UM BANHO DE LUA, PIRILAMPOS
E OUTROS LAMPEJOS
Autor: João Maria Ludugero
Quando o véu da noite cai,
Resserena em minha Várzea
E a lua vem se abaixando
Mansa e permissiva amante
Toda pigorando um banho, ávida
Vai descendo toda faceira, airosa
Vestida de cetim, cambraia e seda,
Chega que chega desavergonhada
Levantando a anágua branca,
Erguendo a meia taça inteira
Pra brincar lá no açude do Calango.
Que lua mais sirigaita, atrevida,
Que lua mais avançada, enxerida
É a dona do pedaço, dama da noite alta,
Mostra suas fases íntimas sem pejo
Ao mergulhar fundo completa, toda prosa,
Resignada, imersa na magia do fetiche
Que lhe reservou a sorte de se manter
Teúda e manteúda solar concubina
De só amar por telepatia, doar-se
Expondo seu ponto fraco:
Adora mergulhar toda nua no leito
Do envaidecido açude verde-musgo,
Onde tem orgasmos múltiplos
Sob intenso feixe de luz
De primeira grandeza, canhão
Disparado à distância, é claro!
O Sol (diga-se de passagem, voyeur dourado)
Se encontra no Japão, com um olhar projetado
A espiar sua musa. Ciúmes pra quê, me diga,
Se a lua é toda sua: alma, corpo, espádua, lume?
Enquanto isso, na noite da Várzea, sapos coaxam,
Coaxam sob o efeito da chuva de prata, ula-lá!
Na sombra da moita virgem
Na penumbra dos juncos,
No alagado da Vargem
Num braço do rio Joca,
Onde saltam pererecas assanhadas
A se esbaldar na festa dos caçotes
Que invadem a penumbra erma
Dos campos lá do Vapor, na mata
Que traz um carro encantado
Que acende o pisca-pisca
Que ensaia chegar mais perto
E, alerta, a gente fica esperando,
E o carro pisca, piscando e se esconde
Num longe que nunca chega.
Pisca, pisca lumes vagos,
Vagos lumes semi-acesos,
Verdes lanternas fosforescentes
De bundas de pirilampos.
Ó, carrinho mais sem destino!
Esse veículo da tal lenda.
Ó, carrinho que engana a gente
Nos fazendo as vezes de trouxa,
Mas aí já se cai noutra estória:
A da pobre mulher que chora
Com a trouxa na cabeça
Pela madrugada afora
Pelas sendas varzeanas.
Que banho magnífico, de lavar a alma, ula-lá!
ResponderExcluirQue poema encantador, desnudo, aconchegante, maravilhoso. Gosto da forma que escreves, adorei a festa da lua, o lindo luau!
Caro poeta, me desculpa pela intromissão, mas vai escrever bom assim... nossa, tô toda arrepiada. Deve ser o feitiço da lua que me pegou. Que poema!!! Amei de paixão este e tudo que escrevinhas. Tô fascinada pelo seu blog, já o recomendei para quinhentas amigas. Tá todo mundo querendo passar aqui. Vale a pena. Eu sou tua fã, desde já! Até mais. Abraço carinhoso,
Ruth Eloysa de Alencar - UnB/Brasília-DF.
Pintores e poetas deveriam fazer uma sociedade.
ResponderExcluirQue belo quadro daria este teu poema!
Um banho ao luar, ao som de pirilampus...
a magia que inebria e contagia.
bjus e um bom dia João
Acho que fiquei um minuto parada antes de conseguir reencontrar as palavras. Tudo é de um vocabulário artístico e uma docilidade quase musical que eu fiquei algo do tipo O.O
ResponderExcluirAgradeço a sua visita lá no blog e estarei seguindo aqui. Excelente!
http://escrevoparaviver.blogspot.com
Dos melhores que já li por aqui. Queria dizer-lhe também que não acho que os comentários acima sejam por acaso. São mais que merecidos. Abraço e bom carnaval.
ResponderExcluirAii que me derreto toda, essa lua toda lampeja
ResponderExcluirsob a tinta da tua caneta
desenha e desnuda se deixa...
^_^•