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sábado, 5 de março de 2011

POESIA DA SUBSISTÊNCIA













POESIA DA SUBSISTÊNCIA
Autor: João Maria Ludugero

O sol escaldante da Várzea
Me faz rugas no rosto.
Tenho as mãos calejadas, marcadas,
Mas não desisto da lida, persisto
Apesar da aridez dos caminhos,
Apesar do estio, não me prostro. 
Sou feito aquela velha árvore do agreste
Que parece morta, de casca grossa,
De murchas folhas e secos gravetos,
Mas que se ajeita, volta a empertigar-se,
Reverdecida se mostra, se salva
Renovando-se disposta, altiva
Com as primeiras chuvas.

Quem olha minha cara, não vê por dentro, 
Não sabe de fato nem se importa, 
Com a infelicidade quando a sinto
Ou com a felicidade que me cabe.
As certezas que da vida cuidam,
As coisas que descambam e ferem,
Essas geram cicatrizes, é bem sabido,
Podem fazer perder a vaidade,
Porém, a coragem, é pedra de toque,
É força que não me poda o sonho acordado
Nem me faz retirar-se do batente.

De tal sorte, aprendo a ser deveras
Menos enganado pelo espelho à face exposta 
Ao fazer caras e bocas, estiro a língua, 
Faço caretas pra mim mesmo, tiro sarro,
Aprendo a cultivar outras belezas,
Aquelas que o vento sopra do interior
No decorrer das horas, no ajuste das catracas,
Sem perder a cabeça, o siso, o bom senso,
Sem perder o juízo, afinal, digo mais e apuro,
Ao proceder a capina da lavoura, meu sustento,
Ao preparar a Várzea para a semeadura,
Sei que posso tirar poesia até do barro,
Abrir leirões, fecundar a cultura na terra,
Sob a dança renitente das enxadas.

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