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segunda-feira, 19 de julho de 2010

REZAS, SOLDAS E OUTRAS CANTIGAS

Autor: João Ludugero 

eu queria curar meus quebrantos
procurei a casa de Ana Moita
que me benzeu ao rezar com seus ramos
invocando credos e santos
saí do recinto com a alma mais leve
como que por encanto, ela operou milagres
e num instante a dor se dissipou
e na minha face o sorriso voltou
a fazer-me de bem com a vida

eu queria provar umas soldas, uns sequilhos
e fui direto visitar dona Carmosina
e, como era de se esperar, saí de lá saciado
a carregar comigo um pacote de brotes
de pães de mel, manjares de Deus 
e papos de anjos


eu queria cantar, fazer uma canção bem simples
e descobri que ela estava o tempo todo ali
na garganta de seu odilon, meu pai,  
com suas cantigas entoadas a qualquer instante, 
canções de ninar gente grande e os inocentes
canções sem hora para acordar a alegria
buriladas nos acordes do coração-sinfonia

acho que aprendi desde cedo a cantar 
com Seu Odilon, meu pai,
que sempre inventa algo para en/cantar 
na sua santa paciência
com os seus versos tirados da manga do repente
ele canta onde seja a boca livre,
onde haja ouvidos limpos 

ele canta não apenas no chuveiro,
ele canta para espantar a tristeza
de almas afeitas a escutar com suas pelejas
para enganar o tempo – ou distrair
criaturas já de si tão mal atentas,
ele canta… para des/en/cantar
canta apenas quando dança,
nos olhos dos que lhe ouvem, a esperança

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