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quinta-feira, 27 de junho de 2013

PORVIR, por João Maria Ludugero

E agora é todo dia 
a brincar de viver!
Há sol a se irradiar 
dentro da minha alegria 
e eu já o sabia vertente, exposto 
a raiar, a decolar sob do sol: aurora. 
Há braços afoitos 
a se inquietar com o vento 
a partir do tamanho do mundo 
e é dia no mundo de ideias. 
Há uma rua grande de base 
(debaixo dum dia aberto em amar-elo) 
e um toque de alma 
de flor a girar o sol 
Mas agora é meu dia 
que se arriba radiante disposto 
liberando-se de todas as bandas 
a tanger girassóis.

INSISTO, por João Maria Ludugero.

Eu vou como eu vou
dentro do alto, disposto a tudo
voo de jeito ao vento num salto
reinvento-me num instante ao instinto
recrio asas na própria poesia que inicio 
imensurável na medida do impossível
armo voo arteiro acima dos pontos
de partida e chego ao que sou de uma vez
nas infinitas artimanhas do agora 
sem grandes segredos do ente em solo
sem novos secretos cascos tangentes
pendentes nesta hora de aventura 
eu sou como eu sou possante
desde o presente porvir de antes
renovado em reverdecidas esperanças 
desferrolhadas de repente ao léu
feito um bocado de mim 
eu sou como eu sou possante
manjo só de olhar, poeta vidente 
e vivo tranquilamente no azul do céu
boquiaberto muito além do jasmim 
levando todas as essências sem me exaurir.

ALEGRES ENTARDECERES, por João Maria Ludugero.

Uma árvore reverdecida.
Uma ave entoa grave cantiga. 
Que alaranja o Vapor 
Ao por-de-sol disposto. 
Há brisa no terno outono 
Da Várzea das Acácias. 
Folhas caídas. Sereno. 
Ventania na praça do encontro. 
Cheirosos cajus se despencam nus 
Dentro e alto nos ariscos Seixos: 
Amar-elos encarnados a manjar 
Corpos com almas fora do ente 
Sob o afoito lusco-fusco 
Que me nina o dia exposto 
Sob o ameno crepúsculo.

ACORDES AO INTERIOR DA MINHA VÁRZEA, por João Maria Ludugero

Estou longe pensando nela, cá dentro,
meu coração de menino varzeano
bate forte como um sino de igreja 
que anuncia procissão de São Pedro. 
ê minha rua grande meu povo 
ê gente que mora lá nos arredores 
às margens do rio Joca, 
vivendo a escutar o canário da terra 
na cantiga pelo chão de dentro da Várzea. 
Lembro do sorriso de Ana Moita 
a curar as dores de quem ali vive, 
Maria não se perdeu a se achar no riacho do Mel 
Marivam de Lica atiça as regalias e os brotes, 
fumegam as doces cocadas, 
os sequilhos e o bolo preto 
E esse menino crescido 
que tem o peito ferido, revirado, 
repleto de saudades do Vapor de Zuquinha. 
O sítio do Retiro de seu Olival de dona Penha 
ainda batuca no meu tempo de brincar... 
Já me vou embora tomar banho de rio. 
Ê rio, é riachão dos Marreiros, 
passando pela rua da pedra 
até agora eu chego lá 
às quatro bocas da rua, 
agora por aqui estou a me ninar, 
com vontade de abraçar 
dona Anatilde, mãe da amiga Tereinha Tomaz 
e a dona Neve Mulato, filha da madrinha Joaninha, 
e eu vou e volto para matar toda essa saudade 
de ficar sentado no banco de Nina. 
Ê São João, ê Bita Mulato, 
ê rua que leva ao Riachão.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

PELA VÁRZEA ADENTRO, por João Maria Ludugero.

Não posso perder o tino ao pincelar tintas
em poemas feito de palavras até sem rima.
Trago um menino em mim que me observa
e ele tem nos olhos reverdecidos (qual a cor?)
todas as auroras bem como as tardes laranjas 
dentre outras manhãs varzeanas abertas ao Vapor. 
E eu ainda menino, que me alumia sereno, encantado,
tenho um moleque serelepe em mim 
e ele é que deveras me revela:
por isso circulo de costume sob o paredão 
do açude do Calango de água verde-musgo
e nos olhos banzos: tenho a alma de flor
e um corpo encarnando de permanente procura
e meu olhar apenas toca, de leve, as achas dos Seixos
e me afago na exata matriz da calça jeans tão desbotada, 
molhada em festa vespertina sem censura, de ralar o umbigo,
na descida dos ariscos sítios do Itapacurá.
E assim me bate uma saudade danada de Bita Mulato,
ao adentrar na quadrilha junina da Várzea das Acácias.

domingo, 9 de junho de 2013

A VÁRZEA QUE ME NINA! por João Maria Ludugero


Minha Várzea das Acácias, 
Esse teu interior me faz menino,
És uma copa de juazeiro em flor,
És uma brisa de vapor no coração,
És feito um jeito adocicado que apaga amarguras,
És um raio de sol em dia de chuva,
És uma esperança nova na tarde amena,
És um lenço macio do mais puro algodão,
Que seca o nosso salobro chorar.
Esse teu confeito de açúcar mascavo,
É como um puxa-puxa de cana-caiana
É milho a pipocar no jardim encantado,
De portas escancaradas ao retiro,
E que todos querem ver aos seixos,
Percorremos todo a cerca viva do Maracujá,
Só para encontrar um açude do Calango cheio
Um furo cavado à margem do rio Joca, 
Uma potável água de cacimba 
Para nesse fonte poder beber e matar a sede,
Tocar nas belas flores do Itapacurá a dentro,
Lindas e tão bem cuidadas acácias da rua São Pedro,
Nascidas para serem varzeamadas,
Com a essência do amor-elo,
Protegidas de toda a dormência fugaz
E de quem só as querem usar em perfume.
Essa tua cara que me nina integral,
Coberta de pétalas tão delicadas,
Pelo teu sorriso de princesa varzeana,
A tua maior beleza, assim seja bendita,
É a que o coração tem para doar de presente.
Esse teu doce sorriso de riacho de mel,
Esconde a garra de uma feliz cidade,
De uma menina assim com alma a desvendar,
De uma propulsora das grandes lutas de ontem,
Eu acredito no teu chão, Varzeão de corajosos amores, 
Às tuas vitórias eu sempre baterei palmas a contento!