sou filho de varzeano
o sangue corre na veia
nasci ali, vi a cruz
na beira do rio Joca
pelas mãos de Mãe Claudina
vim à luz, deitei no berço
na rede de algodão
sob o vento do agreste
logo desde muito cedo
fui solto na capoeira
comi muito canapu
cresci junto com as ramas
do meu pé de jerimum
trago meu verso
na ponta da língua,
na ponta da língua,
verso catado no chão
no pingo do meio dia
debulhado assim
debaixo do sol rachando
debaixo do sol rachando
queimando minha poesia
que não morre à mingua,
fundida com o sol a pino
fundida com o sol a pino
nas cordas do meu feijão
apanhado na roça,
no meu roçado arado
no meu roçado arado
lá no Vapor de Zuquinha
quero com as minhas letras
abrir a porta e o ferrolho
a 'quilariar' minha lida
a 'quilariar' minha lida
quebrar coco catolé
pra raspar na tapioca
adoçar com rapadura
meu cuscuz de milho zarolho
sendo filho dessa terra
sou mais um cabra da peste
que não teme aos agourentos
nem os quebrantos da vida
faço dos versos aragem
a aboiar meu lamento
como quem aparta o gado
sou bezerro desgarrado
que está longe da Vargem
o que trago é muito pouco
nesse meu canto tão arisco
que queima a alma brejeira
se não faço rimas, toadas
que me vêm na cumeeira
do meu fogo pensamento
viro logo uma fogueira
e assim vivo inquieto
a fazer minha poesia
sou menino varzeano
esparramado pela vida
a compor o meu destino
canto e choro a minha sina,
desbravo a mata virgem
renovando de esperanças
meu bornal de fantasias!
João Poeta Ludugero,longe do seu lugar, distante de sua Vargem...renovado em esperanças que se esparramam, se espalham pelo chão. Parece uma saudade escrita, sentida em ramas,meu caro. Que a liberdade te alcance,ainda que a saudade se mantenha.Adorei o poema e a imagem. Foi escrito com a alma. Que cada dia, tenha as infinitudes de cada dia.
ResponderExcluirQue bom descobrir este espaço.
Mary Pereira Prates - Brasília