Cândido Portinari/1958 |
Certa feita me peguei falando sozinho
Pensando em voz alta - só eu comigo.
Acho até que já atingi intensos decibéis
Gritando aos meus olhos no espelho,
Estirando a língua pra mim mesmo.
E a barba rala, esta deixo às vezes crescer um pouco
Para assustar o convencional marasmo de plantão
Dos arrebitados mauricinhos bundas de bebê.
Me belisco inteiro, adoro me tocar, me bulir
Deixando eles acharem, por achar, que sou louco,
Que sou bobo a ponto de se gabarem
Ao afiar a língua bifurcada.
Ao afiar a língua bifurcada.
E daí, o que importa a esses imbecis
Se a boca é minha e com ela posso ver mais além?
Arremedo meus ecos, canto
E afugento os males que abundam,
E afugento os males que abundam,
Afastando os calos das cordas vocais.
A quem interessa o que faço dos punhos,
Se trago as mãos calejadas e o nariz em riste?
Invoco-me a falar-só, soletro-me
Se trago as mãos calejadas e o nariz em riste?
Invoco-me a falar-só, soletro-me
Ao fazer a cabeça girar em versos.
Viro o mundo do avesso, bem-me-quero,
De ponta a cabeça, ascendo-me.
Fico semitonto, sim, confesso ao ganhar o mundo.
Mas aceso, tonto de elementar alegria
Isto sim, ao vestir a camisa da poesia.
Daí viajo por longes desconhecidos,
Cheio de gostos manjados e caras novas.
Dou a volta ao mundo inteiro, me renovo
Assim feito um louco varrido e meio.
Se for o caso, uso de detergente.
Nem sempre me atrevo a tanto,
Mas como há sempre gente cínica
Solta por aí mundo afora, não custa
Usar vez por outra um saponáceo.
Cuido logo de não desistir da rota,
Desato o maluco moleque que há em mim,
Passo sebo nas canelas, e zás! percorro o mundo.
E não me cansa ver a beleza que há no mundo todo.
Mormente, quando resolvo escrever poesia,
Quiçá no intuito de unir versos, me enfrentar
Aprendendo a gostar de ser louco assim mesmo.
Passei mais a gostar de ri das minhas coisas,
Aprendendo a gostar de ser louco assim mesmo.
Passei mais a gostar de ri das minhas coisas,
Das velhas e novas demências
A reparar nas que assolam dia-após-dia,
Batendo na porta da gente,
Seguindo de porta em porta.
E eu, junto com elas, sinto-me estranho e belo.
Sem querer entrar, só de pirraça,
Atirando pedras nas luas,
Só pra quebrar o tédio
Ou à própria vidraça embaçada.
Sorrrindo à toa, prevaleço
Sorrrindo à toa, prevaleço
Dando forma às loas e rimas,
Amando ímpar, sem me preocupar
Com as rugas do rosto disposto ao riso.
Caminho manso e descabeladamente,
Pela rua a vagar, sem pressa.
Divago, sim, mas de felicidade,
Até quando cheiro uma única rosa
Sem me importar com o jardim inteiro!
This is another beautiful post from you. Thanks for visiting me and the comments.
ResponderExcluirCaro Poeta Ludugero,
ResponderExcluirQue coisa boa, que texto magnífico, rico.
Você me fez chorar, pois achei lindo demais seu poema, me fez viajar, passar sebo nas pernas e ganhar o mundo. Menino você me levou longe demais. Adorei! Serei sempre tua fã, de carteirinha. Amei de paixão sua poesia solta, que nos convida a ir longe, chegando ao coração, bem dentro, iluminadamente! Beijos.
Miline Marize de Castro Sepúlveda
Psicologia - UnB.
Oi marginal...lol
ResponderExcluirVenho partilha (um pouco) da tua loucura. Os teus textos são de factos estonteantes. Parece-me evidente que são o que és...Não será fácil para ti ser assim. O mundo não é complacente para pessoas como tu...
Não mudes!!!
Rapaz, pela sua cara de garoto vc se conhece como Ludugero ha pouco tempo. Cacete, eu me conheço como Zé Mirto ha um tempão.Bem, pertenço ao grupo experimental da academia araçatubense de letras, a única no Brasil a ter um grupo assim, dando-lhe toda a assistência literária. Apesar de não saber fazer poesia, faço-as porque gosto.Até já ganhei um prêmio aqui na cidade...credita? Esse povo daqui é maluco.Pertenço a um grupo de seresta e engano pra ca..olha a boca! pra caramba. Meu email é jhamiltonotirb@hotmail.com e está a disposição para troca de ideias.Obrigado pela visita.Seguirei i seu blog.abração.
ResponderExcluirJoão, é incrivel ver como a brincar com as palavras que saem de forma quase cantada animam um poema e nos prendem de inicio ao fim.
ResponderExcluirMuito bom!
abraço
oa.s
Muito lindo tudo que você escreve, estou passando para te desejar... um ótimo final de semana!
ResponderExcluirOi!!
ResponderExcluirPassei aqui para te desejar um ótimo final de semana! Aproveite bastante!
Bjos
Roberta
Muito engraçado este seu texto em forma de poesia!
ResponderExcluirConheça o meu novo blog e fique por lá como seguidor.
transpondo-barreiras.blogspot.com
Um abraço.
Obrigado, gente! Vocês são demais!
ResponderExcluirVoltem sempre. Teremos nividades a cada dia.
Hiper abraço,
João.
João, um texto enriquecedor... Fazer, sem pensar nas consequências ou no qe vão pensar.
ResponderExcluir"cheiro uma única rosa
Sem me importar com o jardim inteiro"
Abraço