PRESENTE DE UM ASTUTO COLIBRI,
por João Maria Ludugero
Não só de manjar ou cubar a lida,
Mas te sinto toda criatura, com a alma consentida.
Movo a chave que desperta o cinto da coragem,
Pois trago o olho acordado na fresta da beleza.
Sinto-te na polpa dos dedos, nos calos afoitos
Que te desnudam o lombo, as ancas, as eiras e tudo...
Sinto-te porque bem me achego à tua alma. Bem te sigo
Por labirintos, meadas e fios de palavras inquietantes,
Que se esvaem em bermas ou noutros caminhos,
Assombro dos sentidos; como mãos ávidas
Que apalpam o segmento do real mistério.
Instigo teu bico a me adejar penas, nomes e cores,
Não perco o céu da tua boca além do desvario,
Mas o assalto da maré ao lusco-ofuscado ânimo,
Pois sou guerreiro da paz e careço de amores.
E neste diapasão, alma de flor, eu te sinto arteiro...
E tu és a pétala que se arrima em temperança;
O veludo rasgado aos meus pés dispostos;
A canção das águas do riacho do Mel;
A sombra exótica prateada de luar;
O degrau que me eleva bem sei aonde;
A caudalosa fonte que me colore o frenesi,
O precioso leito que me abre as correntes,
A passarela que me faz ganhar o mundo...
Eu te sinto inteira, doce criatura!
E é tanto para o preâmbulo do que te sei, astuto colibri!
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