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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

JOÃO MARIA LUDUGERO, POETA E AMANTE DAS PALAVRAS, por João Maria Ludugero

João Maria 2013-
Como é bom lembrar dos meus primeiros anos
lá na minha querida Várzea-RN, 

nas Escolas Pe. João Maria, Escola São Pedro 
e Escola Dom Joaquim de Almeida... 
Recordo com muito carinho e gratidão 
das Professoras Maria Fernandes (Dona Marica), 
Vilma e Dezilda Anacleto, Dona Zilda Roriz de Oliveira..
.Quantas saudades! 

Quando finalmente comecei a ler, 
virei um devorador de livros e gibis. 
Nada saciava minha imensa sede. 
Minhas primeiras vítimas foram as enciclopédias 
Lello Universal e Tesouro da Juventude,
 ambas da Biblioteca Ângelo Bezerra. 
Eu tenho muito carinho por elas. 
Eram o meu Google e Internet 
naqueles tempos da década de 1970. 
Verdadeiras chaves para a Terra da Fantasia 
e do Conhecimento. 
E eu me raspava para lá freqüentemente, 
aquilo fazia a diferença entre meus amigos de rua e eu.
A palavra falada também me encantou sempre. 
Ir ao cinema de José Honório nos fins de semana, 
ouvir um texto sendo magnificamente pronunciado 
e interpretado tem para mim um valor incalculável. 
Gostava de ver e admirar o teatro de boneco
 de Mamulengo de Seu Pedro Calixto. 

Adorava ver e ler as inúmeras revistas lidas 

pela minha querida irmã Lúcia de Fátima. 
Também sempre adorei música. 
Se a música é a fala divina, 
a palavra dita, própria, medida, cabida, ressoada, 
é praticamente uma sinfonia.
Nesta ocasião, quero saudar a palavra. 

Essa minha velha companheira de folguedos, 
amiga confidente em meus silêncios, 
parceira em arroubos, sempre junto a mim. 
É você, palavra, tão presente e importante em minha vida, 
que até o amor pela poesia me chegou por seu intermédio. 
E é você que leva o meu sentimento 
dia-após-dia, todo santo dia, 

em letras, palavras, poemas 
que escrevo com afinco, 
a desopilar o medo da cuca.

E para celebrar a flor-palavra, 
exalto um de seus maiores jardineiros, 
que a cultivava com seu jeito simples,
 mas com a enaltecida sabedoria dos simples. 
Eu o celebro e louvo, amigo Mario Quintana, 
pelos mais de 100 anos que ele teria 
se não tivesse se encantado. 
Foi você quem me ensinou que
“o amor é quando a gente mora um no outro”. 
Você também me mostrou 
o que fazer com meu coração 
de menino adolescente, arteiro e medonho. 
Isso porque você também o era, 
como pude ver nestas suas linhas:

"Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube
 o que dizer-te e este poema vai morrendo, 

ardente e puro, ao vento da Poesia... 
como uma pobre lanterna que incendiou!"

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

MEU CASTELO INTERIOR DE SAUDADES, por João Maria Ludugero

búzio e menino
MEU CASTELO INTERIOR DE SAUDADES,
por João Maria Ludugero.

- Dona Maria, minha estrela Dalva,
Eu queria estar sempre ao teu lado,
Pertinho bem próximo,
A correr dentro e alto...
Assim poderíamos construir
Muitos castelos de areia na beira do rio Joca,
Sem, contudo, querermos ser o rei, o imperador
Ou a rainha que moram lá dentro dos cômodos.
As paredes impõem limites, prendem, isolam, sufocam...
Edificaríamos apenas para continuar os acordes
De sonhos de estarmos lado a lado e rirmos juntos
A desaguar afoitos pelos arredores da Várzea das Acácias,
Quando a água destruísse a construção “desimponente”,
Fortalecendo, com isso, os laços invisíveis e possantes
Que nos uniam até fora de casa pelo interior...
Que nenhum poderoso mar seria capaz de marear!
Mas o Supremo Arquiteto te chamou mais cedo
E eu fiquei a marejar é de saudades!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

VARZEÂNIMO, por João Maria Ludugero

VARZEÂNIMO,
por João Maria Ludugero.

Sim, tenho fama de medonho, de menino peralta
verdadeiro
E pra esse mundo inteiro 
Sou um adulto-menino
Varzeano, afoito levado da breca,
Varze-ânimo com toda garra e desempenho,
Tenho o sol da alegria, tenho o dom da estripulia 
A correr dentro e alto,
Com fortuna ou sem dinheiro, estou satisfeito a contento, 
Sou o homem mais rico do mundo e mais feliz,
Tranquilo, sem pavor, não guardo medo da cuca,
Mas se invadem minha casa, atravessam meu caminho, 
Aí eu mexo os alguidares e giro a pomba, com afinco,
Posso parecer “pequeno”, mas brigo bem,
Boto Fé na lida, dou sugestão, aconselho,
Mas nunca dou rasteira atrevida
E tenho um bom coração, 
Felicidade é meu lema;
Todos sabem que eu sou Potiguar
Lá da gema varzeana,
Filho de Seu Odilon de dona Dalila,
Filho da estrela Dalva, dona Maria, 
Sonhador de bonitos acordes no chão de dentro, 
Minha cidade é um poema,
Todos sabem que eu sou, sou potiguar -
Comedor de camarão, graças a Deus,
E me orgulho de ser papa-jerimum,
Que paga promessa, de votos de Fé 
E devoção, faz novena…

Mas se preciso for,
Bato o tambor na casa de Ana Moita,
E vou que voo aos Ariscos e ao Itapacurá,
Que cavalgo no Vapor de Zuquinha
E renovo esperanças no meu lugar…
É maravilhoso, não me leve a mal,
Minha Várzea é bonita, é cartão-postal,
Povão varzeano que nasce e renasce
Além do tempo de São João e São Pedro,
Ou na Semana da Cultura, no dia-após-dia,
Varzeano das quatro bocas e do rio Joca,
Da canção de saudade de dona Zidora Paulino
E de dona Maria de Seu Odilon,
Do feijão verde e da galinha caipira
Lá dos Seixos de dona Santina,
Mas que saudade que finca as raízes
Na querida terra de Joaninha Mulato!

domingo, 27 de outubro de 2013

O HOMEM MAIS RICO DO MUNDO, por João Maria Ludugero

O HOMEM MAIS RICO DO MUNDO
por João Maria Ludugero. 


Para que servem meus pés, 
Pernas, pra que as quero? 
Para que sandálias e sapatos, 
Para que servem minhas mãos e braços, 
Se tenho asas para voar reluzente 
Inteira a mente, dentro e alto, 
Sem medo da cuca pegar os diamantes, 
Aos solavancos de qualquer maneira. 
Sou rio a desaguar potável pelo interior 
A desvendar a beleza do chão mais rico... 
Voar é viajar em ideias inspiradas 
Pelos belos ares na linha do eu-lírico, 
Advinda da imaginação arrimada, dia-após-dia, 
Em verso e anverso, lado e banda, eira e beira! 
Eu sou João Ludugero, filho de Seu Odilon 
E da inesquecível estrela Dalva, Dona Maria! 
E o orgulhoso Pai da Jordana Majella e do Igor Gabriel! 
Eis o meu terno selo de garantia, 
Com validade para sempre!!!

CAJU: A FRUTA-SEMENTE, por João Maria Ludugero.

O tempo fluiu em acessório fruto
A correr dentro e alto
No lapso entre o vão
E a castanha
Do lado de fora do interior 
Da fruta a ganhar forma
Na tênue carne verde, amarela,
Laranja ou vermelha
Onde semeio sustentado sonho, 
Que já vingou pseudofruto,
Onde o pedúnculo 
Assenta a semente 
Onde a fruta em si é o caroço 
Em forma de meia-lua no seu ápice!

SOB OS ACORDES DE SONHOS, por João Maria Ludugero


SOB OS ACORDES DE SONHOS,
por João Maria Ludugero.

Sob a mira do interior, os passarinhos cantam…
Longe os escuto, mas os trago aninhados no meu coração… 
O horizonte azul só é o nicho de um novo porvir, 
se o povoamos em acordes de sonhos. 
Na penumbra da noite escura, estrelas cintilantes o guardam… 
Nos dias de chuva, o esplendor de um arco-íris o revela…
Tecer sonhos é cavar na lida o alvorecer de um novo tempo…
É preciso sonhar… É preciso lutar…
Sonhar, lutando é navegar, a correr dentro e alto, sem medo da cuca.
Navegar é viver na loucura de ser e estar, na necessária peleja
buscando, dia-após-dia, um sorriso além…
Além do suor e das lágrimas salobras.
Além do tédio e do desalento… há um disparado sorrir, 
Um sorriso tecido de palavras e silêncios… Rio a desaguar 
em cantos e poesias… de travessuras, travesseiros e travessias… 
Um sorriso levantado pela vida que é feito de alvoradas, de amanhãs 
que desejam quebrar o relógio e renasceram no aqui e agora do nosso tempo…
Nosso tempo é frágil, volúvel e cruel…
Outros tempos teimam e almejam a poeira do mundo, 
as pedras do caminho, pois, sonham com a vida transformada…
Outros tempos querem ser paridos…a contento.
Um tempo de ternura e não-violência…
Um tempo de solidariedade e justiça social…
Um tempo de trovas, serestas e cantigas; campinas floridas 
e riachos cantantes no caminho onde água, terra, fogo e ar 
perambulam para o mar abraçando e triscando 
a incendiarem de sonhos o horizonte azul…
Viver é perigoso, canta o poeta João Ludugero…
A vida endureceu, petrificou-se e, demente, agoniza…
Disseram e acreditamos: no poder absoluto do agora…
Mas, ninguém vive alijado do canto das manhãs 
que são profecias encantadas do amanhã
que engravida a vida, sendo, contudo, abortados
pelas cinzas que eternizam as dores do presente, 
excluindo do horizonte as estripulias da História…
Deixemos a vida seguir para o mar…
Abramos as cancelas do destino…
Sonhemos. Lutemos… Acordemos.
Naveguemos: navegar é preciso…
Embora, não baste navegar à deriva… 
Naveguemos, cultivando no hoje os brotos do amanhã… 
Assim, seguiremos… Seguiremos sabendo que sonhamos 
e lutamos por um outro mundo possível… 
Pois, já não conseguimos viver sem o cais da alegria geral… 
Alegria que se achegue na primavera de todos 
e para todos os acordes de sonhos inenarráveis…
Só, assim, a vida deixará de lastimar pelos sonhos 
que lhe são diuturnamente furtados… Acorde e lute…
Avante! Ainda há chance!!!

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A REDE DA AMIZADE, por João Maria Ludugero

Dantes cantava-se que 
Até os mortos vão ao nosso lado, 
Mas o problema hoje são os vivos 
Que se esquecem que o são... 
Portanto, caros amigos, 
Sinceros, sem cera mesmo! 
Cravos ou (es)cravos da vida, 
Dentro e fora da alma em flor, 
Maior que o pensamento porvir 
Por esse destino amigo, venha logo! 
Não percas tempo que a ventania 
Dia-após-dia, é minha amiga também! 
Em terras firmes, a correr dentro, 
Em todas as fronteiras da lida, 
Seja bem-vindo quem vier por bem... 
Se alguém houver que não queira 
Traga-o contigo aos magotes 
E aqueles com medo da cuca, 
Ó Santa Maria, Mãe de Deus! 
Aqueles que ficaram com os vaga-lumes 
Com o pisca-pisca ligado na bunda 
(Em toda a parte todo o mundo tem) 
Risonhos bem venham me visitar, também... 
Traga esses outros benditos a mim, 
Porque a casa é nossa 
E o alpendre nos chama, 
Bem-nos-querendo na rede 
Em acordes movidos de sonhos!

terça-feira, 22 de outubro de 2013

JORDANA MAJELLA LUDUGERO, MINHA FILHA!, por João Maria Ludugero

Só de manjar abro a cuca,
A observar minha filha Jordana,
Que alma pacífica e delicada
Que vida pura e formosa
És a estrela d'alva do alvorecer!
Alvissareira em verso e prosa
Dentro dum botão de rosa.

E, enquanto acordas tranquila,
Vejo o divino esplendor
Da alma a voar na lida,
Da estrela Majella a sair da flor.
Anjos libertos no azul do céu,
Sobre o teu hábito leve de voar
Com os pés no radiante chão
Desdobram candidamente,
Em pálio, as asas ao léu...

E eu, dentro e alto articulado,
Sinto o dever sagrado em prenda
De te beijar- de mãos postas!
De te abençoar - ajoelhado!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

CANTO DE PASSARINHO, por João Maria Ludugero

Ao lusco-fusco, costurei a rima 
De um poema ao teu sorriso 
Só pra te mostrar como é belo 
O despertar da saudade arisca 
Que dá sentido às trilhas da lida 
Não sei como tudo principiou, 
Mas afirmo que um estrondo 
De radiante e eufórica ternura 
Esbugalhou as nossas estruturas… 
Numa avalanche que catapultou 
Uma soma duplicada de doçura 
Que se alastrou em nosso interior. 
Apareceste na minha vida 
Como um sol do amar-elo 
Raiando meu ávido destino 
Colorindo os meus passarinhos 
Ajustados ao cio da cantiga. 
Apareci na tua corte solene 
Como um rei-menino arteiro 
Semeando recados de amor, 
Pedindo ao Supremo Arquiteto 
Um regador de estrelas cadentes 
Para chorar no teu colo de arrimo 
- Sou rio a desaguar com afinco 
No manjar de um real firmamento.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

LIÇÃO EM AULA DE SAUDADE. ÀS MESTRAS, COM CARINHO! por João Maria Ludugero.

LIÇÃO EM AULA DE SAUDADE.
ÀS MESTRAS, COM CARINHO!
por João Maria Ludugero. 

O poema não vive em cela 
Acorrentado à celulose 
Quer ser rezado, expandido a giz,
Rezemos a correr dentro e alto:
Ave, poesia das mínimas perdas 
Rosas do rosário de nossas Marias 
Clareando as camisas de volta-ao-mundo 
(A)batidas no quadro-negro
Sem  o pulso das boas regalias,
Crias afoitas na coragem 
Ave, rezemos de uniformes,
Rezemos sem medo da cuca,
Ao pé da letra, a tabuada
Desde os nove-fora zero,
Das lavras bem(ditas) no coração 
Das professorinhas da lida
E das boas mães curtidas 
A fiar as tranças e os medos 
Em cada passo, outra vez 
Engomadas as vestes
Um, dois, três
Amarelinhas 
Rezemos a composição
Rezemos as palavras bonitas
No be-a-bá do ABC
Na rede de algodão 
A semente rebuscada 
Nas ciências da vida 
Os astros infindos ao borrão
Nas aulas de geografia
O sol, a lua, a via-láctea 
A sopa de feijão de corda
Feita por dona Maria Gomes,
Comida servida, mais de uma vez
A bem dizer
A merenda que comemos
Repetimos ao recreio
As brincadeiras em estripulias
Sem esquecer do asseio com afinco
Da inesquecível dona Suzéu…Ai, meu Deus!
Repetimos,
Rezemos,
Oremos, dia-após-dia, 
A partir das tripulações de corais 
Inventariadas 
Entre as amadas forças escolares 
Desarmadas tais como:
Dona Marica Fernandes,
Dona Eunice Marreiros,
Da dona Vilma e Dezilda Anacleto,
Dona Maria José Alves,
Dona Arlete, Dona Conceição,
Dona Graça de Zé Baixinho,
Dona Hernocite Maurício e Eliete,
Dona Terezinha Bento Ribeiro,
Dona Zilda Roriz de Oliveira,
Dona Gabriela Pontes,
Dentre tantas outras mestras
Das primeiras letras…etc. 
Lembremos 
Dos amigos, os tesouros
Pequeninos
Pontilhados nas memórias 
Das boas aulas de História
Santa Maria, Pinta, Nina
E os destinos 
Da última catequese de São Pedro 
E seus dízimos 
Assim nos dizia a proteção
Do Santo Anjo do senhor
Tão zeloso e guardador 
Rezemos 
Nesta ocasião
De corpo e alma 
Salve lindo o hino à bandeira
Este poema guardai, com Fé,
Oremos o ato de contrição,
Rezemos a poesia,
Por intermédio 
Da Ave-Maria Desatadora dos nós, 
Do trovador da felicidade nacional
No claustro das horas solenes,
Sem palmatórias nem sentença,
A desapear no ditado verbal
A bem da verdade lavrada
A recitar-se em terno poema 
Na troça de um magote 
De meninos levados da breca,
Pois no rabisco dos cadernos 
Onde escrevemos a novidade 
A voz ressoa seu grito composto: Ave-Maria!
Não há penas em todo poema agora rezado,
Ave, voemos, fora da prova final 
Ave, voemos, dentro da saudade!

domingo, 13 de outubro de 2013

RECADO DA MINHA MÃE MARIA DALVA, por João Maria Ludugero.

RECADO DA MINHA MÃE MARIA DALVA

Meus queridos filhos, 
A morte não é nada. 
E eu somente mudei 
Para o outro lado do caminho. 
Eu sou eu, vocês são vocês. 
O que eu era para vocês, 
Eu continuarei sendo. 
Me deem o nome: Maria Dalva, 
O nome da radiante estrela 
Que vocês sempre me deram, 
Falem comigo de boa lembrança, 
Como vocês sempre fizeram. 
Vocês continuam vivendo 
No mundo das criaturas, 
Eu estou vivendo alto, 
No mundo do Criador. 
Não utilizem um tom solene 
Ou triste, continuem a sorrir 
Daquilo que nos fazia rir juntos. 
Rezem, sorriam, pensem em mim. 
Rezem por mim, eu gosto disso, 
Pois estou no reino da paz verdadeira. 
Que meu nome de Maria 
Seja pronunciado a correr dentro, 
E alto como sempre foi, vertente, 
Sem ênfase de nenhum tipo. 
Sem nenhum traço de sombra 
Ou tristeza em suas mentes. 
A vida significa tudo e mais 
O que ela sempre significou, 
O fio do labirinto não foi cortado. 
Porque eu estaria fora 
De seus pensamentos 
E não no interior do coração, 
Agora que estou apenas fora 
De suas vistas diárias? 
Eu não estou longe, 
Apenas estou noutra aresta 
Do outro lado da estrada... 
Vocês que aí ficaram, sigam em frente, 
A vida continua, linda e bela 
Como sempre foi...Acreditem: 
Eu estou a olhar vocês, dentro do tom, 
Dia após dia, satisfeita no papel de mãe, 
Como que significo para todos vocês... 
Só lhes peço mais uma coisa: 
No se esqueçam de cuidar 
Do seu velho e querido pai Odilon!

VÁRZEA EM PASSADO A LIMPO, por João Maria Ludugero

Vou-me embora pra Várzea
Lá sou amigo do rei
Lá tem coisas "daqui, ó!"
A menina do pitéu
De Seu Plácido Nenê Tomaz de Lima,
Craúna, Xibimba e Vira de Lucila de Preta
Vou-me embora lá pra Várzea.
 
Vou-me embora pra Várzea
Porque lá, é outro astral
Lá tem carros-de-boi
Que nos levam aos Ariscos
De Seu Virgílio e de dona Eugênia Bento,
Pra o sítio de Zé Canindé
E pra o Retiro de seu Olival de Carvalho
Lá tem garapa, caldo de cana-caiana e tapioca
Lá tem caranguejo de Seu Antonio Lunga.
Lá tem sinuca de seu Otávio e de Seu Lula.

Lá dançarei um forró, rela-bucho
Lá na rua do arame
Lá é uma brasa mora!
Só você vendo pra crê
Assistirei Rim Tim Tim
Ou mesmo Jinne é um Gênio
Vestirei calças de Nycron
Faroeste ou Durabem
Tecidos sanforizados
Tergal, Percal e Banlon
Verei lances de anágua
Combinação, califon
Escutarei Al Di Lá
Dominiqui Niqui Niqui
Me fartarei de Grapette
Na farra dos piqueniques
Vou-me embora lá pra Várzea 
de Nina de Joaninha Mulato,
Vou comer beiju e tapioca
Com manteiga de garrafa.

Lá na Várzea do passado tinha Jerônimo 
Aquele Herói do Sertão
Tinha Cícero Cego a tocar sua sanfona
Lá na rua da Matança dava a maior diversão
Tinha passeio nas bicicletas de Zé Estevão
Tinha cinema de Zé Onório
Lá na Escola São Pedro,
Onde a gente assistia Tarzan,
Eu, Gracinha Bento, Marili, Riselda 
E Terezinha Tomaz de Lima.

Quando toca Pata Pata,
Cantam a versão musical
"Tá Com a Pulga na Cueca"
E dançam a música sapeca
Ô Papa Hum Mau Mau
Tem a turma prafrentex
No salão de Manoel de Ocino
Cantando Banho de Lua 
E dançando Gretchen...
Tem Picica de Xinene de Cícero Paulino,
Tem Chiquinho de Antonio Euzébio
Tem a praça do Encontro
E os hibiscos dobrados rosas e encarnados
De dona Maria Orlanda de seu Nestor,
Dando cores e aromas pela rua
Vou-me embora lá pra Várzea,
Vou namorar na rua Grande
Vou-me embora pra Escola Dom Joaquim de Almeida
Onde a merenda de dona Maria Gomes era boa demais!

Lá tem meninas "requebrando"
Ao cruzar com um rapaz
Elas cheiram a pó de arroz
Da Cachemere Bouquet
Coty ou Sherazade,
Colocam Rouge e Laquê
English Lavanda Atkinsons
Ou Helena Rubinstein
Saem de saia plissada
Ou de vestido Tubinho
Com jeitinho encabulado
Flertando bem de fininho,
Na esquina de Seu Minor.

E lá no cinema de Zé Onório
Se vê broto a namorar
De mão dada com o guri
Com vestido de chita ou organdi
Sem gola de tafetá.

Os homens lá da Várzea
Gostam de andar tinindo
Sapato Cavalo de Aço,
Kichute e conga 
Ou tênis esportivo
De camisas Volta ao Mundo
Só cheirando a Áqua Velva
A sabonete Gessy
Ou Lifebouy, Eucalol
E junto com o espelhinho
Pente Pantera ou Flamengo
E uma trunfinha no quengo,
Brilhantina cintilante como o sol.

Vou-me embora lá para Várzea, 
Lá tinha tudo que há de bom!
Lá na Várzea era outra história!
Outra civilização...
Tinha Bidu e Nequinho 
Tinha Sué e Biga pai da Edilza, 
Aprontando o caldo de cana,
Tinha Albertinho Limonta
Tinha também Mamãe Dolores,
Marcelino Pão e Vinho
Tinha Bat Masterson, Daniel Bonnie e Lessy,
Túnel do Tempo, tinha Rintintim e Zorro
Lá na casa de Dona Risolita Ribeiro,
Máe do inesquecível Ré da Viúva!

Lá no passado tinha pouco recurso, 
Mas viver era um estouro
Tinha rádio com olho mágico
ABC a voz de ouro,
Se ouvia velhas audições musicais
Cancioneiro de sucesso,
Tinha também Repórter Esso
Com notícias atuais.

Tinha petisqueiro e bufê 
Junto à mesa de jantar
Tem louça de toda cor
Bule de ágata, alguidar
Se brincava de cabra cega
De drama, de garrafão
De rolimã na ladeira,
De rasteira e de salpicão 
De mamona.

Lá, também tinha radiola 
De madeira e materiais de zinabre, 
Lá se fazia caligrafia
Pra modelar a escrita
Se estudava a tabuada
Com dona Marica Fernandes
Ou na Cartilha do Povo
Lendo Vovô Viu o Ovo!

Tinha na revista O Cruzeiro 
A beleza feminina da hora
Já aparecia menina misse 
Faceira botando banca
Com seu maiô de elanca
O famoso Catalina
Tem cigarros Yolanda
Continental e Hollioodd
Tinha o Conga Sete Vidas
Tem brilhantina Zezé
Escovas Tek, Frisante
Relógio Eterna Matic
Com 24 rubis
Pontual a toda hora.

Se ouvia página sonora 
Na voz de Ângela Maria
"— Será que sou feia?
— Não é não senhor!
— Então eu sou linda?
— Você é um amor!...
Canta Baba-Lu ou um Tango pra Teresa"

Quando não queriam a paquera
Mulheres falavam: "Passando,
Que é pra não enganchar!"
"Achou ruim dê um jeitim!"
"Pise na flor e amasse!"
E AI e POFE! e quizila
Mas o homem não cochila
Passa o pano com o olhar
Se ela toma Postafen
Que é pra bunda aumentar
Ele empina o polegar
Faz sinal de "tudo X"
E sai dizendo "Ô Maré!
Todo boy, mancando o pé
Insistindo em conquistar.

No passado tinha remédio
Pra quando se precisar,
Lá tinha seu Bita Mulato
E a farmácia da família,
Que tinha prazer de curar,
Lá tinha Água Benta, Sonrisal,
Mel Poejo e Biotônico Fontoura,
Bromil e Capivarol
Arnica, Phimatosan
Regulador Xavier
Tem Saúde da Mulher
Tem Aguardente Alemã
Tem também Capiloton
Pentid e Terebentina
Xarope de Limão Brabo
Pílulas de Vida do Dr. Ross
Tinha também, aqui pra nós,
Uma tal Robusterina 
A saúde feminina.

Vou-me embora pra Várzea
Pra não viver sufocado
Pra não morrer poluído
Pra não morar enjaulado
Lá não se vê violência
Nem droga nem tanto mau
Não se vê tanto barulho
No passado é outro astral
Se eu tiver qualquer saudade
Escreverei pro presente
E quando eu estiver cansado
Da jornada, do batente
Terei uma rede possante
Daquelas de algodão cru
Num quarto calmo e seguro
Onde ali descansarei
Lá sou amigo do rei
Lá, tem muito mais grilo e vaga-lume,
Mas isso dá medo não!
Vou-me embora correndo 
Lá pra Várzea do passado,
Comer cuscuz de milho zarolho,
Sequilhos e munguzá,
Chupar pitomba, caju e cajá-manga
Lá na casa de dona Julieta 
Lá no Itapacurá de seu Orlando Cunha, 
Pai da Edileuza de Maria José Alves.