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domingo, 27 de fevereiro de 2011

O SUMIÇO DO BANCO DE SEU BITA











O SUMIÇO DO BANCO DE SEU BITA
Autor: João Maria Ludugero

De manhã, o vazio.
O banco de madeira
Da farmácia São Geraldo
Tomou um chá de sumiço.
Banco antigo
Que me viu criança.
Banco amigo
Que desbancou o tempo
Que viu nascer
Toda uma geração,
Banco do inesquecível
Geraldo Anacleto, Seu Bita.
Banco relíquia nossa de cada dia,
Banco que guardava lembranças.
Quantos não descansaram ali a assuntar,
Botar o papo em dia, jogar conversa fora
Desopilar dos grilos da lida, dourar a pílula,
Desancar problemas, saber notícias do mundo
E por que não dizer dos namoros comprimidos,  
Daqueles falados amassos no interior 
Que fazem até banco gemer... digo ranger.
Quantos não se encostaram no assento
E saíram da farmácia São Geraldo 
Com a cabeça menos pesada,
Mais distante das cefaléias da vida? 
O banco de madeira foi furtado.
Quem fez isso não está feliz, coitado,
Está vergonhoso da cara de pau!
Dá até tristeza, decepção.
Não pelo valor material,
O banco não valia dinheiro, não.
Mas visto pelo lado sentimental...
Não fosse assim, digo,
Outro tomaria seu lugar.
Mas como substituí-lo,
Se coisas móveis existem,
Que de tanto marcar uma paisagem
Fazem parte da vida da gente,
Incorporam-se a determinado lugar,
Deixam de ser individuais,
Deixam de ser alheias,
Tornando-se coletivas,
Um bem que pertence a todos
Como relíquias espalhadas
Dentro do peito da gente?
Não adianta se furtar a isso:
Essas coisas  estão contidas
Dentro da alma varzeana.
O que causa indignação subtraí-las.
Quem dele se apoderou, repense bem,
Valerá a pena a devolução do banco.
E sobre o sujeito da ação
Não recairá nenhuma pena.
Caso contrário, resta-lhe a sanção,
A decisão é toda sua,
A sopesar na sua cabeça,  
Cuja consciência ditará a sentença.
Leia-se, publique-se, dê-se ciência.
E saia logo do banco dos réus
Ou prefere ser julgado à revelia,
Não dormir direito, insone ficar,  
Sentindo-se como que seu nome
Estivesse lançado no rol dos culpados?

3 comentários:

  1. Eu também queria sentar-me e agora?
    uma boa semana, amigo!

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  2. Boa tarde.

    O cenário se incorpora sim, às nossas vidas. Cada peça guarda muitas histórias, que ficam nas nossas lembranças.

    Um grande abraço.
    Tenha uma linda semana.

    Maria Auxiliadora (Amapola)

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  3. Que delicia!!! ^_^•


    Assim namorar num banco de outrora, e ter-se furtado da parte da história...

    Triste!

    Lindo lindo, querido ♥

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