ARRASTÃO DO CRACK:
"TAMOS DE OVÁRIO CHEIO DE VIOLÊNCIA",
por João Maria Ludugero
Quando ela nasceu,
levou tapas da vida.
Logo se pegou aos berros.
Valéria aprendeu desde cedo
a não ter infância.
Acendeu cigarro
e não se engasgou nas tragadas.
Sob os olhos vermelhos
da mãe desnaturada
ignorava os malefícios do vício
e precoce já pitava seus fumos.
Valéria se criou na rua,
abandonada aprendeu
a se quebrar no crack,
inalando seus frascos de cola
ali mesmo sob o concreto armado
do Teatro Nacional de Brasília.
Seu tio a levou pelo braço
pra rodoviária do Plano Piloto.
Seu tio bebeu com ela toda uma garrafa
de uísque do Paraguai.
Valéria foi estuprada e,
tempos depois, acordou grávida
aos 12 anos de idade.
O que a vida não ensinou à Valéria?
A pensar e questionar sua sorte,
Ou só a impôs em continuar
de ovário cheio de violência?
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