Seguidores

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

TERNURA DENTRE URTIGAS, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TERNURA DENTRE URTIGAS,
por João Maria Ludugero


Cultivo um pé de urtigas na Várzea
Abaixo do jirau do alpendre de acácias.
As folhas estão viçosas, brilham
Com a luz além dos solavancos.


Ainda não floresceu,
Mas já tem ninho de passarinho.
Espero ansiosamente as flores
Esbranquiçadas aos espinhos,
Delicadas, mas apetitosas.


Enquanto não floresce, vou regar
Com devoção o meu pé de urtigas.
As folhas verdes voltam-se em nicho
Para o voraz sol amar-elo terno e solene.
A luz faz vigorar a essência das plantas.

SOB O CICLO DE UM LUDUGERÁVEL POEMA, por João Maria Ludugero


SOB O CICLO DE UM LUDUGERÁVEL POEMA,
por João Maria Ludugero

Depois de escrever 
Meus versos
Sinto-me feliz,
Me reanimo... 
Rejuvenesço,
Ganho um século
De ávidas poesias
Até fora da rima
Consinto-me contente
Depois me levanto 
Tomo um copo
De água gelada
E não durmo...
Repasso a sonhar acordado,
Desapeado da tal burrinha
Da felicidade!
(Fico espairecido, parecendo 
Hipnotizado sem morrer à míngua
Poeta atrás da afoita língua
Que nem cachorro doido
Chocado homem de tintas
Com o ovo da galinha-d'Angola
Com o dito cujo além tô-fraco desertado
Ou somente ovo chocado por outra ave
Poema assim não jaz em mim,
Sou jasmineiro atento na peleja
Não tenho sangue de Barba-azul 
A morrer no vão da rodovia,
Atropelado...
E muito mais em tais versos
Deles não se diz o que lavra 
Mas são próprios de quem é,
Estigmas da lida
Aos solavancos
De si mesmo aprumado
Ao avanço do sol amar-elo,
Poeta, poema em palavra
João Maria Ludugero!
Extrapola dentro e alto
Na história da lida astuta
Que acaba tendo um ânimo
Renovado, eira e cabo.
Lá se vem de novo! 
Formando círculos,
Cabeça de poeta
No chão de dentro...
Apaixonado na lida,
Em ciclos e reciclos.

O ASTUTO MENINO EM CARRO-DE-BOI, por João Maria Ludugero

carro de boi meninos (1)
O ASTUTO MENINO EM CARRO-DE-BOI,
por João Maria Ludugero

Fiz um poema sobre meninos em carro-de-boi.
Gostei mais de um menino 
Que carregava os irmãos aos solavancos, com garra.

A avó Dalila dizia que carregar crianças em carro-de-boi
Era um estripulento alvoroço feito coisa de Sansão; 

A mãe dizia que era o mesmo que
Conduzir pássaros em gaiolas desprovidas de cancelas
O mesmo que destravar tramelas em vão
Num lerdo alçapão para bem-te-vizinhos.

O menino era apanhado em despropósitos.
Quis alicerçar uma cabana sobre orvalhos.

A avó reparou que o menino
Gostava mais de desvãos
Do que de composturas.
Bendizia que o vagão é maior
E até infinito em algaravias.

Com o passar do tempo aquele menino
Que era cismado, arteiro, irrequieto e esquisito
Porque gostava de carregar os irmãos em carro-de-boi
No escrever o menino ficou assim descabido,
Pois era capaz de ser sonhos em acordes
Ser boi, bezerro, cabra-da-peste ou cabrito
E outros, ao mesmo tempo.

O garoto medonho aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia até fazer peraltagens com as letras.
E começou a fazer lavras em jiraus de toda estirpe.

Foi capaz de solavancar a tarde botando um sol lusco-ofuscado nela.

O cabrito fazia astutos furdúncios e prodígios.
Até fez uma pedra verde-musgo dar flor e frutos!
A sua mãe, dona Maria Dalva, reparava o menino com doçura.

A dona Maria Dalva, sua mãe, falou:
João Ludugero vai ser estrela: Poeta!
Cabra, tu vais encher os meandros da lida
Menino levado da breca, moleira de ânimo,
Ao romper desafios com suas traquinagens,
Muitas criaturas vão te amar por teus despropósitos.

Agora estou esvoaçante a céu aberto, meada e fio do labirinto,
Sem carecer de me esbanjar nem ser cabotino, etc...

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

VÁRZEA-RN: SAUDADES DO CHÃO DE DENTRO, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


 
 

VÁRZEA-RN: SAUDADES DO CHÃO DE DENTRO,

por João Maria Ludugero


Na minha chã lucidez, 
Sem véu de alegoria, 
A quebrar o pote da fantasia,
Sei que um dia poderá chegar a morte ao léu,
Na forma de tal monja silenciosa ao desvão,
Que me levará também, só, entre jasmins, 
para a outra vargem desta abrupta solidão...
Com que me espaireço, agora, esta chegada
De volta à minha Várzea, ao chão de dentro, 
Vendo que quase todos já se foram, um a um, 
Levados pelo cata-vento, para o andar de cima?


Com quem dividirei minha gargalhada, 
Se não encontro mais, aqui, nenhum 
Dos companheiros da velha infância,
Que o tempo arrebatou, frágeis anuns?
De que me vale perguntar à essa morte
Por que os levou, para além do horizonte,
Se essa doida senhora não responde à indagação?