Autor: João Maria Ludugero.
Que venha meu anjo com seus cântaros.
Venha me dar banho de cuia, ao ar livre
Venha me lavar com seus bálsamos a céu aberto
Venha cantar-me uma canção que toque na alma, no espírito
Venha fazer teus sinais, soprar com toda força uma música
Que possa ensolarar minhas sombras
E acalmar meus desassossegos.
Venha me levar para o paredão do açude de água verde-musgo
Do Calango quero toda brisa, ser anjo bendito
Do Calango quero todo vapor da tarde amena, acolhedor
Venha me tirar do labirinto de lembranças tantas...
Quero me aquietar no seu abraço caloroso, apertado
Mesmo que seja necessário um osso oculto
cravejado em minhas costas, que seja assim,
Mesmo que me careça uma asa calada, esvoaçante.
Reza-me em ti, aos pés de São Pedro no altar
Ornamenta-me o peito com tuas relíquias e credos
Quero teus incensos, quero me sentir a salvo
julga-me no teu passo rápido até o Cruzeiro
Amansa-me no teu colo aquecedor, dá-me paz
Faze-me sentir todo dominado, de fato.
Ilumina-me os passos e o caminhar,com devoção
Abre-me um clarão, uma clareira que seja
Prova-me o sal na pele, o suor vertente, batiza-me
0stenta-te além dos precipícios abundantes, nos lajedos
nos Seixos e descansa nas margens serenas do rio Joca.
Rasga-me o céu em arco e flecha na carne,
Mostra-me que serás flor de Maracujá na primavera,
Que serás meu solo preparado no estio à espera da chuva
Que não és fogo de coivaras ao vento,
Que tens sementes férteis guardadas a sete chaves.
E com elas teremos muito mais que mãos calejadas,
Seremos um só arado ao Vapor, um bonito campo, um roçado
Em todos os outros dias de Amor e fartura, anuncia-me.
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