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quarta-feira, 23 de março de 2011

A POESIA QUE SAIU DA GAITA DE BOCA DA MENINA DOIDA














Maria Rita me enfeitiça.
Dizem que ela nunca envelhece,
Que faz caretas, estira o maior dos dedos
E até dá ares de graça aos arremedos,
Que mora no mundo da lua nova,
Que é doida de pedra, com cara de meter medo,
Que vive nas nuvens feito uma doida varrida.
Só sei que apesar das chacotas de costume,

Apesar das ofensas, do acinte e dos seixos
Que lhe são atirados, não mais revida,   
Ela não mais se prostra, ainda mais se mostra
Toda vez que sai pela tarde amena
Da minha Várzea das acácias,
De saia rodada, de tranças coloridas
Ela faz bem à minha cabeça,
Assoprando sua gaita de boca.
É o retrato da própria alegria ambulante
E a rua toda pára só pra ver Maria Rita
Levar a música aos olhos da gente.
De tanto fascínio é sua melodia

Que traz ligeiro ritmo à abundância
De tudo o que não temos. Sem exageros, 
E, num átimo de segundo,
Perfuma a alma do vilarejo,
Ao hipnotizar pelos ouvidos com aquela sinfonia.
Na calçada da igreja-matriz de São Pedro apóstolo,

O céu parece chegar mais perto, de certo,
Só por causa do vialejo daquela menina-moça,
Glamourosamente vestida de chita
De flores miúdas, tão pobrezinha,
Mas que deixa a vida do feijão com arroz
Com um gostinho de manjar dos deuses.
Tudo em razão de sua cantiga de encantar,
Que faz a própria tristeza, que era real e grande,

Desmoronar-se junto com as dores da lida,
Que parece tirá-las com a mão, sem demora,
Toda vez que se faz presente com sua gaita mágica.
E a gente só sente os pés no chão
Quando ela some a tocar levando consigo

As almas passantes além das quatro bocas da rua grande,
Dobrando a esquina da bodega de Seu Olival.
O som mágico extraído do pequeno instrumento
Deixa-me flutuar divagando livre mente em imaginações.
Eu vejo tanta poesia jorrando em música.
Sinto-me levitar, ainda entrelaçado pelo som da gaita.
Acorda, menino! Cuidado, senão essa loucura te pega,

Pode deixar-te biruta, do tipo que sai atirando pedra na lua!
O grito lúcido da vida real não me alcança.
Eu me acho longe, a viajar junto, alheiado,

Ao encontro daquele divino som que emana
Da boca da Maria Rita, a menina maluca.
E, quando acordo desse sonho, a estas alturas,
Já me pego a caminho de casa, contente da vida,
Ainda embevecido pela tocante magia do vialejo
Que ainda canta dentro do meu peito,
Como se estivesse recém-acordando num domingo

De um sonho bom, ao doce deleite, de súbito,
Que ora faz feitiço na cabeça deste poeta menino.

6 comentários:

  1. Eu sei como é ser chamada de doida por saber sorrir e viver por mim, não em função de outros!!!

    ^_^•

    Gostei muito ♥

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  2. Oi, João
    Ah! Essa Maria Rita é tudo de bom! Belo poema!
    Vim aqui correndo te visitar e vou ficando por aqui. Amei seus textos e o blog é muito gostoso! Bjs e um ótimo fds!!!!

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  3. Simplesmente um dos mais lindos textos que já li. Fiquei fascinada com a forma com que escreve. Sensacional, de um jeito que fala direto à alma da gente. Impressionante!!! Adorei seu poema e todos os outros que andei lendo aqui no seu respeitável blog. Abraço carinhoso. Eu sou "doida" por poesia e com música, ó, meu Deus! Você me fez ficar boquiaberta com tanta alegria e dinamismo ao redigir seu poema. Até logo mais. Voltarei.
    Lígia G. Salatiel de Souza - São Gabriel da Cachoeira.

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  4. Caro João Ludugero,
    O título do seu texto já soa como uma poesia.
    Sensacional! Muito bom gosto, engenhoso poema.
    Amei de paixão! Carinhosamente, Ruth Mariano.

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