autor: João Ludugero
Aos 27 de maio de 2010, meu coração foi aberto para o novo. Os ipês e as paineiras em Brasília estavam em flor. Suas cores, suas luzes fendiam a pupila, acariciavam o dorso da sombra. E eu disparei flashes para retratá-los em sua beleza. Foi aí que fiz uma pausa. Foi então que – não sabia lá se pela última vez – a inocência voltava a entrar na minha vida. Instrospectivo, parei, na minha mente abriu-se um clarão momentâneo de grande luminosidade, eu fiz uma retrospectiva da minha vida, repassei o filme, cena a cena, eu reprisei slides na tela do cinema real onde eu sou o protagonista da história.
Operação. Anestesia geral. Peito aberto, coração com aneurisma aórtico de grau importante, nas mãos de Deus. Peito bordado, alinhavado, costurado. A sutura da minha operação, feita para unir e fechar as partes do esterno, deixou-me marcas, cicatrizes. Marcas no corpo.Terapia intensiva, corpo remediado, acordei daquilo que mais parecia um pesadelo. Acordei? Coração recém-saído do martelinho de ouro, recauchutado. Peito riscado, tatuado pela linha da vida.
Olhos, mãos, alma, tudo é NOVO – recomecei a prodigalizar alegria, uma alegria que não procura palavras porque o seu reino não é o da expressão.
Digamos que esta nova experiência, a que não quero dar nome, não se preocupa em interrogar, talvez por já não ser tempo de dúvidas, ou então por não lhe dizerem respeito essas verdades últimas, cegas como facas que há tempos se desafiaram, caíram em desuso.
Renasci. Estou pronto pra recomeçar. Acertando os ponteiros da minha cabeça, tirando o pé do acelerador, seguindo os compassos de meu coração-cuco. Nem louco nem lúcido, mas um tanto sóbrio, moderado e com enorme vontade de fazer o roteiro do recomeço, do João que nasceu de novo, de coração!
Eis aqui o dono do coração mais bonito que já ouvi falar!
ResponderExcluirRealmente não tem palavras quando a gente tem um coração assim que já diz tudo, até nos momentos de infortúnio. Sua poesia é algo que torna a vida mais saborosa, mais repleta de vontade de recomeçar... Bela poesia, lindo o seu coração, mesmo recém-saído da oficina. Parabéns, poeta João, você é surpreendente com seu texto poético e cativador da alma da gene.
Maria Antonia Catanhede - Brasília