GENTE DO TEMPO
Autor: João Maria Ludugero
Sou do tempo
Em que minha avó Dalila
Buscava água no açude do Calango
De madrugadinha, antes do sol nascer.
Para encher potes, jarras, moringas
E tantas vasilhas de barro
Para conservar a água fresca
Sou do tempo
Em que se lavava roupas
Nas cacimbas do rio Joca
Enquanto nós, crianças,
Aprendíamos a nadar,
A pescar com a dona Neda
Que tão bem manejava seu landuá
E tirava do rio da Cruz
Graúdos jacundás
Sou do tempo
Em que nos sentávamos em volta
De pequena fogueira ali na minha Várzea,
Para ouvir seu Joaquim Rosendo
Levantar na boca da noite
Casos e coisas de arrepiar
O imaginário da nossa gente,
Causos de assombração,
Mula-sem-cabeça,
Lobisomem...
Sou do tempo
Em que a modéstia não era pobreza,
Mas fazia parte de um costume, De um jeito varzeano de ser e de viver
Sou do tempo
Em que havia boiada a atravessar o rio,
Bois que passavam na rua,
Havia carro-de-boi,
Havia um mercadinho
No centro da rua grande
Onde toda gente se encontrava
Para, além da feira de domingo,
Levar um dedo de prosa
Ou para jogar dama
Com seu Antonio Coelho...
Ali onde havia o bar do seu Biga
Que vendia bolo, caldo de cana e sonhos
Sou do tempo
Em que dona Albanita vendia leite
Ali na sua casa da esquina
Da Brasiliano Coelho de Oliveira,
Enquanto, na padaria, ali do lado,
Seu Plácido Nenê Tomaz de Lima,
Marido de dona Tide, vinha que vinha
Com o balaio cheio de pães
Cheirosos e quentinhos,
Recém-saídos do forno...
Não era mesmo, Terezinha?
Não era mesmo, Terezinha?
Não, não me perdi
Não perdi esse passado pelo caminho
Escrevo só para vê-lo hoje, novamente...
E essas recordações de tanta gente
Deslizam-me pela memória, devagarinho
E essas recordações de tanta gente
Deslizam-me pela memória, devagarinho
E, no intuito de guardá-las para sempre,
Vou construindo meu verseiro simples e sem rima!
Ah... Vida de cidade pequena... Que saudades de andar no meio da rua, sentar na praça, ir na bodega comprar doce de leite... Lindo poema!
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