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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ASA-DELTA, por João Maria Ludugero

ASA-DELTA,
Autor: João Maria Ludugero 

Eu queria fazer um poema 
Desabotoado, relaxada mente 
Fazer um poema alado 
Sem me preocupar com calos, 
Com meus calcanhares 
De Aquiles, 
Aliado ao ser livre, 
Sem cintos apertados, 
Sem prendedores nem gravatas, 
Desatado de todos os egos 
De todos os nós cegos, 
Porque se os nós viram nó 
A ponto de serem cortados, 
Melhor largar mão dos laços. 
Para tanto, larguei a mão 
Da ideia das algemas 
Das trancas, das cancelas, 
Abri os cadeados, presilhas, 
Escancarei as celas, 
Ilhas, janelas e porteiras, 
Relaxei os nervos e as pilhas 
Dos meus medos penitenciários. 
Quero um poema liberto, 
Sem rédeas nem cabrestos, 
Sem amarras nem segredos 
Sem cadeias, desacorrentado 
Um poema assim desarmado 
Que me pega de assalto, 
Que me asa-delta a alma 
Que me redima sem lacres 
Que me domine solto, sem aparas, 
Como os versos de um cordel 
Que mais parecesse reza, 
Embalando-me numa canção inédita, 
Cantada livremente nas ondas 
De rádio que só toca no coração, 
Como quem aboia e encanta, 
Como quem levita, sai do chão, 
Mas sem cativeiros nem percalços, 
Nada de peias no passo, nada de esporas. 
Chega de trancar as portas de casa, 
Nada de me fechar em exílios ou desterros, 
Quero apenas ter esse perene libertar 
Que tanto me fascina, sem barreiras, 
Que me afasta do cárcere 
De não saber amar-se. 
Meu coração não suportaria 
Lugares fechados, morreria de asfixia. 
Tenho certo pavor do uso de algemas, 
Por isso aprendi a dormir com o peito aberto, 
Pois sendo assim, acordo mais leve, de certo 
Sem sufoco, sobressaltos ou pesadelos, 
Sem receio de que algum carrasco 
Medíocre se atreva, levianamente, 
A furtar-me o ser, subtraindo-me as asas. 
Porque ser assim não tem preço. 
Deixar de ser assim, é aprisionar-se, 
É não saber o gostinho tão precioso 
Que tem a nossa senhora liberdade!

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