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terça-feira, 24 de agosto de 2010








Autor: João Ludugero

Cavalgo
pela tarde
na sela do destino
a tanger o gado
que não possuo
apenas imagino
miro a paisagem
e nela derramo
meus olhos d'água
que acordam o Calango
açude que sangra
cheio de esperanças

Eu monto na garupa
do cavalo, em pelo,
agarrado na cintura
do tempo
eu me asseguro
boto fé nas rédeas imaginárias
que orientam minha cavalgada
que dão norte ao meu coração
galopante pelos campos da minha Várzea
sem me preocupar deveras com as esporas
que ganhei de legado,
desnecessárias ao uso

Sei que é manso o puro-sangue
que corre livre e solto
nos veios vertentes da vargem
sem cabrestos nem freios,
além do capim grosso
além dos seixos do caminho
além das macambiras
além dos gravatás,
muito além dos meus anseios

Na aba do meu chapéu
corre um sol amarelo, radiante,
a disputar com o lenço dourado
que enfeita o decote
da menina Tereza Gabriela

Sigo o sol a pino, contente,
só no trotar do meu alazão.
Escuto o cantar da cigarra
que quebra o silêncio da estrada
que me leva ao interior,
numa viagem pela mata a dentro
onde o vento arisco se agita
com hálito de virgem, bafeja
e ainda assobia, frente a frente
com o cio da terra prometida

E assim o dia termina, na garupa
do meu cavalo cor de canela
sigo apenas eu, desnudo
nem cela desapeada,
nem o carro encantado
nem a lenda da mulher que chora
nem sentença de esporas,
nem estribos, nem cancelas

Apenas eu, simplesmente
tal qual um índio, um nativo
a beber uma cuia de garapa
com seu cocar de penas,
despreocupada a mente
a caçoar das horas,
enquanto o alaranjado crepúsculo
cai no sono de Tereza Gabriela.

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