Autor: João Maria Ludugero
(Texto republicado por ocasião da
XXX Semana da Cultura Várzea/RN-2010).
Minha cidade tem um povo lindo, um povo inteligente, um povo que gosta de ver a bola rolar, e não podia ser diferente, desde cedo o varzeano aprende a bater bola nem que seja no campo da "vargem", aquela que deu nome ao lugar (vargem é sinônimo de Várzea), nossa pequena Várzea onde o Calango sobeja o excesso de suas águas, águas oriundas lá do sangradouro do açude, que fertiliza o juncal ali existente, se escoando bueiros abaixo rumo ao rio Joca. Aos domingos, geralmente o povo vai ao estádio João Aureliano de Lima acompanhar e ver o Várzea E. C. jogar contra o time do Nova Esperança F.C.
Meu povo gosta de ir ao estádio porque ama futebol, assim como gosta de outras coisas, tipo sinuca, música, forró, gincanas, o bar do Eduardo Maninho, família, amigos (gostar de amigos - redundância, né não?), caminhar pelas ruas da minha Várzea, do agito na Praça do Encontro, de jogar conversa fora, enfim, tantas outras coisas boas, mas, sem dúvida alguma, o futebol para o povo varzeano é uma paixão. Lá pode até rolar o fanatismo de algumas pessoas, mas felizmente não gera aquela violência que ocorre nas grandes cidades. O futebol tem essa coisa que não consigo explicar o que é, mas que fascina de um jeito o varzeano... Vai saber.
Quiçá, pode ser a poesia da bola passando de pé em pé, um gol de placa do meu irmão Claudinho, uma elegante bola matada no peito, a massa gritando olé, ou simplesmente, frustração por não ter se chegado ao gol. Sabe de uma coisa, acho que futebol é mais ou menos como ler e escrever poesia, um dia você acerta o gol, no outro, nem passa perto. Um dia troféu nas mãos, no noutro, lágrimas no coração. Pois é, sou mais ou menos assim, não admito empate, se é pra rir, vamos rir, se é pra chorar, vamos chorar.
A vida também se parece com o futebol, por aí tem muitas pessoas com as chuteiras nas mãos, mas que nunca entram em campo para jogar, e que mesmo com a bola nos pés não têm coragem de chutar em gol, vivem de zero a zero, porque têm medo de arriscar. E aí, quando resolvem jogar, a partida já chegou ao final.
Fazer o gol da vitória nos acréscimos não é para todo mundo. No mesmo lugar em que se fabricam heróis também se fabricam vilões. E assim como o futebol, a vida tem dessas cores. Outra coisa em que este esporte maravilhoso se parece com a vida, é preciso ter estratégia e colocá-la em prática para vencer, pois ninguém, a não serem os cartolas, ganha antes do jogo.
E sabe o que mais, na hora que precede o gol, quando a gente vai levantando lentamente enquanto a bola se encaminha para as redes para você explodir de delírio, e que todos os seis sentidos não fazem sentido algum, é justamente nesse átimo de segundo que você conhece o Nirvana, a ausência de dor que os indianos (tá na moda) tanto falam.
Futebol não é uma arte que se explica, ou você entende, ou se identifica. E para o povo varzeano é, deveras, uma paixão. A gente sabe disso. Eu faço poesia, eu tenho paixão por escrever, não jogo futebol nos campos da minha Várzea, mas jogo futebol de Várzea no papel, vou driblando as palavras, sem trocar os pés pelas mãos, vou acreditando na vitória de quem almeja o gol, vou acertando o chute e levando a bola, com força, com garra, na certeza de melhores dias virão.
Um dia a gente, de tanto acreditar, acaba por acertar, nem que seja na trave. Só sei que o importante é tentar, não cruzar os braços, digo, as pernas, e correr para o abraço da esperada vitória, ou, ficar de bunda no banco de reserva esperando o futuro cair do céu, como se a vida nos desse o troféu de mão beijada, de graça... Não é bem assim, se a gente não buscar o sonho, se a gente não correr atrás do sonho, se não chutar a bola, aí não tem jeito, a vida vai ficar no zero a zero, mesmo.
Só sei de a coisa, a gente não quer isso, a gente quer o gol, a gente quer sorrir ou chorar, mas quer tentar ser feliz. Porque a gente está aqui para acreditar nisso e São Pedro, como nosso árbitro de carteirinha, é testemunha de que a vida é um jogo, suas duas palmeiras a trave, e a lua, esta é como uma bola cheia, esperando o apito inicial para que a gente faça um gol, nem que seja no azul do céu varzeano! Um gol de placa, digno de ser emoldurado.
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