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sábado, 25 de janeiro de 2014

XIBIMBA: CENA DE UM ADEUS, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
XIBIMBA: CENA DE UM ADEUS, 
Autor: João Maria Ludugero

Deu meio-dia, badalou dobrado o sino da igreja. 
Aí então, me veio à memória a imagem de um cortejo funeral 
a caminho do cemitério municipal, subindo a rua nova, 
ali na subida da casa de Seu Vela, pai do Walfredo, 
depois de ter saído da Matriz de São Pedro, 
acompanhado por uma dúzia de fiéis varzeanos.
Ouviam-se os bronzes insistentes da matriz, 
no choro solitário de dona Lucila de Preta e sua extensa prole, 
cadenciados com os flapes-flapes das alpargatas, 
que solavam o chão quente e poeirento 
daquela artéria central da Várzea 
de dona Dalila Maria da Conceição, 
minha avó paterna.

Rezas e choros pela rua do Cruzeiro, 
quase já não se ouviam! 
Cantigas, Ave-Marias, vozes e consolos? 
Talvez a do padre Armando de Paiva 
ou de um transeunte encostado na calçada 
da Venda de dona Bena de Virgílio, 
que, curioso, perguntasse de quem havia sido a ideia 
de encaminhar um cortejo funeral em pleno meio-dia. 
Isso mesmo, era essa a hora marcada pelo relógio da igreja. 
De fato, os ponteiros se emparelhavam um sobre o outro, 
indicando meio-dia e dali nunca mais ousaram sair, 
cravados assim na minha memória, 
mesmo tendo se passado tantos anos, ainda guardo essa cena 
daquele passamento ocorrido da década de setenta.
É isso mesmo, é consabido que de despedida ninguém gosta, 
não é mesmo dona Vira de Lucila de Preta? 
Faz-se questão de esquecer, passar a borracha. 

Morrer, no sentido biológico é extinguir-se, 
desaparecer para sempre. 
Se alguma coisa fez, se de bom ou de mau, 
para a memória popular isto é irrelevante, 
o sujeito ainda será lembrado por um bom tempo. 
Se não, cai na poeira do tempo, e assim descamba, 
é levado pelo vento e cai no campo do esquecimento.
Mas a vida tem dessas coisas. 
Essas cores de dias cinzas também um dia chegam 
e estampam a vida da gente. 
Não há como escapar da sina, portanto, 
deve-se tocar a vida, seguir adiante, 
sem medo da sorte que Deus nos dá de sobra. 

Faz parte da paisagem interior da vida real. 
É a estação onde há chegadas e partidas, 
é o reality show do enredo da vida.
- Quem morreu, Maninha me diga?
Foi o Xibimba, 
irmão de Vira de Lucila de Preta.
De quê? Vai saber… 
Acha-se que foi 
de morte natural,
e viver a vida. 
Adeus, 
luto 
e ponto.

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