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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

MEMÓRIAS DA NOSSA VÁRZEA


GENTE DO TEMPO

Autor: João Maria Ludugero

Sou do tempo 
Em que minha avó Dalila 
Buscava água no açude do Calango 
De madrugadinha, antes do sol nascer.
Para encher potes, jarras, moringas
E tantas vasilhas de barro 
Para conservar a água fresca

Sou do tempo 
Em que se lavava roupas 
Nas cacimbas do rio Joca
Enquanto nós, crianças, 
Aprendíamos a nadar, 
A pescar com a dona Neda
Que tão bem manejava seu landuá
E tirava do rio da Cruz 
Graúdos jacundás

Sou do tempo 
Em que nos sentávamos em volta
De pequena fogueira ali na minha Várzea, 
Para ouvir seu Joaquim Rosendo 
Levantar  na boca da noite 
Casos e coisas de arrepiar 
O imaginário da nossa gente,
Causos de assombração, 
Mula-sem-cabeça,
Lobisomem...

Sou do tempo 
Em que a modéstia  não era pobreza,
Mas fazia parte de um costume, 
De um jeito varzeano de ser e de viver

Sou do tempo 
Em que havia boiada a atravessar o rio,
Bois que passavam na rua,
Havia carro-de-boi,
Havia um mercadinho 
No centro da rua grande
Onde toda gente se encontrava 
Para, além da feira de domingo,
Levar um dedo de prosa
Ou para jogar dama 
Com seu Antonio Coelho...
Ali onde havia o bar do seu Biga
Que vendia bolo, caldo de cana e sonhos

Sou do tempo 
Em que dona Albanita vendia leite
Ali na sua casa da esquina 
Da Brasiliano Coelho de Oliveira,
Enquanto, na padaria, ali do lado, 
Seu Plácido Nenê Tomaz de Lima, 
Marido de dona Tide, vinha que vinha 
Com o balaio cheio de pães 
Cheirosos e quentinhos,
Recém-saídos do forno...
Não era mesmo, Terezinha?

Não, não me perdi
Não perdi esse passado pelo caminho
Escrevo só para vê-lo hoje, novamente...
E essas recordações de tanta gente

Deslizam-me pela memória, devagarinho
E, no intuito de guardá-las para sempre,
Vou construindo meu verseiro simples e sem rima!

Um comentário:

  1. Ah... Vida de cidade pequena... Que saudades de andar no meio da rua, sentar na praça, ir na bodega comprar doce de leite... Lindo poema!

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