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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

NATIVA VÁRZEA-RN, por João Maria Ludugero

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATIVA VÁRZEA-RN, por João Maria Ludugero.

Acordai sol varzeano, 
Acendei os mulungus nos campos do Vapor 
Vigiai a lua renovada de esperanças 
Com face destemida a contento 
Espantas as mariposas e os gafanhotos 
Que querem fazer festa para as andorinhas 
Margaridas, gravatás e bromélias 
Nos retiros os florais 
Estão vestidos de cor 
No céu esfiapado em nuvens 
Preparam-se as tanajuras 
Doidas e tontas 
Direto à sentinela das gorduras... 
Trovoada vem chegando valente 
Rajadas de ventos 
Soprando a poeira 
Alumiações clareiam sítios 
Canteiros e jasmins em odores 
Preparam seus amores 
Dentro de carnes e unhas 
Tempo bom de pintar 
Encher a Várzea de coisas 
Que amenizam e animam a lida 
A correr dentro e alto pelos umbus-cajás-mangas 
Chegando à compostura dos riachos do Mel ao Itapacurá... 

Salve Várzea das Acácias 
De Bita e de Nina de Joaninha Mulato 
De Nezinho, Virgílio e Terezinha Bento 
Searas e margens do rio Joca ao açude do Calango 
Alegrai-nos lagoas compridas, 
Cantai-nos poemas contentes 
Até a teia de aranha já se instalou 
Pro pouso do atento pirilampo 
Que jurava rebentar em esperteza 
Os ventos do agreste de Zé Borges 

Sacode tudo pra lá e pra cá, vai e vem, 
Arranca alaranjadas flores de mulungu... 
Alveje os telhados ressecados das casas caiadas, 
Salvem as rãs e as coroas-de-frades ressuscitadas 
Com a esperada canção de estio 
Embalando a tarde amena ao lusco-fusco 
De pingos em pingo recolhidos da neblina da noite 
A nos encher os potes de fantasias... 
Santas ventanias e os céus em desatino 
Parecem furiosos e afoitos, azulejados, 
Mas se prestam ao serviço dos alertas 
Agitam-se espairecidos ventos 
Pro lançamento do folguedo 
Das primeiras águas da Várzea... 

Tudo a ver com meu poema, 
Que é astuto e tinhoso 
A se mirar pela estrela d’alva, 
Prateando as estações da lua... 
Mãos cheias de calos e marcas 
Desde o tempo do feijão novo chegando 
Do milho pra fazer canjica, pamonha e cuscuz 
E que tal a paçoca de carne-de-sol 
Com cebola-roxa e farofa de manteiga da terra, 
Pega boi bravo com os laços em riste 
Lá na minha seara potiguar de cabra valente 
Corajoso 
Retirante 
O chamam de cabra da peste, 
Mora nas terras áridas e agrestes... 
Por vezes sacode a poeira aos lajedos 
Tentando dar a volta por cima, e consegue, 
Ganha o pão com enxada afiada, 
Leva a vida com honestidade 
Pacato cidadão dos desafios, 
De tudo padece sem esmorecer, 
Parecem mesmo enlevos de Deus 
Dentro da boa-fé que o leva na lida... 
Mas pra tudo tem jeito 
Num bom recomeço 
Pela Várzea a dentro!

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