VAMBORA, MENINO! (APRENDENDO A JOGAR NO CAMPO DA POESIA)

VAMBORA, MENINO!
(APRENDENDO A JOGAR
NO CAMPO DA POESIA)
Autor: João Maria Ludugero

Eu ainda novelo estando novelo
No ventre da minha mãe Maria
E acho até que já sentia,
Dava lá meus chutes, bulia
Corria, circulava poesia
Na minha veia, umbilicalmente.
Ao nascer com vida, chorei e sorri
Ao respirar, já havia poesia no ar,
Convidando-me ao porvir
Já me levando a sério:
- Venha, vambora menino!
Tirando-me para a dança das horas
Num choro num grito num compasso
Ao quebrar o silêncio do ter/ser.
Ninguém me contou.
Acho que foi assim, suponho.
Num instante de dor e encanto,
Tendo em vista a régua e o prumo 
Que a vida me deu desde cedo,
Que a lida não dá de cor e salteado,
Que a vida me dita esse certo equilíbrio
Pra sentir o doce do manjar, 
O sal, a gema e o frio da dor.
Em suma, nasci detentor dessa essência,
Aquela essência tão necessária aos sentidos
Quando as palavras se respiram, fundo
Como que a oxigenar a vida,  
Num sopro de silêncio e poesia,
Iniciada antes mesmo d'eu saber
Quem era, a que vim, quem poderia ser.
Cresci, observando a poesia ao meu redor.
Em quase tudo, até nas coisas simples.
Acerca de mim, nunca fui insosso,
Carrego sempre comigo um rascunho 
Um poema inacabado, recitado antes mesmo
De encetar o bolo da festa.
Só sei de uma coisa, de que 
Não abro mão nem arredo o pé:
Enquanto existir um verso que seja
Rasgando nas minhas veias essa verve,
Enquanto eu puder fazer poesia,
Enquanto meu coração aguentar,
De nada adianta prender meus dedos
Dilacerar minhas mãos ao finito aceno,
Nem pensar em me amordaçar. Esqueça!
Pois ainda será cedo para dizer adeus,
De tal sorte que nenhum nó sufocante
Vai me fazer soltar a alma.
Estou certo disso!