobrir meu corpo de amarras.
De frente e de verso,
de todos os lados,
eu me via no espelho
que se abria frente à solidão da rua.
E tudo mais o que advinha
abundava na beleza da nudez
que vinha de dentro,
que saía da moldura do quarto
e ganhava o mundo além das persianas,
de fora pra dentro, vice-versejando,
onde me banhava o sol,
eu-menino de lua ou de chuva
sob a luz do olhar travesso
que era imensa, ardente,
tão intensa assim
que me achava a rutilar,
botando no chinelo a vida medíocre,
libertando-me das algemas do que era ser feio.
Entrementes, nos parênteses vãos
do pensamento, eu corria pela lua branca.
E seguia rente às estrelas, seguro de si,
sem pré-ocupação com as verrugas
que se alastravam pelos joelhos
quando, borboletando o horizonte,
a inocência me criou encantos e sonhos
acordados no quarto do por-enquanto, antes do já cresci,
quando ainda não tinha vergonha de estar nu
a coçar a bunda na janela, a se enxergar
de tamanha vontade de ser eu-mesmo,
perfilando a poesia exposta
que já morava em minha boca,
a me limpar a vista ao verbo escrito
por me achar desnudo, atrevido,
ao me tocar a avidez da pele o lume,
sem mais turbar a mente de prontos costumes,
conhecendo as maçãs ainda verdes,
sem receio de ser expulso de vez
do paraíso.
É consabido que há corpos
que se encharcam de medos
que se recriminam por sentir o gozo,
que certamente não se tocam,
por não perceber,
a nudez da alma...
Aqui exponho a minha nudez,
que vem de dentro, liberta e sem tarjas.
Porque teria vergonha de ficar nu,
se a vida me fez assim aceso poeta?
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