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terça-feira, 17 de agosto de 2010

PASSANDO A BATATA QUENTE

Autor: João Ludugero

Trago no peito um coração
que não se acomoda
nem se incomoda mais
com tua baba de moça.

Por favor, não venhas mais
tentar me convencer
com teu papo-de-anjo!

Ao ditares tua moda, já démodé,
já não mais me iludes,
teu nome caiu em desuso
pelos cômodos da casa;
logo, nem quasímodo
nem dragão-de-komodo,
nem oito nem oitenta
nem assim nem assada,
nada me causa mais estranheza
se estou nessa rua estreita
sem meta nem seta
nesse beco restrito
que não me aponta a saída

Mas de que modo eu vou sair
agora desse labirinto
dessa ressaca tamanha
resultado do trago sem moderação
desse gole que me dá fadigas,
se trago nos ombros o peso
do oco do mundo, obsoleto,
aquele que não vivemos,
ora espalhado num bocado de molduras
encardidas pelo tempo-furta-cor
dos nossos sonhos suspensos,
que ficaram inacabados
e que não tenho para quem os dar
ou a quem repassá-los

Mas quem seria louco de pedra
quem se atreveria a ter mão
eessa batata-quente,
quem ousaria querer
no meu pesadelo acordar,
de uma vez por todas,
me diga logo, moça bonita,
por que não devo amar mais
de uma vez na vida?

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