MENINO POETA CANTIGUEIRO,
por João Maria Ludugero
Tenho um caçuá de estripulias
Feitas por um magote de meninos
Gosto de me entreter com essas traquinagens
Que me elevam à breca arrimado ao vento.
Minha avó Dalila dizia que eu caminhava astuto
A soprar as hélices dos cata-ventos em algaravias
Eu sou mesmo um menino cantigueiro ao relento,
Que desde cedo saía correndo dentro e alto
A se soltar junto aos preás na lida a ganhar o mundo
Como se fosse um deles no burburinho do tempo.
Minha mãe Maria Dalva feito estrela em relance
Bem que tentava me aprumar as orelhas em riste,
Mas bem mais me assanhava os pelos da venta
Ao me ver galopar em apressado carrinho de rolimã.
O Ludugero sempre era apanhado em despropósitos.
Muita vez chegou a alicerçar taipas de pau-a-pique
Em habitat sobre acordes de capim renascido.
A vida reparava que o menino em desvario
Gostava mais de partir o coração e achar isso bonito
A correr dentro do desvão, mais do que fora do recheio.
Acreditava que flocos são maiores e até infinitos...
Com o tempo aquele menino varzeano danado
Que era cismado e esquisito, quase nunca ensimesmado,
Até se caçoava em carregar puxa-puxa e quebra-queixo,
A pipocar rojão de fogueteiros pelo interior da lida
Dentro de artifícios de São João e São Pedro.
Com o tempo descobriu que versejar
É como escrever para galgar moldes de estrupício
A se fitar em luas de tapioca e beijus em regalias.
Ao escrever o menino bem-se-vê desentristecido
Assim arteiro e bem capaz de ser bem-te-vizinho,
Sanhaço só ou sonhador ao mesmo tempo apanhado.
O moleque aprendeu a lavrar as palavras advindas.
Viu que podia fazer travessuras com as letras ávidas
E começou a tecer desafios fazendo oásis-meados alinhavos.
É até capaz de modificar a tarde amena,
Brotando sumos de laranjas nela.
O Ludugero faz medonhas divagações.
Até faz acender fogo em uivante ventania
E refloresce ao verde além dos horizontes cinzas!
A avó Dalila levava o menino ao açude do Calango.
E a professora Zilda Roriz falava: Esse menino vai ser poeta,
Pois vai garatujar redemoinhos a vida toda...
João Maduro vive a encher os vazios
Com atrevidas bugigangas, de sentinela,
E algumas criaturas sempre vão amá-lo
por suas arraigadas loucuras translúcidas!
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