Autor: João Ludugero
Eu vi aquela mulher chorando
eu a vi perambulando pela noite alta
levava consigo uma criança pela mão
e na cabeça uma trouxa de roupa
de cortar o coração, de súbito,
dentro de mim eu vi aquela mulher chorando,
se debulhando em lágrimas
atravessando o beco de Seu Antonio Duaca
ou seria a Brasiliano Coelho?
A essas alturas da vida,
embalando meu poema quase triste,
procuro entender essa lenda varzeana,
como pudera aquela mulher morrer de fome
carregando um fardo tão pesado
suplicando água e pão,
a chorar suas agruras
pelas ruas da minha seara,
se aqui poderia manejar esse solo,
cavar seu sustento,
plantar a semente capaz de gerar frutos
com a força peculiar aos filhos da Várzea-mãe,
terra que nunca abandona suas crias
muito menos suas criaturas deixaria à míngua,
a chorar miserável destino, mendigar
à mercê da própria sorte, me diga?
Em defesa da terra,
como quem borda a sã existência,
já vislumbro outra mulher que chora.
Agora fora da lenda, outra mulher destemida,
que não manda recado,
que não cruza os braços às adversidades,
que ainda acredita,
uma nova varzeana,
não mais aquela mulher
de outrora, desiludida.
Essa nova mulher pode chorar, sim senhor,
mas não de fome, não fica prostrada,
pois ao sentir sede de lutar,
avança corajosa e digna,
a brigar por uma Várzea melhor, mais humana,
e, ao molhar seus olhos de felicidade,
adivinha o amor até num poema quase triste,
mas não emudece, não entrega os pontos.
Sim, eu vejo essa mulher de agora
que sobressai do teu ventre,
do teu vale fértil, minha Várzea-mãe!
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