Autor do texto e poema:
João Maria Ludugero
E tudo começou naquele ano de 1980.
Naquele ano se realizava a primeira festa da cultura no Município de Várzea, com o objetivo de resgatar, divulgar e perpetuar a cultura varzeana, num projeto idealizado pela Professora Gabriela Maurício de Pontes, ilustre contribuidora da educação no município, respaldada por Severino "Silva" Florêncio Sobrinho, prefeito naquela época.
O dia 22 de agosto, dia do folclore, foi a data agendada para a realização desse evento marcante para a cidade de Várzea, uma vez que a partir de iniciativas culturais dessa magnitude denotou-se a promoção da coesão social, do acentuado crescimento econômico e do desenvolvimento humano, eis que surgiu dali uma nova ação protagonizada por sujeitos, cidadãos no resgate das nossas raízes, não deixando nossa cultura morrer ou cair no vazio.
O sucesso do evento tomou elevada proporção, tanto que foi destinada uma semana no mês de agosto para a realização da Semana da Cultura, com a participação das escolas, igrejas, prefeitura e comunidade em geral. No decorrer do evento destacam-se representações artísticais populares, transmitidas de uma para outra geração, isto é praticadas de pais para filhos e netos; exposições de trabalhos artesanais dos projetos e das oficinas realizadas pelas escolas e por grupos locais e regionais, além de barracas com comidas típicas, jogos e outras atrações folclóricas.
Nos rostos de todos brota a esperança de um futuro melhor para Várzea, para o estado do RN e para o país, para as novas gerações, tanto no campo das artes, da lida diária, na otimização da educação, como na luta para encontrar o caminho do desenvolvimento. Como se vê, estão a surgir quadros que poderão valorizar ainda mais a cultura varzeana, seja na revitalização das tradições culturais dos pioneiros traçadas no decorrer do tempo, seja na criação de novas searas introduzidas pela riqueza do folclore e da arte cotidiana da nossa gente.
Por oportuno, não é demais ressaltar que num espaço de 30 anos foram superados muitos desafios, com persistência, coragem e determinação resultando nas conquistas ora alcançadas e no prazer de fazer bem feito. A semana da Cultura dá indicações claras, consideradas muito positivas, de que o testemunho do resgate das nosas raízes prevalece e apresenta aqueles que serão os nomes sonantes no futuro da Cidade da Cultura: que são vocês, caros cidadãos varzeanos!
E é bem sabido que só depende de nós não deixarmos nosso patrimônio cultural perecer. Portanto, realçar a importância desse evento não é meramente chover no molhado, porque trata-se da divulgação da rica cultura da nossa Várzea, para que as futuras gerações possam usufruí-la, resgatando valores e se orgulhando de aqui ter nascido, haja vista que a cultura é tida como referencial na vida de um povo, é a espinha dorsal que sustenta o presente de um Povo, de uma Cidade, de uma Nação.
Aqui estaremos para acolher mais esta Edição da XXX Semana da Cultura em Várzea/RN-2010. Seja bem-vindo à Cultura, a cidade de Várzea está te esperando de portas abertas!
VÁRZEA, POÉTICA CIDADE DA CULTURA
Eu queria fazer um poema
para a XXX Semana da Cultura
um poema com a cara do povo da minha Várzea,
um poema para essa gente bonita e hospitaleira
um poema simples assim,
um poema sem preço, de alto valor
um poema de ouro de elevado quilate
dourado assim como o sol da minha Vargem.
Quem me iluminou, quem me deu a ideia
de compor estes versos
foi a luz própria que emana desse povo,
que me ajudou a escrever a poesia que sinto
nessa alegria que pode estar sim desenhada no meu peito,
como um poema de amor que a todos encanta
enquanto canto esse poema na travessia da vida
E são tantos os autores desse meu poema inacabado
que versos assim trazem rima doutra inspiração,
ou não trazem rima alguma, pouco importa
se rimados na lamúria da mulher que chora,
se rimados na lenda do carro encantado
se rimados na lida de outrora, quem sabe
se rimados no porvir do nosso linguajar
Assim é que escrevo este poema singular,
cavado e escavado no cerne da minha Várzea
buscando nossas raízes, seus valores,
resgatando a cultura da minha gente.
Gostaria de poder fazer uma canção
um poema-cantiga que ladrilhasse esse chão
só pra ver este povo passar, no dia-após-dia
e abrilhantar de vida este poema que não carece de rima
Que assim seja na manifestação
no desafio de prevalecer nessa arte sã
ao manter a tradição das coisas da terra
de boca em boca, de pai pra filho
pra fazer valer o que se vive,
o que se leva da vida que a gente leva
nesse sagrado solo de Ângelo Bezerra.
Só de ti, meu povo, vem a revelação
das várias mãos arteiras, criativas
que estas portas abriram, abrem e abrirão à cultura.
Meus pensamentos vão longe, a léguas
na cavalgada, sob os arreios do tempo;
com uns cavalgo para o silêncio
com outros marcho para a saudade.
Enquanto admiro meus cavalos na vaquejada,
meu gado rumina no pasto, no agreste verde,
meu boi-de-reis bumba na festa de apartação
do presente e do passado
na tradição, no folclore, no legado
na herança de tantos pioneiros,
lembro-me de Mateus Joca Chico
de Capitão Gonçalo
de Joaninha Mulato
das meninas do pastoril
de Joaquim Rosendo
dos folguedos do coco de ganzá
de Zé Camarão
das quadrilhas de Bita Inácio
das noites de maio, das novenas
e de tantas outras pessoas
que aqui não caberia todas citá-las,
evitando esquecer de algum nome.
Isto é minha Várzea,
berço da Cultura e da felicidade
que afugenta os quebrantos
sob os ramos das rezadeiras
que benzem o nosso chão,
renovando antigas esperanças
na dança das horas
Isto é a Semana da Cultura
que reaviva as nossas raízes
na embolada dos meus sentimentos,
que retumba e ressoa como as cordas
de um violão, um afinado instrumento
movido pela alegria afoita, inquieta
em que me vejo estampado, e não me canso.
pois sou varzeano, e não me calo.
A galopes divago na antiga paz que me guia.
À sombra, molho o rosto no açude do Calango
e dou vivas ao povo da minha Várzea,
que a tristeza desvia, que dá rasteiras, sem medo,
pois de onde venho, tenho muito orgulho.
É de lá que eu vim, da terra dos bons ventos
do louvor, da tradição, da fé santa
onde o povo não deixa o tempo apagar essa chama
que segue seu perene ritual
sob os barbas do Santo apóstolo Pedro,
chaveiro das nossas esperanças,
porta-voz dos nossos credos,
numa alegria sem igual
que tanto contagia o mês de agosto,
na Semana da Cultura!
P.S.:
Por derradeiro, esclareço aqui que no meu poema,
o ‘eu’ deve ser entendido como um ‘coletivo’,
de um povo inteiro que quer ter palavra - o povo varzeano.
Desta forma, o poeta assume-se como porta-voz daquele povo
que é o seu e, dirigindo-se à Várzea como a terra-mãe
que a todos acolhe e protege,
ora cantando sua vida, ora pedindo ao apóstolo São Pedro
sua intercessão perante o Pai Eterno,
rogando proteção e bênçãos ao longo do tempo,
ora suplicando ao poder público direitos a uma vida própria,
digna, autêntica, em prol de sua amada gente varzeana.
E tenho dito. Ponto, por enquanto,
pois sou VARZEANO,
e não me calo.