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quinta-feira, 3 de março de 2011

UM BANHO DE LUA, PIRILAMPOS E OUTROS LAMPEJOS




















UM BANHO DE LUA, PIRILAMPOS 
E OUTROS LAMPEJOS
Autor: João Maria Ludugero

Quando o véu da noite cai,
Resserena em minha Várzea
E a lua vem se abaixando

Mansa e permissiva amante
Toda pigorando um banho, ávida
Vai descendo toda faceira, airosa 

Vestida de cetim, cambraia e seda,
Chega que chega desavergonhada
Levantando a anágua branca,
Erguendo a meia taça inteira
Pra brincar lá no açude do Calango.
Que lua mais sirigaita, atrevida,
Que lua mais avançada, enxerida
É a dona do pedaço, dama da noite alta,
Mostra suas fases íntimas sem pejo
Ao mergulhar fundo completa, toda prosa, 
Resignada, imersa na magia do fetiche
Que lhe reservou a sorte de se manter
Teúda e manteúda solar concubina
De só amar por telepatia, doar-se

Expondo seu ponto fraco:
Adora mergulhar toda nua no leito
Do envaidecido açude verde-musgo,
Onde tem orgasmos múltiplos
Sob intenso feixe de luz
De primeira grandeza, canhão
Disparado à distância, é claro!
O Sol (diga-se de passagem, voyeur dourado)
Se encontra no Japão, com um olhar projetado
A espiar sua musa. Ciúmes pra quê, me diga,
Se a lua é toda sua: alma, corpo, espádua, lume?  
Enquanto isso, na noite da Várzea, sapos coaxam,
Coaxam sob o efeito da chuva de prata, ula-lá!
Na sombra da moita virgem
Na penumbra dos juncos,
No alagado da Vargem
Num braço do rio Joca,
Onde saltam pererecas assanhadas 
A se esbaldar na festa dos caçotes
Que invadem a penumbra erma
Dos campos lá do Vapor, na mata
Que traz um carro encantado

Que acende o pisca-pisca
Que ensaia chegar mais perto
E,  alerta,  a gente fica esperando,
E o carro pisca, piscando e se esconde
Num longe que nunca chega.
Pisca, pisca lumes vagos,
Vagos lumes semi-acesos,
Verdes lanternas fosforescentes
De bundas de pirilampos.
Ó, carrinho mais sem destino!
Esse veículo da tal lenda.

Ó, carrinho que engana a gente
Nos fazendo as vezes de trouxa,
Mas aí já se cai noutra estória:
A da pobre mulher que chora
Com a trouxa na cabeça
Pela madrugada afora
Pelas sendas varzeanas.

5 comentários:

  1. Que banho magnífico, de lavar a alma, ula-lá!
    Que poema encantador, desnudo, aconchegante, maravilhoso. Gosto da forma que escreves, adorei a festa da lua, o lindo luau!
    Caro poeta, me desculpa pela intromissão, mas vai escrever bom assim... nossa, tô toda arrepiada. Deve ser o feitiço da lua que me pegou. Que poema!!! Amei de paixão este e tudo que escrevinhas. Tô fascinada pelo seu blog, já o recomendei para quinhentas amigas. Tá todo mundo querendo passar aqui. Vale a pena. Eu sou tua fã, desde já! Até mais. Abraço carinhoso,
    Ruth Eloysa de Alencar - UnB/Brasília-DF.

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  2. Pintores e poetas deveriam fazer uma sociedade.
    Que belo quadro daria este teu poema!
    Um banho ao luar, ao som de pirilampus...
    a magia que inebria e contagia.
    bjus e um bom dia João

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  3. Acho que fiquei um minuto parada antes de conseguir reencontrar as palavras. Tudo é de um vocabulário artístico e uma docilidade quase musical que eu fiquei algo do tipo O.O
    Agradeço a sua visita lá no blog e estarei seguindo aqui. Excelente!

    http://escrevoparaviver.blogspot.com

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  4. Dos melhores que já li por aqui. Queria dizer-lhe também que não acho que os comentários acima sejam por acaso. São mais que merecidos. Abraço e bom carnaval.

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  5. Aii que me derreto toda, essa lua toda lampeja
    sob a tinta da tua caneta
    desenha e desnuda se deixa...

    ^_^•

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