POETA JOÃO MARIA LUDUGERO, CABOTINO, NÃO!
Não é só de manjar, mas quero continuar a exprimir as velhas necessidades e angústias humanas, quero ir dentro e alto, depois da Várzea, para conhecer outras paisagens sem levar comigo os sinos na minha coleira me anunciando.
Não, assim não, pois não sou cabotino!
Se um dia, quem sabe, vir a cessar o meu contentamento, por causa dos abusos de minha naturalidade, não por falta dela, quero a inércia final dos meus passos,
pois não conseguirei viver mais compelido à modorra pagã desses muros e nichos subvertidos em quaisquer bermas.
Desnudo, completo-me a contemplar este mundo e vejo abutres a espera da carniça diária. Antevejo seres programados, que morrem debruçados às suas conquistas terrenas, enxergo robôs enfileirados seguindo e fazendo as mesmas coisas dia-após-dia, numa engrenagem padronizada, fora das eiras, beirando o portal de muitas penumbras. Antevejo divisões que criam soberanias dentro da lida,
vejo ideais e pensamentos que fundam ideologias sanguinárias,
vejo cegos perambulantes discursando por meio de elaboradas expressões.
Vejo tiranos bárbaros disfarçados de sensatos pregadores que camuflam suas espadas pelo cultivo de palavras de astuta manipulação,
vejo o homem com sua ciência exata querendo a todo momento se superar.
Vejo interrogações a cubar da lida, dentro de muros e derrubadas cercas vivas,
vejo e sinto o meu próprio despreparo frente as convulsões do meu humilde irmão.
Percebo e sinto tudo isso infundido num marasmo e num pessimismo, que se precipitam pela minha inércia e pelo meu grito constante de poeta lúcido ou louco social.
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