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domingo, 4 de julho de 2010

A SOLIDÃO DO RIACHO DA CRUZ

 autor: João Ludugero

caminho pelas margens do rio Joca
rondo o verde conqueiral
pelo chão um velho espelho já trincado
mostra o azul do céu de Ângelo Bezerra
observo a capelinha do rio da cruz,
de portas abertas, sem tramelas
nenhuma vela acesa, abandono,
apenas a solidão da cruz
e um mundaréu de vagalumes
a piscar na boca da noite
além de um emoldurado de retrato
de um Jesus sereno
dependurado na parede ao vento

e do lado de fora ali na esquina
da casa de dona Irene de Deco,
de sentinela dois pilões de bojo carcomido
e um retorcido pé de bucha de flor amarela.
que se alastra  na cerca de arame farpado
a fazer companhia ao emaranhado
de melões de São Caetano

gente simples conversa no oitão
de suas casas simples, caiadas,
que acenam com seus cortinados,
ali na beira do rio descendo a rua do arame
segue um carro-de-boi rumo ao seu destino
vai levar capim para ração do gado
lá no sítio de Zé Canindé
vai levar cana caiana, mandiocas e manivas
para o replantio lá no Vapor de Zuquinha

e o meu coração peregrino de grande esperança
vai, na boleia da camioneta de seu Tida,
sou passageiro, vou carregando sonhos e poesia
vai, na traseira, carrada de velhas lembranças
e um punhado de versos aqui dispostos,
mesmo que tratem apenas da solidão
daquele pedaço de riacho que carrega uma cruz
quase esquecida num canto da rua do arame,
aqui acendo meu poema-vela no intuito
de que bem se cuide da alma do rio Joca
esse rio que fertiliza nossa Várzea amada

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