ASA-DELTA,
Autor: João Maria Ludugero
Eu queria fazer um poema
Desabotoado, relaxada mente
Fazer um poema alado
Sem me preocupar com calos,
Com meus calcanhares
De Aquiles,
Aliado ao ser livre,
Sem cintos apertados,
Sem prendedores nem gravatas,
Desatado de todos os egos
De todos os nós cegos,
Porque se os nós viram nó
A ponto de serem cortados,
Melhor largar mão dos laços.
Para tanto, larguei a mão
Da ideia das algemas
Das trancas, das cancelas,
Abri os cadeados, presilhas,
Escancarei as celas,
Ilhas, janelas e porteiras,
Relaxei os nervos e as pilhas
Dos meus medos penitenciários.
Quero um poema liberto,
Sem rédeas nem cabrestos,
Sem amarras nem segredos
Sem cadeias, desacorrentado
Um poema assim desarmado
Que me pega de assalto,
Que me asa-delta a alma
Que me redima sem lacres
Que me domine solto, sem aparas,
Como os versos de um cordel
Que mais parecesse reza,
Embalando-me numa canção inédita,
Cantada livremente nas ondas
De rádio que só toca no coração,
Como quem aboia e encanta,
Como quem levita, sai do chão,
Mas sem cativeiros nem percalços,
Nada de peias no passo, nada de esporas.
Chega de trancar as portas de casa,
Nada de me fechar em exílios ou desterros,
Quero apenas ter esse perene libertar
Que tanto me fascina, sem barreiras,
Que me afasta do cárcere
De não saber amar-se.
Meu coração não suportaria
Lugares fechados, morreria de asfixia.
Tenho certo pavor do uso de algemas,
Por isso aprendi a dormir com o peito aberto,
Pois sendo assim, acordo mais leve, de certo
Sem sufoco, sobressaltos ou pesadelos,
Sem receio de que algum carrasco
Medíocre se atreva, levianamente,
A furtar-me o ser, subtraindo-me as asas.
Porque ser assim não tem preço.
Deixar de ser assim, é aprisionar-se,
É não saber o gostinho tão precioso
Que tem a nossa senhora liberdade!
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