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terça-feira, 31 de agosto de 2010

VÁRZEA, FÉ NA VIDA












Ainda boto fé
na sustância do pirão
de farinha de mandioca
e no dourado peixe seco
comprado na feira
de domingo, aos garajaus.

Ainda boto fé na roça
de feijão de corda, de arranca,
no plantio das manivas das macaxeiras
e no brotar da cana-caiana.
Ainda boto fé no limão
que dá o ponto no puxa-puxa.

Levo fé no encorpado café forte
torrado no tacho com rapadura;
levo fé no mingau de araruta e leite de cabra,
na coalhada com mel de abelha ou melado,
no debulhar do milho,
no manuseio da farinhada.

Levo santa fé no pé-do-moleque
que me leva a dar rasteira na tristeza,
que me ensina a jogar bonito
na capoeira da minha Várzea,
a fértil terra das ilustres professoras Dezilda,
Wilma Anacleto, Hernocite e Zilda Roriz de Oliveira.

Levo fé no landuá, na rede de pesca,
no samburá repleto de carás, de peixes;
na curimatã com a barriga cheia de ovas
nas tarrafas, na faca amolada
nas pedras do rio Joca,
eu lá com meus anzóis
fazendo da vida a arte do desafio.

Creio na paz do bodoque de goiabeira,
na minha forquilha em arco pronto
para arremessar seixos e
bolas de barro endurecidas
a formar espirais no espelho cintilante
da água verde-musgo do açude do Calango.

Ainda tenho esperança na fé concreta
enraizada na vida, gestada no dia-a-dia,
como um elo que comunica o homem a Deus.
Pois sem vida, a fé de nada vale.
E sem fé, a vida perde o seu sentido.
Então, me diga, sem ela como seria
o verde vale do Seu Tida?

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