NATIVA VÁRZEA-RN, por João Maria Ludugero.
Acordai sol varzeano,
Acendei os mulungus nos campos do Vapor
Vigiai a lua renovada de esperanças
Com face destemida a contento
Espantas as mariposas e os gafanhotos
Que querem fazer festa para as andorinhas
Margaridas, gravatás e bromélias
Nos retiros os florais
Estão vestidos de cor
No céu esfiapado em nuvens
Preparam-se as tanajuras
Doidas e tontas
Direto à sentinela das gorduras...
Trovoada vem chegando valente
Rajadas de ventos
Soprando a poeira
Alumiações clareiam sítios
Canteiros e jasmins em odores
Preparam seus amores
Dentro de carnes e unhas
Tempo bom de pintar
Encher a Várzea de coisas
Que amenizam e animam a lida
A correr dentro e alto pelos umbus-cajás-mangas
Chegando à compostura dos riachos do Mel ao Itapacurá...
Salve Várzea das Acácias
De Bita e de Nina de Joaninha Mulato
De Nezinho, Virgílio e Terezinha Bento
Searas e margens do rio Joca ao açude do Calango
Alegrai-nos lagoas compridas,
Cantai-nos poemas contentes
Até a teia de aranha já se instalou
Pro pouso do atento pirilampo
Que jurava rebentar em esperteza
Os ventos do agreste de Zé Borges
Sacode tudo pra lá e pra cá, vai e vem,
Arranca alaranjadas flores de mulungu...
Alveje os telhados ressecados das casas caiadas,
Salvem as rãs e as coroas-de-frades ressuscitadas
Com a esperada canção de estio
Embalando a tarde amena ao lusco-fusco
De pingos em pingo recolhidos da neblina da noite
A nos encher os potes de fantasias...
Santas ventanias e os céus em desatino
Parecem furiosos e afoitos, azulejados,
Mas se prestam ao serviço dos alertas
Agitam-se espairecidos ventos
Pro lançamento do folguedo
Das primeiras águas da Várzea...
Tudo a ver com meu poema,
Que é astuto e tinhoso
A se mirar pela estrela d’alva,
Prateando as estações da lua...
Mãos cheias de calos e marcas
Desde o tempo do feijão novo chegando
Do milho pra fazer canjica, pamonha e cuscuz
E que tal a paçoca de carne-de-sol
Com cebola-roxa e farofa de manteiga da terra,
Pega boi bravo com os laços em riste
Lá na minha seara potiguar de cabra valente
Corajoso
Retirante
O chamam de cabra da peste,
Mora nas terras áridas e agrestes...
Por vezes sacode a poeira aos lajedos
Tentando dar a volta por cima, e consegue,
Ganha o pão com enxada afiada,
Leva a vida com honestidade
Pacato cidadão dos desafios,
De tudo padece sem esmorecer,
Parecem mesmo enlevos de Deus
Dentro da boa-fé que o leva na lida...
Mas pra tudo tem jeito
Num bom recomeço
Pela Várzea a dentro!
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