Seguidores

domingo, 6 de março de 2011

O PAPANGU












O PAPANGU
Autor: João Maria Ludugero

Ele se entregou sem bloqueio.
Caiu na colorida folia da rua.
O carnaval lhe chamou.
Não teve desculpa, aderiu
Sem protesto ao batuque
Dos tambores e das fanfarras. 
Foi fundo na euforia da vida, 
Nem careceu de pintar a cara.
Não pediu que lhe lançassem 
água de cheiro, talco ou perfume. 
Não quis a vista embaçada nem usou colírio.
Quis a alma solta em festa, liberada,
O corpo livre sem alegoria nem amarras.
Quis alegria sem máscara nem bula,
Quis sair do chão, sair fora dele
Sem barbitúricos nem anfetaminas.
Quis a combustão das coisas vãs,
Quis acreditar na graça, na utopia
Ao se mostrar sem medo, se lançou
Desnudo ao encontro da praça pública.
Incorporou o papangu que nele existia,
Recebeu de encosto o papangu
Que nele se alojou, ocupando sua mente.
Se tudo isso é o que o olho inventa
A gente pode ser o que desejar. Isto é factível.
Só tem uma ressalva: só tem que ver
Se a cabeça realmente aguenta!
Ele caiu na farra, exposto à chuva
De confete e serpentina. Foi lá em bloco
E disse a que veio, dispôs-se ao brilho,
Realçou sua fantasia e, de súbito,
Pegou o beco e sumiu na banda, de fininho
Desapareceu no ar feito perfume e purpurina,
No meio da multidão elétrica a ferver.
E ninguém mais soube do seu paradeiro,
Só ficou a marca da ilusão no meio-fio:
Uma máscara rasgada jogada ao relento,
E junto com ela, estilhaços de vidro ainda na moldura
A refletir um coração diluído no sumidouro do espelho.

4 comentários:

  1. O Carnaval como pano de fundo para pensarmos que não precisamos dele para sermos felizes!!!

    Continue a nos brindas com maravilhossos textos lúdicos e sensatos!!

    Abraços
    Zé Grasso

    ResponderExcluir
  2. Poeta João Ludugero, vc é Simplesmente fantástico! Adorei este poema e seu site está de parabéns. Muito bom!!! Abraços. Olha, fique maravilhada com a forma que nos faz pensar, a viajar nas letras. Beleza sua imaginação!
    Anaíde Lima - São Paulo/SP.

    ResponderExcluir
  3. Olá! Meu querido poeta, maravilhoso seu poema Papangu, de versos singelos, lindos e profundos. Um poema pra ler e reler admirando cada verso onde escorre sua fértil imaginação. Ele é perfeito, João. Gostei muito, viu? Vou guardar. Sua poesia me fez uma introspecção que há tempos não fazia. Levitei nas letras. Que maravilha!!! É mais uma preciosidade de sua poesia, querido.
    Adorei o prazer de mais essa leitura, viu.
    Eu já marquei seu site! Volto pra degustar mais desses lindos versos seus!
    Muitos abraços, sucesso e carinho.
    Beijusssssssssssssssssssssss!
    Lúcia Helena Tupinambá - Professora de Psicologia- UnB/Brasília-DF.

    ResponderExcluir
  4. Nossa... A beleza a sambar, liberdade agora, já!

    Lindo demais Lud...!

    ^_^•

    ResponderExcluir