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terça-feira, 30 de junho de 2015

VÁRZEA/RN, MEU CHÃO-DE-DENTRO por João Maria Ludugero

VÁRZEA/RN, MEU CHÃO-DE-DENTRO
por João Maria Ludugero

Mesmo longe de ti, varzeamo,
Sob o dom de ver teus encantos
Onde eu vejo o Vapor de Zuquinha,
Onde eu mergulho no açude do Calango...
Me convences quando esbanjas
A beleza de teus mulungus em flores alaranjadas
Ou teus verdejantes juazeiros repletos de anuns
E marmeleiros com ninhos de bem-te-vizinhos
Pelos Ariscos de Seu Virgílio Pedro,
Pelos verde-musgados Seixos de dona Santina,
pelo sacos de pitombas aos carregos
Lá no Itapacurá de dona JulietaAlves,
Lá na casa-de-farinha de tio João Pequeno,
Lá no Maracujá dos tamarindos, cocos verdes,
Pitangas, Jenipapos, jatobás e cajás-mangas,
Lá no Umbu das canas-caianas, jacas e cajus,
Lá no Gravatá dos preás e macambiras,
Lá nas Formas e na seara do Gado Bravo
Lá no Riacho do Mel de Seu Pasqualino Teixeira
Lá na renovada esperança de dona Tonha de Pepedo,
Entre grudes de goma e cocadas, beijus e tapiocas,
Sem esquecer do milho-verde e das macaxeiras
Lá no sítio de Zé Canindé
Além das coalhadas, feijão-verde, maxixes e favas
Lá na seara do Seu Tida...

Bem apanhado assim, em versos do interior,
Passo a andar, a correr dentro da lida e a voar alto,
Sem medo da cuca esbaforida.
Mas, sem carecer de ser cabotino,
Se preciso for, sou de assanhar
Até mesmo os pelos da venta, de coração partido,
A marejar meus afoitos olhos d'água transbordantes
De saudades da minha Várzea de São Pedro Apóstolo.

Então, se me esqueço, me recordas com astúcia.
Se não sei, me ensinas num átimo de segundo.
E se perco a direção além das quatro-bocas, me elevo adiante.
Vens me encontrar ao relembrar das nossas rodas-de-conversa
No banco de Nina da inesquecível madrinha Joaninha Mulato
Ou ainda perto da verdejante algarobeira da praça do Encontro
denominada Kleberval Florêncio, bem de frente ao Recanto do Luar
de Raimundo Bento, onde a gente se inteirava em conversas ao tempo
de ganhar o mundo, ternos meninos levados da breca, dispostos a brincar
bem como fazer dos sonhos acordados o alicerce desse magnífico relicário.

Várzea, tens o dom de ouvir meus versos e segredos,
Mesmo se me calo ao calor da tarde amena que ainda me nina.
E mesmo se me calo, me escutas, sem nenhum alarido.
Quero te dizer com todas as letras, com afinco,
Se pela força da distância marejo meus olhos d'água,
De ti não me ausento, ao deixar meu coração partido.
Mas, pelo poder que há na saudade, bem sei
Que voltarei de vez um dia ao chão-de-dentro dos Caicos...

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