FOGO DO ITAPACURÁ,
por João Maria Ludugero.
Rede avarandada no alpendre
da casa de tio João Pequeno.
Fogão de lenha a recender
cheiro das temperanças do Itapacurá.
O silêncio esfumaça no ar.
Sombras e tisna pelas paredes...
O bule de ágata com alguns descasques na tinta azul.
Um cheiro de café coado no saco de pano,
capins santos, ervas doces e cidreiras.
Cuias com broas de fubá, tachos de goiabada-cascão,
compotas de caju, doce deleite.
Um alguidar cheio de batatas-doces cozidas,
milho assado na palha e tapiocas.
Dona Zefinha cheia de muitas estórias
de assombração, de almas penadas.
O nicho do oratório repleto de santos
e flores de crepom azuis e encarnadas,
velas-de-sete-dias a queimar cismas.
Dona Zefinha ronda vigilante e quieta,
abanando o fogo em brasas incandescentes
a alumiar a pequena cozinha. Apenas o fogaréu,
as achas-de-lenha a crepitar,
enquanto um magote de meninos
traquinas espia pelo buraco
da tramela a brejeira Joaninha
que se despe junto à bica do banheiro de pau-a-pique...
A inocência se desnuda, sem vergonha de ser linda
com seus peitos de sapeca menina-moça...
O sabão escorrega, a espuma desce e lava a alma
de quem está na espreita, limpando a vista...
Madeiras estalam na dança das labaredas,
enquanto a menina com seios de dois limões e pêlos ralos,
bem se apanha ao se banhar contente,
sem motivo para esconder as coisas de Deus,
se deixando gostar de ser curiada e benquista.