A MANIA DE ESCREVER ME LIBERTA,
por João Maria Ludugero
Eles invadiram minha casa,
podaram árvores, cortaram flores
apagaram os muros,
cimentaram ofendículos,
eletrificaram cercas e arames,
travaram portas e tramelas,
fortificaram a cela, amordaçaram-me até à prisão.
Trancaram meus livros no arquivo morto.
Coitados. Eles pensam que me venceram,
mas esqueceram de lavar meu cérebro
e o coração, este não sofreu nenhum transplante.
E lá estava eu diante da solitária.
Trouxeram água, pão e mais nada.
Havia ali apenas um toco de lápis... e o papel do pão.
E ter um papel e um lápis já é um consolo.
Rasgaram minhas vestes, vendaram meus olhos,
algemaram meus passos, tentaram me isolar.
Havia, porém, um lápis e um papel,
além da parede caiada.
Mantive-me são na gaiola, sem desespero nem sede,
não me abateu fome nem me rendi à solidão.
Parede, papel e lápis,
eles desconhecem
o poder desses instrumentos!
Eles me dão penas, mas posso
com estes renovar as asas cortadas
e, sem titubear, voo além da cela
ao escrever meus poemas!
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