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sexta-feira, 4 de março de 2011

A HORA DE CHORAR OS DIAMANTES



A HORA DE CHORAR OS DIAMANTES 
Autor: João Maria Ludugero

Quem apregoa que homem não chora
Traz um pensar torto, insensível, insensato.
Quando a carne dói, quando o coração
Se tranca no peito, quando a tarde cai
E a saudade chega, deixa o coração exposto
E as tintas das horas embaçam o olhar semitonto.
Daí, até o mais sisudo, o mais carrancudo dos homens
Se debulha em lágrimas. Isso lhe é de direito,
Não há que negar.Muitos dos homens choram
Às escondidas, na calada da noite abundantemente,
Mas não admitem a dor sentir.
Outros choram, choram, mas é não de dor o soluço
Preso na garganta. Pode ser da lembrança
Por antes não ter vivido o que não mais volta.
É isso a causa da revolta. Digo sem medo de errar,
Asseguro de camarote: é que tarde lamentamos
O diamante fraturado.Seu brilho material tão intenso,
Deixa-nos o ser tonto, insone e nos tira a paz de costume.
Furta-nos as cores e até se nos faz achar aturdidos,
Pensar-se dono do mundo, que a vida não é curta, por aí.
Que a gente é para sempre. Mas, quando cai em si, já se foi.
A gente chora o leite derramado. É consabido.
Digo, o brilho que não foi sentido, acha-se perdido.
Deveriam ter sido usados: Os diamantes, as verdes esmeraldas, 
A melhor porcelana pintada à mão que sempre esteve guardada,  
A roupa sob medida para ocasião de festa,
Os ternos de casemira importada
Os vestidos, os linhos, os panos da costa,
As sedas e os cetins reluzentes
As taças de cristal bordadas a jato de areia,
As joias, brincos e anéis de brilhantes.
Mas a louça ficou encardida nas bordas,
A roupa ficou imprestável, pequena, encolheu sem lavar,
Impregnada de naftalina, ainda com etiqueta na dobra,
Nem assim ficou livre das traças e das manchas.
O pano da costa esgarçou, desfiou, rasgou, criou nódoa 
E as estampas desbotaram, perderam a cor.
O hialino do cristal de tão opaco embaçou,
O tempo trincou as taças empoeiradas.
As luas pingentes, os brincos de ouro e outras pedrarias
Parecem bijuterias sem fulgor. Chegou a dar limo nas pratas
Que ninguém quis mais usar. O zinabre tomou conta dos cobres.
Então, por que chorar, deixar se corroer por dentro,
Se o que voga, o que vigora no fim das contas,
É o que se acendeu, o que nos inflamou, o que foi lindo,
O que doeu, o que chorou e marcou o que se presta, mesmo findo,
O que vale mais que tudo isso: ter vivido um grande amor,
O maior achado. 
Que bem maior poderia ser mais precioso que este tesouro? 
Caso contrário, se só existiu, se apenas foi concebido,
Se não chegou a nascer com vida. Se não chorou...
É feto, é fato consumado. Em suma: é natimorto ou apenas
Rebentou coisa vegetal, se existiu, foi pé de planta
Artificialmente regada na Casacor.
E pedir arrego "à mamãe eu quero", pode soar tarde demais! 
O jeito é partir para a ordenha, arregaçar as mangas
Limpar o bigode e meter a boca na botija,
Sem pudor para o recomeço, antes que Ali-Babá venha,
Na surdina mamata, e tenha mão da sua mina,
E lhe furte também a coragem de abrir o sésamo da alegria
De viver esse verdadeiro diamante: a vida que lhe resta!   

4 comentários:

  1. Realmente a vida é um lindo e brilhante tesouro!

    Lindos teus textos!abraço,ótimo fds,chica

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  2. Primeira vez que vejo um homem adimitir que chora, =). Muito bonito o seu texto e o seu blog... vou te seguir com prazer, beijos, Milene.

    http://melodiaemversos.blogspot.com

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  3. Este tesouro dado a nós não nos pertence.
    bjus e bom domingo

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