Deixa estar,
Só pra ver como é que fica.
Só pra ver como é que fica.
Deixe ficar a porta aberta,
Quiçá Rosa volte de veneta,
E entre direto, emburaque
Casa a dentro, sem precisar bater.
Ela largou as chaves debaixo
Quiçá Rosa volte de veneta,
E entre direto, emburaque
Casa a dentro, sem precisar bater.
Ela largou as chaves debaixo
Do esquecido vaso
Das orquídeas secas,
Das orquídeas secas,
Esturricadas no hall de entrada.
E o tempo a correr em escalada.
Se ela voltar, não haverá tropeços,
Apesar do escuro que ali se alojou,
Após a luz cortada.
Ela conhece de cor,
Até se vendados seus olhos,
Cada vão de escada,
Cada falso degrau
Da sala de estar,
Cada compartimento,
E o tempo a correr em escalada.
Se ela voltar, não haverá tropeços,
Apesar do escuro que ali se alojou,
Após a luz cortada.
Ela conhece de cor,
Até se vendados seus olhos,
Cada vão de escada,
Cada falso degrau
Da sala de estar,
Cada compartimento,
Cada trinco de janela
Que devido ao desuso
Emperrou os ferrolhos.
Não é de se estranhar, de certo,
Pois até na água da torneira
Deu ferrugem, ficou imprópria ao uso.
O tempo range que range nas enormes portas
Feitas em madeira de demolição.
Ficaram sem lubrificar há um tempão
E as dobradiças até parece que murmuram,
Quando se abre a casa
Só pra entrar o vento,
A fim de arejar o tafetá das cortinas
E a tapeçaria pendurada na parede.
O vento espana os mofos dos retratos,
Mas as assombrações se espalham,
Estas ainda penam pelos corredores
E arranham as pastilhas de vidro encarnadas,
Quase a afogar o sol na gigantesca piscina.
Mas o sol se deixa entrar, abre as sombras
E devagarzinho se achega, manhoso,
Pega intimidade no quarto do casal,
Onde fora guardado, a sete chaves,
Aquele amor de outrora, ora adormecido
Numa gaveta de criado-mudo.
Que devido ao desuso
Emperrou os ferrolhos.
Não é de se estranhar, de certo,
Pois até na água da torneira
Deu ferrugem, ficou imprópria ao uso.
O tempo range que range nas enormes portas
Feitas em madeira de demolição.
Ficaram sem lubrificar há um tempão
E as dobradiças até parece que murmuram,
Quando se abre a casa
Só pra entrar o vento,
A fim de arejar o tafetá das cortinas
E a tapeçaria pendurada na parede.
O vento espana os mofos dos retratos,
Mas as assombrações se espalham,
Estas ainda penam pelos corredores
E arranham as pastilhas de vidro encarnadas,
Quase a afogar o sol na gigantesca piscina.
Mas o sol se deixa entrar, abre as sombras
E devagarzinho se achega, manhoso,
Pega intimidade no quarto do casal,
Onde fora guardado, a sete chaves,
Aquele amor de outrora, ora adormecido
Numa gaveta de criado-mudo.
Discutiram a relação, debateram-se.
E agora, doutor, quem é que vai cuidar da gata,
Quem vai botar ração pr'o cachorro?
Eles pediram um tempo, deram-se espaço.
Expuseram a outra face pra rua bater.
Nada adiantou. Roeram o osso, não teve outro jeito.
E agora, doutor, quem é que vai cuidar da gata,
Quem vai botar ração pr'o cachorro?
Eles pediram um tempo, deram-se espaço.
Expuseram a outra face pra rua bater.
Nada adiantou. Roeram o osso, não teve outro jeito.
Acharam-se estranhos sob o mesmo teto.
A corda corroeu. Arrebentou.
As distorções ganharam corpo, voz e musculatura
Nessa era de sensacionalismo midiático.
Circulou até em jornal a notícia
Acerca do desfazimento.
Aquele velho amor não teve mais conserto.
Mas o amor se encontrou de novo:
Só que no corpo de outra criatura, de cara nova,
E tudo ganhou um certo esplendor. Vida ávida!
O tempo no degrau andou, correu.
E, apesar do enterro de um amor,
Nenhuma lágrima sequer escorreu por ele.
O Amor continua cada vez mais vivo.
É só deixar ficar a porta aberta.
E o Amor? Não o conheces.
Ele vai, mas um dia volta,
Nem que seja de cara nova.
Só deixe ficar a porta aberta.
Nem que seja uma fresta.
Não digas nada. Ouça.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
É outra vez o amor em festa,
Que divaga, mas chega.
Tão devagar que sobe. Entra.
Não digas nada. Apenas ouça:
É com certeza alguém que saiu da fila,
Que vai arrumar suas gavetas,
Limpar a poeira, eliminar as traças;
Alguém que vai desocupar seus troços,
Alguém que vai fazer sua cabeça,
Alguém que vai chamar o chaveiro 24 horas
Para mudar o segredo da porta. Urgente,
Antes que o velho amor, num certo dia, errado
Dê na doida, dê as caras e queira fazer sarapatel
Arrancando suas tripas, figado e coração!
As distorções ganharam corpo, voz e musculatura
Nessa era de sensacionalismo midiático.
Circulou até em jornal a notícia
Acerca do desfazimento.
Aquele velho amor não teve mais conserto.
Mas o amor se encontrou de novo:
Só que no corpo de outra criatura, de cara nova,
E tudo ganhou um certo esplendor. Vida ávida!
O tempo no degrau andou, correu.
E, apesar do enterro de um amor,
Nenhuma lágrima sequer escorreu por ele.
O Amor continua cada vez mais vivo.
É só deixar ficar a porta aberta.
E o Amor? Não o conheces.
Ele vai, mas um dia volta,
Nem que seja de cara nova.
Só deixe ficar a porta aberta.
Nem que seja uma fresta.
Não digas nada. Ouça.
Não ouves o degrau?
Quem sobe agora a escada?
É outra vez o amor em festa,
Que divaga, mas chega.
Tão devagar que sobe. Entra.
Não digas nada. Apenas ouça:
É com certeza alguém que saiu da fila,
Que vai arrumar suas gavetas,
Limpar a poeira, eliminar as traças;
Alguém que vai desocupar seus troços,
Alguém que vai fazer sua cabeça,
Alguém que vai chamar o chaveiro 24 horas
Para mudar o segredo da porta. Urgente,
Antes que o velho amor, num certo dia, errado
Dê na doida, dê as caras e queira fazer sarapatel
Arrancando suas tripas, figado e coração!
Uau! Lindo post!
ResponderExcluirCom portas da vida abertas o belo fará parte do cotidiano. Se não hoje ou amanhã, ainda que de surpresa feito chuva de verão.
Olá poeta João Ludegero,
ResponderExcluirAdorei tudo aqui, a própria foto já é uma poesia que complementa a sua. Gosto de poesia ilustrada assim, dá mais gosto de ler, reler e sentir. Por sinal, linda poesia a sua. Muitas vezes a profundidade do amor vivido e dificil de ser entendido por aquele que não o o vive. Bravo! Continue com seu poder de escrever a vida em poesias.
Célia Gonçalves Moreno - UnB - Brasília-DF.
Andei 'fuçando seu site'. Que maravilha! Suas palavras têm doçura. Fazem um ninho no coração de toda a gente, conforme lemos nos coments. Muito legal, mesmo! É muita qualidade, com uma gramática respeitável, linha por linha, fio e meada. Quanta qualidade e bom gosto estão presentes em seus poéticos textos.
ResponderExcluirSuzanna Eudáilia Zumory · Portugal, WW
Lindo Poema caro João
ResponderExcluirQue vai arrumar suas gavetas,
Limpar a poeira, eliminar as traças;
De fato preciso arrumar minhas gavetas e limpar tudo e qualquer poeira que existir em mim também,acho que um dia chego lá,um dia...rs
Obrigada pela visita no meu cantinho,já estou seguindo aqui
Beijos e um ótimo dia pra ti!
Mais um lindo poema, daqueles que nos transportam, daqueles em que florescem as emoções. Um abraço.
ResponderExcluirP.S. Vai haver um concurso nacional de hai-kais em São Paulo. Você não quer participar? Se quiser mais informações eu estou por lá, pelo mundo suspenso.
Olá Ludugero, boa tarde!
ResponderExcluirGostei do teu blog e já vou ficando por aqui.
Te seguindo...
Abraço!
Então é chumbo trocado Ludgero, fica por lá que eu fico por cá.
ResponderExcluirTambém amei
beijos!
João
ResponderExcluirTeus poemas são divinos.
Ainda não pude ler todos, rsrsr. Mas assim que apreciar um por um, farei comentários logo em seguida.
Obrigada pelo selo.
Bjussss
Sil
Bom não ver aqui o teu lado de advogado:)
ResponderExcluirEstive a ver e gostei. Tens sentir e humor...
Vamos-nos dar bem:)