POEMA DESCALÇO
Autor: João Maria Ludugero
Não herdei fazenda,
Nenhum legado de alto valor
Nem ganhei botija de alma penada, não senhor.
Eu já nasci rico, desde que dei conta de mim
E descobri que poderia, mesmo descalço me vestir
De quase nada, e não ter vergonha de estar desnudo.
Eu sempre gostei de sentir os pés na terra nua.
Se rachava, passava sebo de carneiro na sola,
Na planta do pé que engrossava. Ficava bom,
Criava defesa, aspereza, tato, calos
E ainda com sebo nas canelas.
Num reclamava, não.
Humildemente era feliz.
Humildemente era feliz.
Eu parecia fazer parte do chão,
O chão me levava com ele, dia e noite.
Era chão pra todos os lados.
O chão nunca me deixava só e com sede.
O chão nunca me deixava só e com sede.
Eu achava água, minas, nascentes de ariscos,
Cavando com a mão no riacho
De repente, era quase um lago
A cacimba que formava à minha frente.
De fome, nunca precisei chorar. Careceu, não.
A terra me ensinou a escavar desde cedo
Suas raízes, não era fácil, não, mas plantava,
Acompanhava meu pai a semear ramas e manivas,
Acabava por apanhar doces batatas e mandiocas.
Era de praxe, aprender a pescar no rio Joca.
Além da pesca, já saía das águas de banho tomado,
Com a alma lavada de brincadeiras e mergulhos.
Depois, seguia para casa com a enfileira de pescados,
De piabas, carás, aratanhas e jacundás.
No caminho do mato, de atalho, já colhia tomates-cereja
E outros frutos e temperos que brotavam da terra.
Vida boa, a vida da minha Várzea.
Tão simplezinha, tão à-toa, mas tão acolhedora.
Interessante, pode até parecer uma vidinha besta,
Mas penso assim, não. Deito na rede e fico a ruminar:
Muita gente trocaria a vida apressada
Que leva, de ações, bancos e robôs
Para estar ali, para pescar e se achar descalço
A sentir o chão a lhe dar chão
Não movediço sob os pés,
Não movediço sob os pés,
A pisar destemido nas areias finas do rio Joca,
Bem ali na minha Várzea de Ângelo Bezerra!
Boa tarde, querido amigo João.
ResponderExcluirQue texto maravilhoso!! Viajei na sua história tão bem contada. Parabéns!!
Um grande abraço.
Agradeço a honra da sua visita.
Maria Auxiliadora (Amapola)
Imagens lindas, no seu blog.
ResponderExcluirEstou lhe seguindo também.
Tenha uma linda noite de paz e alegrias.
Que nostalgia dos meus tempos de criança!
ResponderExcluirEste texto fez-me voltar atrás no tempo quando também eu corria descalça e ajudava os meus pais no campo.
Que saudades...
Que bom ler os seus poemas, nos transportam e deliciam...conseguimos por momentos viajar e pousar os pés nas areias finas do rio Joca.
ResponderExcluirAbraço
OA.S
Olá amigo, de fato as coisas simples da vida são as maiores riquezas...Muito bom seu poema.
ResponderExcluirSeja bem vindo ao meu blog!
Herdeiro assim... ai de mim! que belo versar!!!
ResponderExcluirSelinho de Amigo de Ouro pra vc, docinho...!!!
http://diariodakiro.blogspot.com/2011/02/selinho-amigo-de-ouro.html
Bjinhoss!!!