A PALAVRA EM POTESTADE,
por João Maria Ludugero.
Dia-após-dia, veio a palavra
Em lavra que subiu com o vento
Tornou-se vapor, evaporou-se
A correr dentro, fora e alto...
Era água e foi à nuvem esfiapada
No calor do verão
Sua temperança
Caiu sobre o mar
Renovada chuva, tromba d'água
No estio da esperança tardia
Dentro da palavra sol avançada
Que riscou o horizonte além
De mil tracejados iridescentes
Em arcos levados da breca
A tanger os nimbos radicais
Sem cancelar os translúcidos
Peixes dourados em realce
Presos na rede de prata...
E são tantos os corpos vazios e retos
Em busca de ar e alimento ao desvão
Até que ao fundo se deixam redobrar
Latejantes acima do aroma do abismo
Evolado na lida da corrente abissal
Que a nenhum elemento sucumbe
O mais humilde dos elementos tais
Que a tudo preenche e desmancha
E nesse diapasão em diáspora, a palavra
Que ao mais baixo procura o rol da altitude
E ao mais torto se adapta sem estanque
E depois os adoça com o mel do riacho
A palavra que dissolve o sal da terra
Acorda bons ares, açoita tempestades
E se entranha nas asas dos pássaros
A força índia que com as gaivotas voa
No seio das areias pousa a potestade
Bem ali deixa sua marca solene ávida
A palavra líquida, incessantemente
Sem moldura, esquadros ou forma
Capaz de assumir todas as formas
Mais forte que verão sobrevivente
Metamorfose do tempo advindo...
Na cura da Matéria prima da obra
Cria da alma misteriosa humana
Que a absorve e idealiza feitiços
Ao exalar com todo reforço da fé
O ímã precioso da palavra xamã!
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